Economista do PT, Marcio Pochmann já criticou o Pix, dirigiu o Ipea e tentou ser prefeito

Ala de colegas considera que o intelectual teria um perfil intervencionista demais para comandar o IBGE

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo e Rio de Janeiro

Assim que passou a ser cogitado para presidir o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Marcio Pochmann, 61, virou alvo de críticas de uma ala de colegas que considera que o economista ligado ao PT teria um perfil intervencionista demais para comandar o instituto.

Confirmado para o cargo nesta quarta-feira (26), Pochmann nasceu na cidade gaúcha de Venâncio Aires (a 129 km de Porto Alegre), formou-se pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) em 1984 e se tornou professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em 1989.

O economista Marcio Pochmann, em entrevista à Folha
O economista Marcio Pochmann, em entrevista à Folha - Eduardo Anizelli - 23.jul18/Folhapress

Nos governos petistas, dirigiu a Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade durante mandato de Marta Suplicy como prefeita em São Paulo (2001-2004).

Mais tarde, Pochmann também ocuparia a presidência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 2007 a 2012, gestão que teve registros de polêmicas, com acusações de aparelhamento político à época.

Em junho de 2012, ele deixou a presidência do instituto para concorrer pela primeira vez à Prefeitura de Campinas (SP), mas acabou derrotado nas urnas. Nas eleições daquele ano, chegou ao segundo turno, mas foi superado por Jonas Donizette (PSB).

Em 2016, o economista concorreu novamente ao cargo de prefeito da cidade, mas o forte sentimento antipetista no fim do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff não ajudaria o economista, que terminou a disputa em terceiro lugar. Dois anos mais tarde, também se candidataria, sem sucesso, ao cargo de deputado federal por São Paulo.

O pesquisador foi presidente da Fundação Perseu Abramo, ligada ao Partido dos Trabalhadores, de 2012 a 2020, e foi coordenador do programa econômico da campanha do PT à Presidência em 2018. Na ocasião, disse que o partido tinha a missão de recuperar a indústria do país em quatro anos.

Ao longo de sua carreira acadêmica, acabou dedicado à pesquisa nas áreas de economia social e do trabalho, desenvolvimento, políticas públicas e relações de trabalho.

É autor de diversos livros sobre temas econômicos, como emprego, globalização, desigualdade e desenvolvimento, inclusive já tendo recebido o Prêmio Jabuti. Em uma obra mais recente, "O Neocolonialismo à Espreita", lançada em 2021, ele avalia um possível esgotamento do modelo urbano e industrial das décadas de 1930 a 1980 e a transição para uma sociedade baseada em serviços e com menos organização coletiva.

ESCOLHA PARA O IBGE FOI ALVO DE CRÍTICAS DE OUTROS ECONOMISTAS

Anunciado nesta quarta-feira para comandar o IBGE, Pochmann vai assumir a vaga de Cimar Azeredo, que comandava interinamente o órgão após a saída de Eduardo Rios Neto e que conduziu em junho a entrega dos primeiros resultados do Censo 2022.

Um grupo de economistas que criticavam a escolha de Pochmann chegou a recuperar postagens dele no Twitter com críticas à criação do sistema de pagamentos eletrônicos Pix, por exemplo.

O economista, por outro lado, foi defendido por lideranças do PT e economistas ligados ao partido. Nas redes sociais, a presidente da legenda, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), disse nesta semana que a indicação para o IBGE era "muito bem-vinda".

"Intelectual histórico, Pochmann tem um olhar aguçado para as pesquisas na área social, é um democrata que pensa um Brasil mais justo", disse Gleisi.

O IBGE é visto como um órgão de Estado crucial para a definição de políticas públicas e a avaliação do desempenho socieconômico do Brasil.

A indicação do presidente ocorre em meio à divulgação dos primeiros resultados do Censo Demográfico, a principal pesquisa do instituto.

A contagem da população referente a 2022 foi marcada por uma série de atrasos em razão da pandemia e da restrição de verba no governo Jair Bolsonaro (PL).

Azeredo, por sua vez, é reconhecido pela trajetória dentro do IBGE. Antes de trabalhar como presidente interino, ele atuava como diretor de pesquisas. Havia expectativa de que o técnico pudesse permanecer na presidência do órgão.

Como a Folha mostrou em fevereiro, o instituto vem sendo desafiado pela perda de servidores fixos nos últimos anos.

Em dezembro de 2022, o IBGE tinha 4.009 funcionários efetivos, número 42,5% menor do que o registrado em igual mês de 2010 (6.971), segundo dados da Assibge, que representa os trabalhadores do órgão de pesquisas.

Na visão de quem acompanha o instituto, a perda de servidores foi um dos fatores que dificultaram o andamento do Censo. Para tentar atenuar esse gargalo, o governo Lula incluiu o IBGE na lista de órgãos com concursos para vagas efetivas e temporárias.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.