A direção do McDonald's no Reino Unido estabeleceu uma unidade especializada para lidar com queixas de funcionários sobre assédio sexual, agressividade e bullying, após novas denúncias sobre uma cultura de trabalho tóxica na rede de fast-food.
Alistair Macrow, executivo-chefe da divisão do McDonald's no Reino Unido e na Irlanda, disse nesta sexta-feira (21) que montou uma unidade de investigação em tempo integral até pelo menos o final do ano, com o poder de encaminhar os casos mais graves para uma equipe jurídica terceirizada.
Macrow também disse que vai contratar especialistas externos para "avaliar independentemente" os protocolos e a conscientização sobre procedimentos de proteção na rede de fast-food. Ele disse que a avaliação incluirá o feedback dos funcionários sobre os processos e se reportará diretamente a ele.
O esforço para melhorar o tratamento de reclamações e os procedimentos de proteção no McDonald's ocorre depois que uma investigação da emissora pública BBC, divulgada no início desta semana, falou com mais de cem funcionários atuais e recentes no Reino Unido que disseram que bullying, assédio e intimidação são comuns no local de trabalho.
A investigação da BBC ocorreu apenas alguns meses depois que o McDonald's assinou um acordo juridicamente vinculativo com a Comissão de Igualdade e Direitos Humanos (EHRC), órgão vigilante da igualdade social, prometendo melhorar sua cultura no local de trabalho após uma série de acusações de assédio sexual.
Em 2019, o Sindicato de Padeiros, Alimentos e Trabalhadores Aliados (BFAWU) disse ter recebido pelo menos 1.000 denúncias de mulheres supostamente assediadas por gerentes e supervisores. O McDonald's também foi abalado por acusações semelhantes de uma cultura de trabalho tóxica em seu mercado doméstico, os Estados Unidos.
O EHRC disse na sexta-feira que recebeu 150 consultas de funcionários atuais e antigos do McDonald's em sua linha direta de e-mail, criada no início desta semana. "Continuamos monitorando os compromissos juridicamente vinculativos que o McDonald's fez como parte do nosso acordo contínuo com eles", acrescentou o órgão de vigilância.
Macrow disse que as acusações feitas esta semana "são pessoal e profissionalmente chocantes". Ele acrescentou: "Gostaria de reiterar meu pedido de desculpas irrestrito e minha empatia com todos os afetados de alguma forma, e elogio sua coragem em se apresentar".
Funcionários do McDonald's no Reino Unido, alguns com apenas 17 anos, disseram à BBC que bolinação, assédio e intimidação são comuns no local de trabalho. Das mais de cem denúncias relatadas pela BBC, 31 detalharam agressão sexual, 78 relataram assédio sexual e 18, abuso racial.
Sarah Woolley, secretária geral do BFAWU, pediu que a unidade de investigação, que será composta por profissionais de RH e jurídicos do McDonald's, seja totalmente independente da rede de fast-food.
"A única maneira de haver uma mudança cultural adequada é se a unidade de tratamento de investigação for dirigida por uma organização externa. Não há confiança de que qualquer coisa executada internamente leve a mudanças depois de anos de sobreviventes sendo ignorados ou expulsos da organização", disse Woolley.
Ela acrescentou que o sindicato "ficará feliz em sentar-se com o McDonald's e discutir como podemos realmente apoiar a mudança de cultura treinando e capacitando os representantes".
Macrow acrescentou que também vai criar um painel de funcionários do restaurante para atuar como grupo consultivo para encorajar os funcionários mais jovens a se manifestarem quando surgir um problema. Quase 90% dos 1.450 restaurantes do McDonald's no Reino Unido são administrados por franqueados, e cerca de 75% de sua força de trabalho de 170 mil pessoas têm entre 18 e 25 anos.
"Vou garantir que todos não tenham dúvidas sobre minha insistência inequívoca na tolerância zero de assédio de qualquer tipo e garantir que nossa mensagem inegociável de respeito e inclusão seja ouvida claramente em toda a nossa empresa", acrescentou Macrow.
Ele disse que a companhia pretende "agir num ritmo de acordo com a gravidade dos problemas, mas também garantir que sejamos justos e precisos em nossas investigações e em quaisquer aprimoramentos resultantes".
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