O futuro das redes sociais é muito menos social

Facebook, TikTok e Twitter parecem estar cada vez mais conectando seus usuários com marcas e influenciadores

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The New York Times

Quase duas décadas atrás, o Facebook explodiu nos campi universitários como um site para os alunos conversarem. Depois vieram o Twitter, onde as pessoas postavam sobre o que comeram no café da manhã, e o Instagram, onde os amigos compartilhavam fotos para se manterem em contato.

Hoje, os feeds do Instagram e do Facebook estão cheios de anúncios e postagens patrocinadas. O TikTok e o Snapchat estão repletos de vídeos de influenciadores que promovem sabonetes e aplicativos de namoro. E em breve as postagens do Twitter que terão maior visibilidade virão principalmente de assinantes que pagam pela exposição e outras vantagens.

Logotipos das Redes sociais
Redes sociais - Pixabay

As redes sociais estão, de muitas maneiras, se tornando menos sociais. Os tipos de postagens em que as pessoas atualizam amigos e familiares sobre suas vidas tornaram-se mais difíceis de ver com o passar dos anos, à medida que os maiores sites se tornaram cada vez mais "corporativos". Em vez de ver mensagens e fotos de amigos e parentes sobre suas férias ou jantares chiques, os usuários do Instagram, Facebook, TikTok, Twitter e Snapchat agora costumam ver conteúdo profissionalizado de marcas, influenciadores e outros que pagam pela veiculação.

A mudança tem implicações para as grandes empresas de redes sociais e para como as pessoas interagem umas com as outras digitalmente. Mas também levanta questões sobre uma ideia central: a plataforma online. Durante anos, a ideia de uma plataforma –um site plurivalente voltado para o público, onde as pessoas passariam a maior parte do tempo– reinou com supremacia. Mas enquanto as grandes redes sociais adotaram como prioridade a conexão de pessoas com marcas, em vez de conectá-las a outras pessoas, alguns usuários começaram a procurar sites e aplicativos voltados para a comunidade, dedicados a hobbies e temas específicos.

"As plataformas como as conhecíamos acabaram", disse Zizi Papacharissi, professora de comunicação da Universidade de Illinois-Chicago, que leciona sobre redes sociais. "Elas viveram além de sua utilidade."

A mudança ajuda a explicar por que algumas empresas de redes sociais, que continuam a ter bilhões de usuários e faturar bilhões de dólares, agora estão explorando novas vias de negócios. O Twitter, pertencente a Elon Musk, tem pressionado pessoas e marcas a pagar de US$ 8 a US$ 1.000 por mês para se tornarem assinantes. A Meta, empresa controladora do Facebook e do Instagram, está entrando no mundo online imersivo do chamado metaverso.

Para os usuários, isso significa que, em vez de gastar todo o tempo em uma ou algumas grandes redes sociais, alguns estão gravitando em direção a sites menores e mais focados. Isso inclui o Mastodon, que é essencialmente um clone do Twitter dividido em comunidades; o Nextdoor, rede social para vizinhos lamentarem sobre questões cotidianas como buracos nas ruas; e aplicativos como Truth Social, que foi iniciado pelo ex-presidente Donald Trump e é visto como uma rede social para conservadores.

"Não se trata de escolher uma rede para governar todas –essa é a lógica maluca do Vale do Silício", disse Ethan Zuckerman, professor de políticas públicas da Universidade de Massachusetts Amherst. "O futuro é você ser membro de dezenas de comunidades diferentes, porque, como seres humanos, é assim que somos."

O Twitter, que responde automaticamente às perguntas da imprensa com um emoji de cocô, não fez nenhum comentário sobre a evolução das redes sociais. A Meta se recusou a comentar e o TikTok não respondeu a um pedido de comentário. A Snap, criadora do Snapchat, disse que, embora seu aplicativo tenha evoluído, conectar as pessoas com seus amigos e familiares continua sendo sua função principal.

Uma mudança para redes menores e mais focadas foi prevista anos atrás por alguns dos maiores nomes das redes sociais, incluindo Mark Zuckerberg, executivo-chefe da Meta, e Jack Dorsey, fundador do Twitter.

Em 2019, Zuckerberg escreveu em um post no Facebook que mensagens privadas e pequenos grupos eram as áreas de comunicação online que mais cresciam. Dorsey, que deixou o cargo de executivo-chefe do Twitter em 2021, promoveu as chamadas redes sociais descentralizadas, que dão às pessoas controle sobre o conteúdo que veem e as comunidades com as quais se envolvem. Recentemente, ele postou no Nostr, site de rede social baseado nesse princípio.

A parte complicada para os usuários é encontrar as redes pequenas e mais novas, porque são obscuras. Mas redes sociais mais amplas, como Mastodon ou Reddit, muitas vezes atuam como portas de entrada para comunidades menores. Ao se inscrever no Mastodon, por exemplo, as pessoas podem escolher um servidor de uma extensa lista, incluindo os relacionados a jogos, alimentação e ativismo.

Eugen Rochko, executivo-chefe do Mastodon, disse que os usuários publicam mais de 1 bilhão de postagens por mês em suas comunidades e que não há algoritmos ou anúncios alterando os feeds pessoais.

Um grande benefício das pequenas redes é que elas criam fóruns para comunidades específicas, incluindo pessoas marginalizadas. Ahwaa, fundada em 2011, é uma rede social para membros da comunidade LGBTQ em países ao redor do Golfo Pérsico, onde ser gay é considerado ilegal. Outras redes pequenas, como Letterboxd, um aplicativo para entusiastas de cinema compartilharem suas opiniões sobre filmes, são focadas em interesses especiais.

Comunidades menores também podem aliviar um pouco a pressão social do uso de redes sociais, especialmente para os mais jovens. Na última década, surgiram histórias –inclusive em audiências no Congresso americano sobre os perigos das redes sociais– sobre adolescentes desenvolverem distúrbios alimentares depois de tentar viver de acordo com as fotos "perfeitas do Instagram" e assistirem a vídeos no TikTok.

A ideia de que um novo site de rede social pode vir a ser o único aplicativo para todos parece irreal, dizem especialistas. Quando os jovens terminam de experimentar uma nova rede –como o BeReal, aplicativo de compartilhamento de fotos que foi popular entre os adolescentes no ano passado, mas agora está perdendo milhões de usuários ativos–, eles passam para a próxima.

"Eles não serão capturados pela primeira plataforma reluzente que aparecer", disse Papacharissi.

As identidades online das pessoas se tornarão cada vez mais fragmentadas entre vários sites, acrescentou ela. Para falar sobre realizações profissionais, existe o LinkedIn. Para jogar videogame com outros jogadores, há o Discord. Para discutir notícias, o Artifact.

"O que nos interessa são grupos menores de pessoas que se comunicam entre si sobre coisas específicas", disse Papacharissi.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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