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Presença de robôs agrícolas vai crescer enquanto sobem os custos da mão de obra

Humanos custavam menos e eram muito mais hábeis que os robôs, mas isso está mudando

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Sarah Murray
Financial Times

As máquinas deles se parecem mais com minibrinquedos voadores que com ferramentas agrícolas autônomas, mas pesquisadores do Instituto Wyss, da Universidade Harvard, acreditam que suas RoboBees (abelhas robôs) –capazes de decolar verticalmente, sobrevoar e orientar-se— poderão com o tempo realizar tarefas como polinização de plantações e monitoramento ambiental.

Por enquanto as RoboBees ainda não foram usadas fora do laboratório, e sua comercialização ainda é uma perspectiva distante. No entanto, avanços da tecnologia somados à escassez de mão de obra estão viabilizando economicamente o uso agrícola de mais robôs.

"A opção mais fácil tem sido usar os robôs em politúneis e estufas, onde não são atingidos por lama ou chuva", fala Belinda Clarke, diretora da organização Agri-TechE, que apoia a inovação nas tecnologias agrícolas. "Porém, agora eles estão saindo para o campo."

Vulcan, tecnologia da empresa  americana de tecnologia agrícola e robótica FarmWise , com sede na Califórnia.
Vulcan, tecnologia da empresa americana de tecnologia agrícola e robótica FarmWise, com sede na Califórnia - FarmWise no LinkedIn

As capacidades crescentes dos robôs estão possibilitando uma abordagem mais pontual, adaptada para cada variedade, que pode minimizar o uso de insumos como água e agrotóxicos.

Por exemplo, a FarmWise, sediada na Califórnia, criou um robô para arrancar ervas daninhas. Ele usa visão computadorizada e inteligência artificial para distinguir ervas daninhas das plantas cultivadas, reduzindo os custos de mão de obra e permitindo que os produtores usem menos herbicidas.

Até recentemente o setor agrícola relutava em adotar robôs. Devido aos altos níveis de investimento de capital necessários e ao uso sazonal limitado, era difícil para as máquinas gerarem valor.

"Robôs agrícolas não têm sido um grande investimento até agora", comentou Adam Anders, sócio gerente da Anterra Capital, firma de capital de investimentos no setor alimentício e agrícola.

Porém, isso está mudando, segundo ele. Nas economias maduras, as restrições à mão de obra migrante, o envelhecimento dos trabalhadores agrícolas e o desinteresse por trabalho cansativo e sujo fazem com que trabalhadores agrícolas custem mais e sejam mais difíceis de encontrar.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o salário horário de trabalhadores agrícolas subiu 28% entre 2000 e 2022, já contabilizada a inflação, sendo que o de trabalhadores não agrícolas subiu 17%, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA.

Pelo fato de tecnologias como visão computadorizada e aprendizagem de máquina capacitarem robôs a identificar objetos e reagir apropriadamente a eles, algumas máquinas já conseguem arrancar ervas daninhas e colher frutas e vegetais com rapidez, precisão e confiabilidade antes limitada a trabalhadores humanos.

A robótica dita "soft", envolvendo copos de borracha ou saquinhos pequenos, pode pegar e colher suavemente hortifrútis mais delicados e de valor alto, como pêssegos e framboesas, sem danificá-los.

Tjarko Leifer, executivo-chefe da FarmWise, prevê uma nova onda de automação agrícola alimentada por robôs. "Os computadores já conseguem enxergar e possuem a destreza necessária para realizar algumas das tarefas humanas", ele diz.

É possível que também haja vantagens em termos de sustentabilidade. Drones e robôs nos campos podem empregar sensores inteligentes e visão computadorizada para colher e transmitir dados e imagens em tempo real sobre tudo desde as condições meteorológicas e do solo até os índices de crescimento das plantas.

A aplicação de aprendizagem de máquina a volumes tão grandes de dados também pode gerar novos insights sobre como e onde cultivar variedades.

Ao rastrear como as plantas em diferentes partes de um campo reagem a insumos como água e agrotóxicos, os robôs podem ajudar os produtores a minimizar o uso desses insumos.

Isso eleva a produção agrícola de precisão para outro nível, diz Anders. "Em lugar de aplicar fertilizante ou pesticida à plantação inteira, você pode aplicar menos, e com mais precisão."

Outra vantagem da próxima geração de robôs é que são menores que as máquinas agrícolas tradicionais, como tratores e colhedeiras.

"Queremos que esses bichinhos sejam leves e ágeis", explica Clarke. "Algo movido por uma bateria recarregável pode ser alimentado por energia solar, abrindo uma nova oportunidade para usar robôs de modo sustentável."

O fato de ser mais leves significa que as máquinas não compactam o solo tanto quanto se deslocam sobre ele. A compactação dificulta o acesso das plantas a nutrientes e a retenção de água pelo solo. "Queremos que o solo funcione como uma esponja, para que a água esteja presente quando a plantação precisa dela", diz Clarke.

Porém, embora estejam ficando mais economicamente viáveis nos mercados maduros, poucos produtores em países em desenvolvimento podem arcar com o custo de robôs. "Essas coisas terão que ser comercializadas sobretudo nos mercados desenvolvidos", diz Anders.

Outro obstáculo à adoção ampla dos robôs agrícolas é a regulamentação.

"Se estamos falando em coisas que operam de modo inteiramente autônomo em uma fazenda ou no céu, fora de nosso alcance visual, ainda haverá incertezas", destaca Anders. "Nos EUA os drones não podem por lei operar fora de nosso alcance visual. Isso mais ou menos inviabiliza sua utilização em grande escala."

Contudo, ele acredita que isso provavelmente vai mudar, na medida em que os governos procuram aumentar a segurança alimentar e a sustentabilidade da agricultura e também que as máquinas autônomas ficarem mais inteligentes e as pessoas se acostumarem com sua presença.

Leifer crê que o sucesso da robótica no avanço da agricultura de precisão vai acelerar sua adoção. "Podemos aplicar os nutrientes corretos e a química protetora correta e adaptá-los a cada planta individual", ele diz. "Com isso vamos beneficiar o produtor, o consumidor e o meio ambiente."

Tradução de Clara Allain

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