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Remover conteúdo jornalístico faz Google perder usuários e engajamento, diz estudo

Pesquisa também calculou o valor que as notícias agregam à plataforma na Suíça, e a remuneração adequada a veículos

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Joanesburgo (África do Sul)

O Google perderá usuários e engajamento se remover conteúdo noticioso do mecanismo de buscas, indica publicação apresentada durante a conferência Big Tech e Jornalismo, realizada em Joanesburgo, na África do Sul.

O estudo entrevistou 1.573 pessoas na Suíça entre os dias 26 de janeiro e 8 de fevereiro deste ano. Segundo o trabalho, a eficiência do Google em responder a perguntas cai com a ausência de conteúdo noticioso, o que causa frustração nos internautas. Isso leva os usuários a se informarem diretamente por sites de mídia.

Logo do Google - Andrew Kelly - 17.nov.2021/Reuters

Os entrevistados usaram o mecanismo de buscas do Google em duas versões –com e sem links para conteúdo jornalístico. Em 70% dos casos, eles preferiram o buscador que trazia resultados que incluíam links ou títulos de veículos de mídia.

O levantamento também mediu a satisfação em relação aos resultados da busca com e sem notícias. Dos usuários que usaram a versão incluindo conteúdo da mídia, 73% disseram que sua busca apresentou resultado satisfatório, enquanto 67% dos entrevistados da versão sem mídia disseram o mesmo.

Segundo o levantamento, a remoção de notícias da plataforma afeta o Google também em prazo mais longo. Sem conteúdo jornalístico, 8% das pessoas deixam de buscar informação na plataforma e a maioria vai direto para sites de veículos de mídia.

"A integração de conteúdo noticioso nos resultados da busca torna a experiência do usuário mais positiva e intensifica o uso do Google. E a probabilidade de se usar o Google cai quando se remove todo o conteúdo jornalístico da plataforma", diz o estudo.

A pesquisa da consultoria FehrAdvice & Partners AG, supervisionada pelo economista Ernst Fehr, professor da Universidade de Zurique, foi encomendada pela Associação Suíça de Publishers para embasar a discussão sobre pagamento de conteúdo noticioso pelas big tech.

A Suíça debate legislação semelhante à da União Europeia, que adotou em 2019 a diretiva de copyright do mercado único digital. A lei prevê que os mecanismos de busca paguem direitos autorais aos veículos quando usarem trechos de conteúdo (não há pagamento por links ou trechos muito curtos).

O estudo sobre a Suíça usa um modelo econômico para quantificar o valor que o conteúdo jornalístico agrega para o mecanismo de busca do Google –e qual seria uma remuneração adequada aos veículos de mídia.

Segundo o levantamento, o Google fatura cerca de 550 milhões de francos suíços (US$ 640 milhões ou R$ 3 bilhões) com anúncios no mecanismo de buscas por ano, especificamente nas buscas de informação, que são cerca de 55% do total —as restantes são buscas de transações, como compras de produtos, ou de navegação, endereços de sites.

De acordo com o levantamento, como 70% das pessoas que procuram uma informação no buscador fazem questão de ter resultados que incluam conteúdo jornalístico, o estudo conclui que 385 milhões de francos suíços (US$ 448 milhões ou R$ 2,1 bilhões) do faturamento com anúncios são diretamente beneficiados pelo conteúdo noticioso. Usando a proporção padrão de cerca de 40% para o site que veicula o anúncio, isso significaria um pagamento de 154 milhões de francos suíços (US$ 179 milhões ou R$ 859 milhões) por ano para os veículos de mídia.

Os resultados se chocam com os argumentos do Google. A plataforma afirma que o conteúdo jornalístico não contribui de forma relevante para seu faturamento. A empresa diz que gera tráfego para as publicações, aumentando a receita dos veículos. Publicação no blog do Google afirma que as buscas ligadas a notícias correspondem a menos de 2% do total globalmente.

A big tech se opõe à legislação em discussão no mundo, incluindo no Brasil, para remuneração de conteúdo jornalístico.

Recentemente, o Google anunciou que vai bloquear todos os links para notícias no Canadá quando a legislação local de remuneração de jornalismo, aprovada em junho, entrar em vigor. A lei é semelhante ao Código de Barganha Australiano, que entrou em vigor em março de 2021. O modelo determina que veículos negociem de forma individual ou coletiva (para aumentar o poder de barganha) com as plataformas o pagamento pelo conteúdo jornalístico. Caso não cheguem a um acordo, está prevista a arbitragem.

Segundo Alexis Johann, um dos autores do estudo, o cálculo do valor justo de remuneração dos veículos de mídia se refere à Suíça, mas pode ser feito em outros países usando os mesmos princípios.

"O estudo mostra que as pessoas gostam muito de ter conteúdo noticioso no sistema de buscas do Google, que o conteúdo jornalístico é visto de forma muito positiva pelos consumidores, e isso ajuda a criar um ecossistema de mídia lucrativo. Então todos que colaboram para esse ecossistema lucrativo deveriam ser remunerados de forma justa", disse à Folha Johann, que é diretor-gerente da FehrAdvice, consultoria especializada em economia comportamental.

O levantamento também mostra que a maioria dos usuários do Google (em média 53%), quando fazem buscas de informação, ficam na plataforma e não clicam em links que levam a sites jornalísticos ou de mídia.

Isso vai contra os argumentos da big tech de que a plataforma, na realidade, direciona grande parte do tráfego para sites noticiosos, e, consequentemente, contribui de forma significativa para a audiência (e faturamento com anúncios) desse veículos.

"A divisão do tráfego online favorece o Google; ou seja, a mídia fornece conteúdo que melhora a experiência dos usuários do Google, mas, na maioria dos casos, não tem ganho comercial com isso", diz o estudo.

A jornalista viajou a convite da Universidade de Pretória

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