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A mulher que fingia ser rapper enquanto tentava lavar R$ 21 bilhões em bitcoins roubados

Heather Morgan fazia músicas se gabando por ser uma máquina de fazer dinheiro, mas a fortuna vinha de um ataque hacker

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Joe Tidy
BBC News Brasil

Um casal de cibercriminosos se declarou culpado por tentar lavar US$ 4,5 bilhões (R$ 21,8 bilhões) em bitcoins roubados num ataque hacker em 2016.

Heather Morgan e seu marido, Ilya Lichtenstein, foram presos em 2022, em Nova York, após a investigação policial rastrear a fortuna bilionária dos dois até o roubo das criptomoedas.

Como parte do acordo judicial, Lichtenstein, que é programador, confessou que estava por trás do ataque hacker, e Morgan também se declarou culpada de uma acusação adicional de conspirar contra os Estados Unidos.

Enquanto a dupla não era descoberta, Morgan se passava por rapper e empresária da área de tecnologia.

Heather Morgan postava vídeos cantando rap sob o nome artístico de Razzlekhan - BBC News Brasil

Mesmo tentando encobrir os seus crimes, ela postava dezenas de clipes com músicas de rap cheias de palavrões, filmados em locais nos arredores de Nova York, sob o nome artístico de Razzlekhan.

Nas letras, a "rapper" se gabava por ser uma "durona que faz muito dinheiro" e a "crocodilo de Wall Street".

Em artigos publicados na revista Forbes, Morgan ainda se vendia como uma bem-sucedida empresária da tecnologia, se classificando como "economista, empreendedora em série, investidora na área de softwares e rapper".

Mas, enquanto desenvolvia essa "persona" como música e empresária, ela e o marido estavam tentando lavar o dinheiro que haviam conseguido com o ataque hacker contra a Bitfinex, uma plataforma de criptomoedas.

Agora, o casal vai cumprir penas de prisão, com Lichtenstein podendo pegar até 20 anos de reclusão, e Morgan, até 10 anos.

Na época da prisão, em fevereiro de 2022, o montante de 119 mil bitcoins do casal estava avaliado em US$ 4,5 bilhões —tornando-se a maior apreensão de criptomoedas já realizada por autoridades americanas e a maior apreensão financeira única na história do Departamento de Justiça dos EUA.

Quando o roubo ocorreu, em 2016, os bitcoins valiam cerca de US$ 71 milhões (R$ 344 milhões).

Print de artigo de Heather Morgan na Forbes, com o título "Teve burnout? Esta CEO acha que você devia fazer rap"; Heather Morgan publicava artigos na revista Forbes como uma empreendedora na área de tecnologia - BBC News Brasil

Esquema criminoso

Documentos apresentados no tribunal mostram detalhadamente como o casal transformou os milhões de dólares em bitcoins da Bitfinex em dinheiro tradicional, usando técnicas sofisticadas para tentar evitar detecção.

Um dos principais deslizes do casal, segundo a polícia, foi realizar compras com cupons de supermercado da Walmart pagos com os recursos roubados.

"A polícia conseguiu ligar os vouchers da Walmart à parte do dinheiro roubado no ataque hacker contra a Bitfinex, o que levou ao avanço da investigação", disse Jonathan Levin, fundador da Chainalysis, empresa de investigação de criptomoedas que esteve envolvida na descoberta.

"Comprar cartões-presente e movimentar o dinheiro entre diferentes corretoras e diferentes criptomoedas nunca criou realmente a quebra de rastreabilidade que o casal desejava," completou.

Quando a polícia fez a operação no apartamento do casal em Manhattan, Nova York, foram encontrados livros ocos feitos para esconder celulares. Também descobriram dezenas de aparelhos celulares descartáveis, diversos pen drives e US$ 40 mil em dinheiro.

Casal tentava esconder celulares dentro de livros, no apartamento em Nova York - Departamento de Justiça dos EUA

Os investigadores conseguiram decifrar uma planilha detalhada que descrevia minuciosamente os métodos do casal para lavar o dinheiro, o que permitiu recuperar quase todo o montante roubado.

Em documentos do tribunal, os promotores afirmam que encontraram registros de comunicação que indicam que Morgan e Lichtenstein planejavam fugir para a Rússia —país natal dele.

Se tivessem conseguido, eles provavelmente viveriam uma vida de bilionários, bem longe de serem presos nos EUA.

Quando o roubo ocorreu, os clientes da Bitfinex sofreram um "corte" forçado, perdendo 36% de seus ativos mantidos na corretora de criptomoedas. Depois, eles foram reembolsados.

Agora, a empresa, que tem sede em Hong Kong, e alguns clientes que trocaram na época suas perdas por ações da Bitfinex estão prestes a receber a recompensa, assim que os bitcoins recuperados forem devolvidos.

Este texto foi publicado originalmente aqui.

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