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Barreira é bastante alta para BC aumentar ritmo de cortes de juros, diz Campos Neto

Presidente da instituição reafirmou estratégia de reduções de 0,5 ponto percentual na taxa Selic

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira (17) que a barreira para intensificar os cortes de juros é elevada e reafirmou a estratégia de reduções de 0,5 ponto percentual na taxa básica (Selic) nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária).

"A barra para aumentar o ritmo é bastante alta, a gente enxerga um ciclo em que o ritmo de 0,5 ponto percentual é apropriado", afirmou Campos Neto, em entrevista ao site Poder360.

"Estamos olhando as expectativas de inflação, a dinâmica de inflação corrente, o hiato [do produto], que é capacidade de o país crescer sem gerar inflação. Estamos dizendo que a barra é alta para mudar esse ritmo de 0,5 ponto tanto para cima quanto para baixo", acrescentou.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante coletiva de imprensa na sede da instituição em Brasília - Pedro Ladeira - 29.jun.2023/Folhapress

A fala veio alinhada com o discurso da diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC, Fernanda Guardado. Na terça-feira (15), ela disse que as surpresas teriam de ser "muito substanciais" para justificar uma mudança em relação ao plano de voo que foi antecipado.

No início de agosto, o Copom anunciou o primeiro corte de juros no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com a redução da Selic em 0,5 ponto percentual —de 13,75% para 13,25% ao ano.

O tamanho do afrouxamento gerou divergências e o placar final ficou apertado (5 a 4). Os membros do comitê, contudo, foram unânimes em antever novas quedas de 0,5 ponto nas próximas reuniões.

Na ata da última reunião, o colegiado do BC disse julgar como "pouco provável" uma intensificação adicional de flexibilização da Selic.

Para reconsiderar essa posição, a autoridade monetária citou a necessidade de uma "alteração significativa dos fundamentos da dinâmica da inflação" e colocou algumas condições.

Entre elas, mencionou uma melhora "bem mais sólida" das expectativas de inflação, uma abertura "contundente" do hiato do produto ou uma dinâmica "substancialmente mais benigna" do que a esperada da inflação de serviços. O hiato do produto é uma variável que mede o grau de ociosidade da economia pela diferença entre o crescimento potencial e o efetivo da atividade.

Devido ao alto patamar de juros no país, o BC se tornou alvo de ataques por parte do governo Lula. Para Campos Neto, a autoridade monetária está passando pelo seu "primeiro grande teste" de autonomia, aprovada em 2021, em um país onde o ambiente é polarizado.

"A gente está em um processo que vai trocando dois diretores ao ano, vai incorporando diretores novos que, às vezes, têm vertentes de pensamentos novos", disse. "Nesse processo de amadurecimento, temos aprendido muito na parte de como fazer os debates, na parte de comunicação."

Os primeiros diretores do BC indicados pelo governo Lula são Gabriel Galípolo (Política Monetária), ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, e Ailton Aquino (Fiscalização).

A lei de autonomia estabelece mandatos fixos de quatro anos ao presidente e aos diretores do BC, não coincidentes com o do presidente da República, com a possibilidade de uma recondução ao cargo.

O chefe da autarquia afirmou também na entrevista que, em meio às críticas, não pensou em deixar o comando da instituição. Com mandato válido até 31 de dezembro de 2024, Campos Neto negou ter pretensão político-partidária no futuro.

O presidente do BC disse estar aberto para conversar com Lula. Segundo ele, houve até hoje apenas um encontro presencial com o chefe do Executivo, pouco antes do início do terceiro mandato do petista, e seu diálogo com o governo vem sendo intermediado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) e por outros membros do primeiro escalão da atual administração.

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