Diretor-geral do ONS diz que não há como culpar fontes de energia ou agentes por apagão

Segundo Ciocchi, equipamentos não apresentaram o desempenho exigido para funcionamento em 15 de agosto

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Letícia Fucuchima
Reuters

O diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Luiz Carlos Ciocchi, afirmou que não é possível culpar fontes de energia ou geradores pelo apagão ocorrido no dia 15 de agosto.

A declaração de Ciocchi foi dada durante audiência conjunta nas comissões de Minas e Energia e de Fiscalização Financeira e Controle, da Câmara, nesta terça-feira (29), sobre o blecaute.

"Não há como atribuir culpas a fontes ou agentes", disse o diretor-geral do ONS. "Eu afirmo aqui, perante a todos os senhores, que o crescimento de energia eólica e solar não é problema nem no Brasil nem no mundo", disse Ciocchi.

Linhas de transmissão em campo de grama
Linhas de transmissão de energia em fazenda de café em Santo Antônio do Jardim - Paulo Whitaker/Reuters

Essas fontes de energia renovável —como sol e vento— são, de acordo com ele, "uma grande vantagem competitiva que o Brasil tem e deve aproveitar", referindo-se ao potencial no Nordeste brasileiro e no norte de Minas.

Segundo Ciocchi, umas das hipóteses para o apagão é uma possível incompatibilidade entre os dados dos reguladores de tensão de usinas do Nordeste e os resultados de simulações que reproduziram os eventos.

Nesta segunda-feira (28), reportagem da Folha, com base em informe do ONS publicado na noite de sexta-feira (25), mostrou que essa inconsistência pode ser uma das causas do apagão.

Na nota, o operador havia apontado que, além da falha em uma linha de transmissão da Chesf no Ceará, os reguladores de tensão de parques de geração próximos à linha não funcionaram conforme esperado.

"Nas simulações realizadas pelo operador com os parâmetros enviados pelos agentes na entrada em operação das usinas geradoras, os quais compõe a base de dados oficial do ONS, não foi possível reproduzir a perturbação ocorrida no dia 15 de agosto", destacou o ONS no texto.

"Em todos os testes realizados com esses dados não foi observada redução de tensão que viole os procedimentos de rede, como a que ocorreu após o desligamento da LT 500 kV Quixadá – Fortaleza 2", disse o operador, no informe de sexta.

De acordo com a nota do ONS, publicada após a primeira reunião com mais de mil profissionais das áreas técnicas das empresas envolvidas no apagão, há "sinais de que o desempenho dos equipamentos informado pelos agentes ao ONS antes da ocorrência é diferente do desempenho apresentado em campo".

Na Câmara, porém, Ciocchi afirmou que não houve "falha de informações" prestadas por agentes sobre o desempenho técnico de equipamentos que teriam contribuído para o apagão. Segundo ele, o que ocorreu foi que, quando entraram em funcionamento, os equipamentos não apresentaram o desempenho exigido.

"Não é que eles nos informaram errado, é que na realidade as coisas estão acontecendo de forma diferente. Há que avaliar, são diferentes fornecedores, diferentes fabricantes, diferentes localizações, diferentes configurações desses equipamentos", disse ele.

No dia 15, houve perda de mais de 22 GW (gigawatts), afetando o fornecimento de energia elétrica em praticamente todo o país. A imprecisão teria comprometido o planejamento e a operação do sistema, algo que é feito diariamente com base nesses dados enviados por empresas.

O ONS não especificou quais empresas e fontes —hidrelétricas, térmicas, eólicas ou solares— teriam fornecido dados que não bateram e reafirmou que, por causa da complexidade do evento, permanece aprofundando as análises.

Desde o apagão, no entanto, o ONS já alterou a operação, utilizando mais hidrelétricas para dar mais estabilidade ao sistema e reduzindo eólicas e solares.

Também presente na reunião com deputados, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, voltou a dizer que o apagão não está relacionado a um problema de falta de suprimento de energia.

"Nós sabemos e vamos impedir novos apagões no Brasil por falta de planejamento. Nós não deixaremos que o Brasil chegue ao ponto que chegou há dois anos", afirmou o ministro, ao comentar sobre a crise hídrica de 2021 que prejudicou a geração hidrelétrica e trouxe riscos de racionamento ao país.

Silveira afirmou ainda aos deputados que o governo vai enviar um projeto para "mexer com as bases" do setor elétrico, em referência à proposta de um novo marco regulatório para reduzir o ônus ao consumidor de energia do mercado regulado.

Ele não comentou, porém, sobre prazos para encaminhamento do projeto pelo governo.

Apagão atingiu 25 estados e o DF

O apagão ocorrido no dia 15 de agosto afetou o fornecimento de luz em estados de todas as regiões do país, incluindo o Distrito Federal. O apagão interrompeu o fornecimento de 18,9 mil MW de carga, segundo o ONS. O sistema foi reestabelecido cerca de seis horas após a falha, de acordo com o Ministério de Minas e Energia.

A Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica) confirmou que 25 estados e o Distrito Federal foram afetados, com base em notificações de filiados. A exceção foi Roraima, que não está no SIN (Sistema de Integração Nacional). A situação atingiu entre 27 milhões e 29 milhões de unidades consumidoras.

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