Indústria de produtos sexuais ganha força com abordagem feminina

Estudo de consultoria estima que mercado deve movimentar US$ 27 bilhões em 2026

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Véronique Dupont
Londres | AFP

De cremes a óleos que prometem o sétimo céu a vibradores multissensoriais e lingerie erótica: o mercado de produtos sexuais expandiu-se fortemente nos últimos anos, com uma abordagem voltada para as mulheres.

O valor global desta indústria situou-se em cerca de US$ 19 bilhões em 2021 (R$ 106 bilhões na cotação da época), com os Estados Unidos na liderança (US$ 4,4 bilhões ou R$ 24,5 bilhões na mesma cotação), segundo um estudo da consultora PwC. A previsão é que cresça até atingir US$ 27 bilhões em 2026 (R$ 135 bilhões).

Mulher segura uma lingerie e observa outros modelos em loja em Paris, na França
Mercado de produtos sexuais movimenta quase US$ 20 bilhões por ano, diz consultoria - Bertrand Guay/AFP

A indústria se reposicionou rumo ao "bem-estar sexual", com designs mais lúdicos e refinados e embalagens mais discretas, o que tem ajudado a seduzir o público feminino, que antes relutava em produtos com conotações mais explícitas.

Embora esta mudança tenha começado na década de 1970, quando o movimento feminista procurava a emancipação das mulheres e da sua sexualidade, acelerou na virada do século.

"Lembro de ir ao grande mercado atacadista de brinquedos sexuais", diz Ky Hoyle, fundadora da "Sh! Women's Erotic Emporium", no leste de Londres.

"No início, pertencia aos magnatas da pornografia", explica à AFP. "Esses mesmos barões da pornografia perceberam que havia um mercado e vieram até nós para perguntar o que poderiam fazer para serem mais amigáveis às mulheres", acrescenta ela.

Os fabricantes passaram a fabricar produtos voltados para o público feminino, com tons pastéis mais sóbrios e embalagens menos chamativas.

A influência de "Sex and The City"

A sexualidade feminina começou a ganhar mais atenção na mídia. Séries como "Sex and the City" (Sexo e a Cidade) ajudaram a tirar os brinquedos adultos do armário. Em um episódio, Charlotte (Kristin Davis), a mais discreta das quatro protagonistas femininas, fica obcecada por seu vibrador.

Atriz Kristin Davis está agachada em cena do filme "Sex and the City"
Kristin Davis em cena do filme "Sex and the City" - Divulgação

Mais tarde, o sucesso mundial de "Cinquenta Tons de Cinza", adaptação cinematográfica da popular saga de romances eróticos sobre a relação sadomasoquista de uma jovem com um milionário, também quebrou muitos tabus.

O enorme interesse pelo filme "desencadeou uma mudança na indústria e fez com que mais pessoas se abrissem sobre os seus desejos", diz Lucy Litwack, CEO e proprietária da marca de lingerie erótica "Coco de Mer".

"Vimos pessoas entrando em nossas lojas em busca de acessórios e brinquedos BDSM (práticas sexuais e de fetiches, que vem das siglas de Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo)", explica.

Sua empresa vende algemas, chicotes, cordas e outros itens a preços elevados.

Em Hollywood, a estrela de cinema Gwyneth Paltrow tornou-se conhecida como pioneira do bem-estar sexual, vendendo itens como vibradores e anéis para homens ou óleos e lubrificantes em frascos dourados e nomes líricos como "viva la vulva".

Ela não é a única celebridade a colocar seu nome em dispositivos sensuais. A cantora britânica Lily Allen também fez isso.

Crescimento com a pandemia

Na França, a estilista feminista Sonia Rykiel começou a vender vibradores e outros acessórios em 2002, em sua refinada loja no bairro parisiense de Saint-Germain-des-Prés, na margem esquerda do Sena.

Sua filha e diretora artística da marca, Nathalie, diz que a intenção na época era uma abordagem do prazer "livre de culpa".

Duas décadas depois, a pandemia do coronavírus gerou um forte salto nas vendas, algo também relatado por outras empresas do setor.

"Vimos um grande aumento na venda de brinquedos sexuais para pessoas solteiras, mas também para casais que queriam experimentá-los e tinham muito tempo a perder durante os confinamentos", diz Litwack.

"A questão começou a se normalizar muito mais. Uma coisa positiva que saiu da Covid-19 é que ela colocou o autocuidado no topo da nossa lista de prioridades", argumenta.

Os brinquedos sexuais representam agora um quarto das vendas da Coco de Mer.

A indústria, que crescia 5% antes da Covid, expandiu 50% entre 2019 e 2021, segundo a consultora PwC, que prevê um aumento anual de 7% até 2026.

A empresa explica que os consumidores nos Estados Unidos, Reino Unido e França têm em média quase quatro brinquedos sexuais.

Atribui essa tendência ao relaxamento dos tabus sociais, mas também ao fato de o bem-estar sexual ser considerado "cada vez mais importante".

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