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Microsoft fecha compra de produtora do 'Call of Duty' por R$ 380 bi

Dona do Xbox teve que vender direitos de streaming de games para conseguir aprovação de órgão antitruste de Reino Unido

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Tim Bradshaw Suzi Ring
Londres | Financial Times

A Microsoft fechou a aquisição da Activision Blizzard por $75 bilhões (cerca de R$ 380 bilhões), após a aprovação pelo regulador britânico, que encerrou 21 meses de incerteza sobre o maior acordo da história na indústria de jogos eletrônicos.

A gigante de tecnologia dos EUA anunciou a conclusão da transação em um formulário regulatório nesta sexta-feira (13), antes do início das negociações em Wall Street. As autoridades antitruste dos EUA ainda prometem continuar na contestação do acordo.

O grupo informou, em documentos divulgados na sexta, que Bobby Kotick, CEO da Activision, permanecerá até o final do ano para ajudar no processo de integração.

tela de celular em que se lê Microsoft
Logo da Microsoft em smartphone, tendo ao fundo personagens de jogos da Activision Blizzard. - REUTERS

Mais cedo na sexta, a Autoridade de Concorrência e Mercados (CMA, na sigla em inglês) do Reino Unido deu aprovação final a um acordo revisado que envolve a Microsoft licenciando direitos de streaming em nuvem fora da Área Econômica Europeia para o catálogo da Activision, incluindo títulos como Call of Duty, para a editora de jogos francesa Ubisoft.

"Somos a única agência global a ter alcançado esse resultado e isso é um benefício real para os jogadores do Reino Unido", disse Sarah Cardell, chefe-executiva da CMA, em entrevista ao Financial Times. "Não seremos influenciados por qualquer lobby corporativo."

Cardell acrescentou que a Microsoft "não ganhou nada com esse atraso. Isso simplesmente custou tempo e dinheiro a eles e eles poderiam ter chegado a essa solução meses atrás."

A Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos ainda prossegue em trativas contra o acordo em seu próprio tribunal interno, que poderia buscar desfazer a fusão após o fechamento.

No entanto, a aprovação da CMA marca uma vitória para Brad Smith, executivo da Microsoft que liderou a campanha legal da empresa para defender um acordo que muitos investidores e analistas haviam descartado no início deste ano.

"Somos gratos pela revisão minuciosa e decisão da CMA hoje", disse Smith em comunicado mais cedo na sexta-feira. "Agora ultrapassamos o último obstáculo regulatório para fechar essa aquisição, que acreditamos que beneficiará jogadores e a indústria de jogos em todo o mundo."

O acordo com a Ubisoft obriga a Microsoft a abrir mão do controle das franquias de sucesso da Activision no mercado de jogos em nuvem e impede que se tornem exclusivas em seu serviço de jogos em nuvem Xbox, o que a CMA argumentou que fortaleceria a dominância da empresa em um mercado incipiente.

Essa concessão torna a CMA o único órgão regulador global a impor mudanças estruturais significativas ao acordo. O processo longo, no entanto, deixou muitos questionando a abordagem da agência do Reino Unido e desencadeou críticas generalizadas a Cardell por parte de líderes empresariais, negociadores e consultores jurídicos.

Na sexta, Cardell alertou que "as empresas e seus consultores não devem ter dúvidas de que as táticas empregadas pela Microsoft não são uma forma adequada de se envolver com a CMA".

A decisão inicial da CMA em fevereiro de 2023 constatou provisoriamente que o acordo prejudicava a concorrência no mercado de consoles de jogos, depois que a Sony —cujo PlayStation é o líder de mercado— se opôs veementemente à fusão. Mas apenas um mês depois, após revisar o que descreveu como "novas evidências", a CMA reverteu essa posição, para surpresa de muitos observadores jurídicos.

A CMA afirmou em março que as respostas às suas conclusões provisórias mostraram que a Microsoft não teria incentivo financeiro para tornar Call of Duty exclusivo para seus consoles Xbox, que os analistas estimam serem vendidos em quase o dobro dos PlayStations.

No entanto, as esperanças da Microsoft de que a mudança de posição da agência abriria caminho para a aprovação foram logo frustradas. A CMA bloqueou o acordo em abril, citando preocupações com o impacto nos jogos em nuvem. As empresas entraram com um recurso no Tribunal de Apelação de Concorrência do Reino Unido, contratando os principais advogados para apresentar seu caso.

A posição da CMA divergiu da adotada pela UE, que aprovou o acordo em maio após concessões da Microsoft para garantir que os títulos da Activision não estivessem disponíveis exclusivamente em seu próprio serviço de streaming em nuvem por 10 anos.

Julho trouxe um ponto de virada para as empresas. A Microsoft derrotou uma tentativa da Comissão Federal de Comércio de impedir seu fechamento em um tribunal dos EUA, frustrando a ação legal liderada pela presidente da agência, Lina Khan. Horas após a decisão dos EUA, a CMA —na época, em grande parte isolada entre os reguladores globais em oposição ao acordo— disse que concordou com as empresas em adiar o recurso enquanto considerava uma transação reestruturada.

Dentro de alguns dias, a Sony fez as pazes com a Microsoft, concordando com um novo acordo de licenciamento para manter o Call of Duty no PlayStation após a fusão.

A Microsoft apresentou um acordo revisado à CMA em agosto, segundo o qual os direitos de jogos em nuvem da Activision serão vendidos para a Ubisoft antes da conclusão do acordo. A Ubisoft poderá então oferecer esses jogos em seu próprio serviço de streaming, além de licenciá-los para outros provedores de nuvem, incluindo a Microsoft. Os termos comerciais do acordo não foram divulgados.

A CMA concedeu aprovação provisória no mês passado, realizando uma breve consulta antes de aprovar o acordo na sexta-feira.

"A aprovação oficial da CMA é uma ótima notícia para nosso futuro com a Microsoft, e estamos ansiosos para fazer parte da equipe Xbox", disse a Activision.

A Comissão Europeia descartou uma revisão da fusão na sexta-feira porque, segundo ela, não constitui um novo acordo.

"Claramente, estamos cientes da natureza global" desses acordos, disse Cardell em entrevista ao FT na sexta-feira. "No final do dia, tomaremos as decisões que precisamos tomar para o Reino Unido".

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