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Nova técnica deve acelerar produção de cana no país

Desenvolvida há uma década no interior de SP, ela prevê a troca das atuais mudas por material biológico similar a sementes

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Ribeirão Preto

Um novo sistema em desenvolvimento no interior paulista de plantio de cana-de-açúcar poderá fazer com que a produção cresça de forma acelerada nas lavouras sem necessidade de ampliação de áreas.

Baseada na troca das atuais mudas de cana por um sistema simplificado, a técnica, desenvolvida no CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), é vista como uma revolução no plantio da cana no país devido a uma combinação de fatores que inclui ganhos com o material biológico em formato similiar ao de "sementes", aumento de áreas com a não necessidade de uso das mesmas para a produção de mudas e o crescimento médio de 3% na produtividade que tem sido registrado nas últimas safras.

Imagem mostra Marciano Ramos Rocha, de 46 anos, fazendo análise de amostra de semente da flor da cana-de açúcar em microscópio na estação de cruzamentos de variedades do CTC em Camamu (BA)
Marciano Ramos Rocha, 46, faz análise de amostra de semente da flor da cana-de açúcar em microscópio na estação de cruzamentos de variedades do CTC em Camamu (BA) - Zanone Fraissat-14.mai.23/Folhapress

O CTC não informa prazos para a utilização nem previsão de quanto a nova semente sintética será mais produtiva, mas a expectativa do mercado é que as novas sementes, em desenvolvimento já há quase dez anos, cheguem ao mercado nas próximas safras. Já há ensaios em escala piloto em andamento para aperfeiçoar a tecnologia e, conforme o centro de pesquisas, os ganhos em produtividade gerarão menor demanda por terra, além de redução no uso de agroquímicos, água, combustíveis e emissões de CO2.

Nas variedades de mudas em uso atualmente, o ganho médio de produtividade é de 3% por safra no primeiro corte, segundo o CTC, o que significa que, se o índice fosse mantido, geraria 26,7% mais cana numa mesma área na safra 2030/31.

Como o novo sistema é composto por um material semelhante a sementes, não haverá necessidade de destinar cerca de 6% da área à produção de mudas, como ocorre hoje, o que representará um ganho de produtividade na mesma proporção. E há, ainda, o crescimento previsto com o novo sistema por si só, que promete gerar plantas mais sadias num canavial com menos falhas.

A fabricação e montagem será feita em biofábricas e o projeto de desenvolvimento envolve uma equipe com mais de 90 profissionais como biólogos, agrônomos, engenheiros, químicos, fisiologistas, geneticistas, cientistas de dados e economistas.

"A ideia é fantástica, é um projeto que o setor já está tentando há mais de dez anos e aparentemente o CTC tem boas chances de conseguir. Existe muita ineficiência no setor sucroenergético e uma das ineficiências que nós temos é no plantio", disse Marcos Fava Neves, sócio da Harven Agribusiness School e docente da USP (Universidade de São Paulo) e FGV.

Segundo ele, o plantio demanda muita mão de obra, o que encarece a produção. "[Mão de obra] Está cada vez mais difícil. Essa questão vai dar mais competitividade para o setor de cana."

O assunto ganhou novo impulso na última semana, quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, citou a iniciativa em Nova York, onde esteve para reuniões promovidas pelo Instituto Igarapé e Eurasia.

Ele afirmou que há várias iniciativas verdes no país, como os leilões de linhas de transmissão para energia eólica, a parceria da Petrobras com a WEG sobre energia eólica e o desenvolvimento da semente de cana que poderá dobrar a produtividade por hectare da produção no Brasil.

"Você já imaginou se a gente dobra a produção de cana e consegue fazer o hidrogênio verde a partir do etanol e abastece os carros com o hidrogênio verde? É uma coisa que talvez tenha um impacto maior do que o próprio carro elétrico", afirmou.

Essa busca por ampliar a produção sem necessidade de crescimento de área é essencial num estado como São Paulo, em que os preços de terra são muito altos, mas não é uma exclusividade do CTC, sediado em Piracicaba (a 160 km de São Paulo).

O IAC (Instituto Agronômico de Campinas), órgão da Secretaria da Agricultura paulista, por exemplo, possui um programa de desenvolvimento no Centro de Cana localizado em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), com espécies modernas e alto potencial de produção. Já a Ridesa (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético) também atua nesse sentido num programa que envolve universidades federais.

Em agosto, a produtividade dos canaviais no centro-sul do Brasil foi de 90,5 toneladas de cana por hectare colhido, segundo relatório de acompanhamento de safra divulgado terça-feira (26) pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), 23,2% mais que o observado no mesmo período da safra 2022/23.

No acumulado da safra, a média é de 92,8 toneladas por hectare, ante 75,7 toneladas na safra passada, ou 23% mais.

Nos programas de melhoramento, os centros de pesquisa já desenvolveram variedades com produções acima de 200 toneladas por hectare no primeiro corte. Como comparação, na safra 2022/23, a produtividade média por hectare projetada no país pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) foi de pouco mais de 70 toneladas, incluindo lavouras de todas as idades.

TEMPO

Além de demandar mão de obra intensiva e muitos equipamentos, o plantio frequentemente tem falhas e baixo nível de germinação.

Com as sementes sintéticas, de acordo com o CTC, o ciclo de renovação do canavial poderá ser mais curto, o que permitirá acelerar a introdução de variedades mais modernas e produtivas. Nos canaviais atuais, o ciclo de renovação considerado ideal é de cinco anos.

O CTC, fundado em 1969, atua na área de pesquisas para o desenvolvimento de novas variedades de cana-de-açúcar e possui um dos maiores bancos de germoplasma do mundo, com 5.400 variedades em Camamu (BA).

O desenvolvimento dos produtos convencionais e geneticamente modificados é feito nos laboratórios de Piracicaba e Saint-Louis (EUA).

Na cidade baiana, o CTC mantém as variedades, inclusive algumas que remontam ao período do descobrimento do Brasil, numa área de 63 hectares cercada por mata atlântica na Costa do Dendê.

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