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EUA investem em agenda verde para conter China na América Latina

Biden recebeu lideranças de dez países na Casa Branca nesta sexta e anunciou parcerias com o BID; Brasil não faz parte do grupo

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Washington

O presidente Joe Biden recebeu na Casa Branca nesta sexta (3) representantes de nove países latinoamericanos e do Canadá em um esforço de aproximação para conter a influência chinesa pautado sobretudo na agenda verde, mas de olho também na contenção da migração para os Estados Unidos.

A chamada Parceria das Américas para a Prosperidade Econômica (Apep, na sigla em inglês) foi lançada em junho do ano passado. Além de Ottawa, integram o grupo Barbados, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, México, Panamá, Peru e Uruguai. O Brasil não faz parte.

O presidente americano, Joe Biden, recebe lideranças da América Latina na Casa Branca; da esq. para a dir., a ministra das relações exteriores mexicana, Alicia Bárcena, a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, a presidente peruana, Dina Boluarte, o presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves Robles, o presidente do Equador, Guillermo Lasso, o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, Biden, o presidente da República Dominicana, Luis Abinader, o presidente chileno, Gabriel Boric, o presidente colombiano, Gustavo Petro, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e a ministra das Relações Exteriores do Panamá, Janaina Tewaney - Jim Watson/AFP

A Apep, no entanto, vinha sendo criticada por seus próprios integrantes pela falta de medidas concretas. Nesta sexta, foram anunciadas as primeiras iniciativas.

Destacam-se a criação de uma plataforma de investimento para construção de infraestrutura sustentável, fruto de uma parceria entre a agência americana de desenvolvimento financeiro internacional e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) –o brasileiro Ilan Goldfajn, presidente da instituição, participou do encontro.

O foco é modernização de portos, matriz energética limpa e infraestrutura digital. Até o momento, não foram anunciadas as cifras envolvidas.

Também em parceria com o BID, foi anunciado o plano para criar um fundo com o objetivo de investir em instrumentos financeiros relacionados ao clima, como as chamadas "trocas de dívida por natureza" –recentemente, o Equador lançou um título do tipo voltado para a preservação nas Ilhas Galápagos.

"Os EUA já são a maior fonte de investimentos na América Latina e no Caribe de longe", disse Biden, ao lado de nomes como o presidente chileno Gabriel Boric e o colombiano Gustavo Petro.

Em alusão à China, o americano afirmou que deseja oferecer aos seus vizinhos mais próximos uma escolha entre o que chamou de "diplomacia de armadilha da dívida" –em referência ao financiamento chinês e seus condicionantes– e uma abordagem "de alta qualidade e transparente" para infraestrutura e desenvolvimento.

Mais cedo, em um café da manhã com os líderes latinos, a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, afirmou que vai trabalhar em conjunto com o BID para aumentar a capitalização do banco.

"Os EUA estão trabalhando com parceiros no que chamo de ‘friendshoring’, o que significa diversificar nossas cadeias de suprimento em um conjunto de parceiros e aliados confiáveis", disse Yellen em um evento do banco multilateral nesta quinta.

A aproximação com os países latinomaerianos é mais um passo dos EUA para conter o aumento da influência chinesa. Além das Américas, Biden recebeu recentemente líderes da Coreia do Sul e do Japão, na primeira parceria trilateral entre os países, e fez diversas visitas à Ásia.

O Departamento de Estado americano vem repetindo que uma das prioridades é a reforma dos bancos multilaterais, como FMI e Banco Mundial, além do BID, para oferecer alternativas ao que veem como "financiamento coercitivo" chinês.

Nesta sexta, Biden anunciou também o lançamento de uma aceleradora para financiar empreendedorismo na região, com recursos americanos e canadenses. A liderança do projeto coube ao Uruguai, que vai tocar a criação de uma rede de investidores-anjos.

A Costa Rica vai entrar na parceria como sede de um centro de qualificação e treinamento voltado para a economia digital, com foco em cibersegurança e semicondutores.

A parceria abrange ainda a indústria aeroespacial. Sem detalhar uma iniciativa, Biden agradeceu o presidente chileno pela liderança do país na construção do setor "para que possamos usar melhor a tecnologia de satélites para tratar de questões vitais, de mudança climática a insegurança alimentar".

Após o anúncio das ofertas de recursos aos países latinos, o americano entrou no tema de migração –a Casa Branca vem sofrendo duras críticas não só de republicanos, mas também de democratas, sobre o fluxo de imigrantes na fronteira com o México, uma das principais fragilidades de Biden em sua campanha pela reeleição.

No que chamou de "compartilhamento de responsabilidade" na gestão dos fluxos, o presidente dos EUA afirmou que o país vai trabalhar em conjunto com os locais que recebem imigrantes e refugiados para estabilizar essas comunidades –ou seja, evitar que eles se desloquem ao norte, como acontece com venezuelanos em passagem pela Colômbia.

Junto com Canadá e Colômbia, os EUA vão contribuir com um programa voltado à migração do BID.

Biden disse ainda que o país está expandindo os caminhos para entrada legal de imigrantes em solo americano e "aplicando nossas leis imigratórias de modo humano e efetivo".

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