Colocar-se em situações desconfortáveis pode liberar habilidades ocultas, diz livro

Psicólogo e escritor Adam Grant leva o leitor a uma viagem pelos fatores que conduzem ao sucesso

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Arjun Neil Alim
Londres | Financial Times

Quando comecei a aprender mandarim, adotei uma estratégia que muitos ao meu redor consideravam não convencional. Em vez de escrever meticulosamente os caracteres e praticar a ordem das frases, eu decidi me fazer de tolo o máximo possível.

Falei meu chinês misturado com inglês cheio de erros com amigos, irritei professores com piadas bobas e torturei meus ouvidos com músicas e podcasts nativos. Não era perfeito, mas foi o suficiente para conseguir entrevistar pessoas e ler pequenos artigos de notícias em apenas um ano.

O psicólogo organizacional Adam Grant resume de forma concisa esse método, juntamente com uma série de outros sistemas e qualidades em seu novo livro "Hidden Potential: The Science of Achieving Greater Things" [Potencial Oculto: A Ciência de Alcançar Coisas Maiores].

Capa do livro 'Hidden Potential', de Adam Grant
Capa do livro 'Hidden Potential', de Adam Grant - Divulgação

"Ser alguém que se coloca em situações desconfortáveis", escreve Grant, "pode desbloquear o potencial oculto em muitos tipos diferentes de aprendizado". Essa é apenas uma habilidade característica que o professor da faculdade de administração de Universidade da Pensilvânia acredita que pode desbloquear o potencial de um indivíduo para fazer coisas maiores do que sua formação, currículo ou experiência possam sugerir.

Grant leva o leitor a uma rápida viagem pelos fatores que levam ao sucesso —ser uma esponja de informações, ignorar a chamada sedução do perfeccionismo e fazer as inevitáveis concessões.

Isso é essencial não apenas para aprender uma habilidade ou um idioma; esses atributos são o que, segundo ele, levam os indivíduos à melhor posição de seus setores. Ele também conta sua própria história por meio dos métodos e técnicas; desde seu medo de falar em público até entrar em uma universidade de ponta.

Grant analisa os sistemas que pessoas bem-sucedidas usam para manter sua motivação e superar obstáculos como o bloqueio criativo. Ele também mostra como eles reenquadram uma derrota como uma oportunidade de aprender e se adaptar, assim como as equipes esportivas fazem quando perdem seu jogador-chave —todas as referências esportivas são para esportes dos EUA, como beisebol e basquete.

Aprender com os outros é um dos temas, assim como aproveitar ao máximo as redes de contatos. Grant critica a síndrome do impostor, chamando-a de "paradoxo" em que os indivíduos ignoram os elogios das pessoas, acreditando que sua própria crítica de si mesmos é mais importante.

Os estudos de caso abrangem o mundo todo —desde o engenheiro que ajudou a resgatar os mineiros chilenos presos em 2010 até o sistema educacional finlandês e os primeiros 13 oficiais navais afro-americanos que superaram a discriminação.

Os formuladores de políticas e executivos devem prestar muita atenção à última seção do livro —como construir estruturas que criem oportunidades para todos. A educação é obviamente uma parte fundamental disso: um sistema que nutre o talento em todas as suas formas, em vez de deixar alguns para trás, é totalmente preferível. As universidades britânicas estão entre muitas instituições que estão dando passos positivos nessa direção.

O sistema escolar finlandês também tem sido objeto de análise por especialistas. Grant elogia seu método humano: dar aos professores tempo para planejar e personalizar as aulas, intervir precocemente com crianças que têm dificuldades e manter os dias escolares curtos.

Em determinado momento, Grant menciona as pontuações do Pisa, teste internacional realizado pela OCDE que é aplicado a estudantes do ensino médio para avaliar os sistemas educacionais ao redor do mundo.

Infelizmente, Grant não dedica muito tempo a examinar por que as pontuações do Pisa da Finlândia foram superadas pelas de alguns estados do leste asiático, apenas observando que os estudantes finlandeses são menos infelizes e têm menos lições de casa.

Se colocar em situações desconfortáveis pode ser a chave para desbloquear novas habilidades, diz autor - Adobe Stock

Mais interessante é a ideia de substituir uma "hierarquia em escada" por uma "hierarquia em treliça", que oferece às pessoas mais de uma oportunidade de promoção e desenvolvimento de carreira. Um chefe teimoso ou um relacionamento de trabalho difícil não deveria impedir pessoas talentosas de progredir.

Grant escreve que universidades e empresas também devem tomar mais medidas para reconhecer a superação de adversidades, como crescer na pobreza. Isso poderia ser feito quantificando o inquantificável, sugere ele, ao analisar a taxa de mudança das notas de um aluno, além da nota final.

Vem à mente o exemplo do hispano-americano José Hernández. O astronauta realizou seu sonho de ingressar na Nasa depois de ser rejeitado inúmeras vezes por um sistema que não levava em conta suas diferentes experiências trabalhando como agricultor quando era jovem, superando adversidades.

Portanto, os sistemas precisam evoluir e mudar para encontrar as melhores pessoas. Eu gostaria que Grant tivesse os mesmos apontamentos em relação à democracia eleitoral, que ele descartou em favor de um sistema de loteria para escolher os presidentes dos EUA em um artigo para o The New York Times publicado em agosto.

Escolher líderes por acaso, como os antigos atenienses fizeram para alguns políticos, não é apenas antidemocrático e perigoso, mas parece ir contra a mensagem principal de "Hidden Potential" —não abandone o sistema por causa de pessoas ruins, corrija os canais para que outras melhores surjam no futuro.

Hidden Potential: The Science of Achieving Greater Things

  • Preço R$ 137 e R$ 64,99 (ebook)
  • Autoria Adam Grant
  • Editora Viking, 304 pp.
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