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Formar patrimônio e repensar consumo são principais receitas para independência financeira

Mensurar receitas, custos diários e diversificar investimentos são passos para viver de renda passiva

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São Paulo

Os sorteios da Mega-Sena costumam ser ansiosamente aguardados por quem sonha em poder parar de trabalhar. A sorte no jogo não é, contudo, o único meio para quem deseja passar os dias com uma renda que não venha do suor do trabalho diário.

Segundo especialistas, não é preciso ganhar na loteria para chegar à independência financeira, mas o processo alternativo demanda tempo e disciplina. Envolve desde a definição de um padrão de vida que permita o hábito de poupar até a construção de um patrimônio que se reverta no futuro em rendimentos periódicos que banquem o custo de vida do indivíduo ou de sua família.

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Fórmula utilizada para calcular o que é necessário para se chegar à independência financeira leva em consideração o custo anual do indivíduo, dividido pela rentabilidade dos investimentos. - Catarina Pignato

Calcule o que falta para sua independência financeira

Patrícia Palomo, líder de investimentos da cooperativa Unicred, diz que, para poder escolher como usar o tempo —trabalhando de forma remunerada ou se dedicando a outras atividades—, é fundamental ter algum tipo de recorrência financeira: uma renda de valor suficiente para bancar o padrão de consumo, que esteja disponível com a frequência necessária para saldar as contas.

Ela assinala que o caminho natural passa pela construção de patrimônio, o que pode ser feito a partir de diversas fontes de receita. Embora a mais comum seja o salário, há opções que ajudam a acelerar o processo, como o aluguel de imóveis e o rendimento dos investimentos.

Definir padrão de consumo é essencial

Palomo afirma que a velocidade com que a pessoa atingirá a independência financeira vai depender também do fluxo de gastos, ou seja, do padrão de consumo adotado ao longo da vida.

Esse é também um dos fatores que entram nas contas da economista, planejadora financeira CFP e professora da ESPM Paula Sauer.

Ela diz que, para calcular qual o patrimônio necessário para viver apenas do rendimento desses recursos, é preciso dividir o custo anual do indivíduo ou da família pela rentabilidade dos investimentos.

"Ao fazer essa conta, seja honesto com seu custo —ou seja, não subestime sua capacidade de gastar— e conservador com o rendimento de seus investimentos."

Ela cita um exemplo hipotético, em que o custo anual de uma pessoa ou família seja de R$ 100 mil, e a rentabilidade média dos investimentos de 5% ao ano. Nesse caso, a pessoa precisaria ter investimentos de R$ 2 milhões para viver apenas dos rendimentos das aplicações.

Se o custo de vida aumentar e o investidor fizer resgates maiores das aplicações, ele tem que estar ciente que seus próximos rendimentos serão menores. Ou ele terá que adaptar seus gastos para as retiradas mensais menores, ou precisará assumir o risco de seu patrimônio ser consumido ao longo do tempo.

"Ao longo da vida, os planos mudam, os sonhos ganham novas formas, imprevistos acontecem. O custo de vida certamente vai variar e, em função disso, a carteira de investimentos deve ser rebalanceada", afirma Sauer, acrescentando que o cenário econômico também entra na conta.

Isso quer dizer que variáveis como inflação, taxa de juros, desemprego, políticas econômicas, guerras e eleições podem colocar todos os cálculos de ponta-cabeça.

Palomo, da Unicred, afirma que fica a critério de cada um avaliar se prefere demorar um pouco mais de tempo para alcançar a independência financeira, a fim de manter um padrão de vida mais alto, ou se há certa urgência ou ansiedade em parar de trabalhar e passar a viver de rendimentos, o que consequentemente implicará retiradas mensais menores e um padrão de vida mais modesto.

"O poupar é uma negociação entre o prazer do presente e a segurança do futuro", afirma Sigrid Guimarães, sócia da gestora de patrimônio Alocc. "Isso é uma luta diária, e cada um acha o seu equilíbrio".

Guimarães pontua que, se a pessoa é do tipo que quer aproveitar os prazeres da vida e não poupa nada, ela pode ter o futuro incerto e eventualmente vir a depender financeiramente de um terceiro.

Por outro lado, se a pessoa está sempre extremamente preocupada com a segurança do futuro e poupa todos os rendimentos, talvez no dia em que atingir seu objetivo não tenha saúde ou tempo para usufruir as conquistas.

"Sempre falo aos clientes que tentamos buscar um equilíbrio para atender um pouco dos sonhos de hoje, mas sem abrir mão da preocupação com o futuro", afirma a gestora.

Ela sugere àqueles que querem alcançar a independência financeira que, mesmo que o valor a ser reservado por mês seja baixo, iniciem a formação de uma poupança o mais cedo possível, de modo que os juros sobre juros trabalhem a seu favor com o passar dos anos.

Segundo a gestora, estudos indicam que uma pessoa que começa a poupar aos 25 anos acumula, em média, até cinco vezes mais do que uma pessoa que começou a poupar aos 50 anos, devido ao efeito multiplicador dos juros. "Quanto mais cedo começar, menor o esforço e mais fácil fica".

Escolha dos investimentos depende da tolerância a risco de cada um

Ao considerar as diversas alternativas de investimento disponíveis hoje no mercado, Palomo ressalta que, antes de qualquer coisa, é preciso levar em conta o perfil e a tolerância a risco de cada um.

Para aqueles de perfil mais conservador, que não gostam de ver grandes oscilações no extrato, a especialista assinala que há uma série de instrumentos na renda fixa que oferecem um rendimento periódico via o pagamento de juros e amortizações.

Ela diz que, ao considerar uma aplicação na renda fixa, é importante que o investidor dê atenção especial aos investimentos que pagam juros reais, ou seja, acima da inflação, de modo a preservar o poder de compra no tempo.

Títulos públicos negociados na plataforma Tesouro Direto, como o Tesouro IPCA e o Tesouro Renda+, que oferecem uma taxa de juro prefixada mais a variação da inflação, são apontadas entre as opções mais acessíveis.

Títulos privados como as debêntures, emitidas por empresas do setor de infraestrutura, também costumam ser indexadas ao IPCA e oferecem taxas de remuneração acima dos papéis do governo, mas, nesse caso, Palomo alerta que é preciso estudar a respeito da saúde financeira da companhia antes de colocar o dinheiro.

Gestora recomenda colchão de liquidez para cobrir três anos do custo de vida

Sigrid Guimarães, da Alocc, diz que a recomendação que passa aos clientes é que façam uma reserva financeira para lidar com eventuais emergências, como a perda de emprego ou uma pandemia, que seja suficiente para cobrir os gastos do dia a dia por um período de até três anos.

"Muita gente acha três anos um exagero. Mas, quando veio a pandemia, ficou claro que não era", observa.

Essa reserva, diz Sigrid, deve estar em investimentos de baixo risco e alta liquidez, como títulos públicos pós-fixados, fundos DI e CDBs de grandes bancos.

Dessa forma, quando necessitar dos recursos, a pessoa não corre o risco de tomar um susto com um saldo negativo ou ter de esperar semanas até conseguir acesso ao dinheiro.

Vencida a etapa da formação da reserva de emergência, o ideal é que sejam adicionadas à carteira camadas compostas por ativos de maior nível de risco e maior expectativa de retorno.

"Se a pessoa dispõe da reserva na renda fixa, é pouco provável que ela tenha de acessar categorias mais voláteis em uma emergência, como as ações e os fundos multimercados, que necessitam do benefício do tempo para entregar um retorno maior no longo prazo", afirma a gestora.

Fundos imobiliários e ações também podem compor carteira

Entre as alternativas de perfil moderado e arrojado, uma opção bastante conhecida da população citada pelas especialistas é a dos fundos imobiliários.

Esses fundos investem em imóveis como lajes corporativas, galpões logísticos e shopping-centers, e pagam dividendos aos cotistas em periodicidades que podem ser mensais ou semestrais. Um chamariz da categoria é o fato de os dividendos distribuídos terem isenção da tributação do IR (Imposto de Renda) para o investidor pessoa física.

No caso dos fundos imobiliários, contudo, a especialista da Unicred enfatiza que é preciso ter em mente que eles compõem a classe de renda variável e estão sujeitos à oscilação do capital investido de acordo com as condições de mercado.

O mesmo vale para as ações negociadas na Bolsa de Valores. Caso o investidor tenha uma tolerância a risco maior e esteja ciente da possibilidade tanto de valorização, quanto de queda nos preços dos papéis, elas também são uma alternativa que podem compor uma carteira que tenha como objetivo a independência financeira por meio do pagamento periódico de rendimentos, afirma Palomo.


Dicas para quem busca a independência financeira

  • busque maneiras de aumentar a renda de modo a constituir um patrimônio que possa se tornar gerador de renda passiva no longo prazo;
  • forme um colchão de liquidez de três vezes o custo de vida anual em investimentos de renda fixa de baixo risco;
  • velocidade para atingir a independência financeira depende do padrão de consumo almejado;
  • formação da poupança deve começar o mais cedo possível, para que os juros sobre juros trabalhem a seu favor com o passar dos anos;
  • tolerância a risco precisa ser levada em conta ao avaliar as alternativas de investimento;
  • renda fixa, fundos imobiliários e ações são alternativas que podem compor a carteira de investimentos.
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