Descrição de chapéu inflação

Executivos reclamam de passagem aérea cara e mudam dinâmica de viagens

Empresas compram bilhetes com antecedência e visitam mais clientes de uma vez para driblar disparada no preço

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São Paulo

Se antes passagens aéreas eram compradas com somente duas semanas de antecedência na LG lugar de gente, empresa de produtos para gestão de RH, o aumento do preço registrado nos últimos anos pressionou a companhia a mudar sua política para viagens corporativas. Agora, os bilhetes devem ser adquiridos 30 dias antes, preferencialmente.

Sediada em Goiânia, a empresa possui clientes e funcionários em outras cidades do país, como São Paulo e Rio de Janeiro. O CEO da companhia, Felipe Azevedo, afirma ter feito 112 viagens aéreas somente em 2023, em resposta ao aumento da demanda de reuniões presenciais, após o período no modo online trazido pela pandemia. No entanto, os altos custos das viagens exigiram adaptações, como a compra com antecedência.

Imagem mostra executivo olhando para cima. Ele está em um saguão do aeroporto de Congonhas rodeado por outros passageiros que andam ao redor dele.
Demetrius Miguel, diretor da agência de viagem corporativa Dynamic Travel, no aeroporto de Congonhas - Karime Xavier - 12.jan.24/Folhapress

O cenário relatado pela LG lugar de gente reflete as últimas atualizações da base de dados feita pela Abracorp (Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas).

A entidade afirma que o setor acumulou, no período de janeiro a novembro do ano passado, faturamento de R$ 12,6 bilhões, valor 11% maior do que o observado no mesmo período de 2022. O montante também já é maior do que o número registrado em 2019, antes da pandemia, que foi de R$ 11,4 bilhões.

Os números consideram o valo pago pelos clientes às agências de viagens corporativas, sem incluir a taxa de serviço e sem descontar a inflação do período.

Apesar do impulso ocasionado pela volta ao trabalho presencial, a entidade notou desequilíbrios em alguns dos segmentos analisados. Um deles foi o de serviços aéreos, que registrou aumento no faturamento, mas caiu em quantidade de passagens adquiridas pelos executivos.

Em número de produtos fechados, foram 5,1 milhões de bilhetes comprados pelas agências de viagens corporativas nos primeiros onze meses do último ano —mais de 1,2 milhão a menos do que o registrado em 2019. Na contramão, o faturamento das agências com serviços desse segmento aumentou cerca de 14%, na mesma base de comparação, e chegou a R$ 8 bilhões.

De acordo com Humberto Machado, diretor-executivo da Abracorp, a discrepância entre a quantidade de bilhetes adquiridos e o faturamento obtido é consequência dos preços das passagens aéreas. Em dezembro, o Sistema Nacional de Índice de Preços ao Consumidor, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), indicou uma inflação de 47,24% acumulada nos últimos 12 meses. A variação mensal foi de 8,87%.

Machado diz que executivos tiveram que encontrar saídas para os bilhetes caros, trocando o avião por carros alugados ou abrindo mão do seguro-viagem, por exemplo.

De 2019 a 2023, a quantidade de locações de carros feitas pelas agências de viagens corporativas cresceu 9,6% e chegou a 359,3 mil no acumulado de janeiro a novembro. No mesmo período, o uso de ônibus quase triplicou, com 241,5 mil passagens rodoviárias compradas nos primeiros onze meses de 2023.

Por outro lado, a quantidade de seguros-viagem contratada caiu quase pela metade desde 2019. "Foi uma redução muito drástica. Para reduzir custos, as empresas acabaram optando por usar, somente, a assistência que existe no cartão de crédito corporativo", diz Machado.

Para Claudio Pracownik, CEO da Win the Game, a solução encontrada para driblar o preço da passagem foi otimizar as reuniões em outros estados, visitando mais clientes de uma só vez e reduzindo a equipe de executivos na viagem.

A empresa, que tem sede no Itaim Bibi, surgiu a partir de uma joint venture entre o BTG Pactual e a Fix Delivery Partners e presta serviços como assessoria de investimentos e gestão de patrimônio para clientes como Grêmio, São Paulo e Botafogo.

"Viagens em cima da hora têm que ser para assinar o contrato. Se alguém está pedindo para você estar [em outro lugar] no dia seguinte, tem que pesar muito a necessidade de se pagar por essa viagem, porque é muito cara", afirma Pracownik.

Segundo ele, se as viagens corporativas há alguns anos costumavam reunir três ou quatro executivos da empresa, hoje as saídas são feitas em dupla. Além disso, a primeira reunião com os clientes é online na grande maioria dos casos, diz.

Na agência de viagens corporativas FlyBy, a demanda já superou o pré-pandemia, de acordo com o CEO da empresa, Gianlucca Nahas. A principal procura continua sendo as passagens aéreas, mas o preço também afetou o tipo de produto buscado.

Nahas afirma que algumas empresas estão preferindo até fretar avião particular.

"As passagens são tão caras que vale mais a pena um grupo de executivos fretar um avião privado. Na ponte aérea, se você comprar em cima da hora, pode chegar a R$ 5.000 mil [por pessoa]. Se é um grupo de oito pessoas, vale mais a pena o pessoal alugar um avião."

Diretor de novos negócios da Dynamic Travel –agência de viagens corporativas que surgiu da fusão de outras duas companhias do setor, a Corp Travel e a Movere Viagens–, Demetrius Miguel afirma que as passagens aéreas são o principal gasto do setor, mas também são o carro-chefe dos negócios.

Para o futuro do setor, Miguel cita algumas ameaças aos negócios, como, por exemplo, guerras e outros conflitos que podem reduzir o número de viagens internacionais. Além disso, diz que a onda ESG no mundo corporativo deve desestimular as viagens.

Nos Estados Unidos e na Europa, a relação entre viagens corporativas e a emissão de carbono virou tema de um relatório da consultoria Deloitte lançado no ano passado.

De acordo com o documento, somente uma em cada sete empresas americanas afirmaram esperar que a questão ambiental reduzisse as viagens corporativas em 2023; na Europa, era uma em cada cinco companhias.

Apesar disso, pouco mais de 40% das companhias entrevistadas disseram que estavam otimizando as viagens na intenção de reduzir o impacto ambiental.

"Quando a gente fala de sustentabilidade, algumas empresas estão tentando segurar o seu orçamento, fazendo a relação com a emissão de carbono. Existe uma conscientização de que as empresas devem viajar menos e emitir menos carbono", afirma Miguel.

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