Gol deve para mais de 50 mil credores e supera Americanas em 5 vezes; veja maiores dívidas

Banco BNY Mellon, Aeronáutica, Vibra e Boeing são empresas com maiores créditos; dívidas anunciadas ultrapassam R$ 40 bi

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São Paulo

A Gol deve para entre 50.001 e 100.000 credores, mostra o pedido de recuperação protocolado no Tribunal de Falências dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York na tarde quarta-feira (25).

O documento agora obtido pela Folha foi primeiro publicado pelo jornal O Globo.

No topo da lista de credores com mais créditos a receber estão o banco americano BNY Mellon (dívidas financeiras), o Comando da Aeronáutica (por serviços de controle de tráfego aéreo e auxílio de navegação), a distribuidora de combustíveis Vibra (antiga BR) e a fabricante de aeronaves Boeing.

Avião da Gol na pista principal do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A Aeronave é branca e tem decalques alaranjados
Avião da Gol na pista principal do aeroporto de Congonhas, em São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

A aérea afirmou à Justiça americana o montante de credores, segundo estimativas próprias. A Americanas, por exemplo, tem 9.000 credores —a companhia supera em cinco vezes a varejista, na melhor das hipóteses.

Em documento protocolado junto à justiça americana nesta sexta (26), a Gol afirma que acumula US$ 8,3 bilhões (R$ 40,7 bilhões na cotação atual) em dívidas. O patrimônio declarado da aérea é de US$ 3,5 bilhões (R$ 17,2 bilhões).

Para comparação, os débitos da Latam em 2020 somavam cerca de US$ 18 bilhões (R$ 94,9 bilhões no câmbio atual) durante processo de reestruturação de dívida similar.

Questionado sobre a dimensão da dívida em entrevista coletiva realizada na quinta-feira (25), o presidente da Gol, Celso Ferrer, afirmou que "ainda é muito cedo para saber exatamente o que vai ser negociado".

Ferrer também citou os altos custos operacionais de uma companhia aérea e disse que o preço do combustível de aviação é cerca de 40% mais caro no Brasil do que no resto do mundo. "Esse setor é muito demandante de crédito".

O ano de 2022 sinalizou retomada na atividade das companhias aéreas, com receita de R$ 55,2 bilhões, a maior registrada desde 2018, segundo dados do anuário da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). As despesas, porém, também assumiram patamar recorde, em R$ 54,4 bilhões.

O documento entregue pela Gol aponta apenas as 30 maiores dívidas, a 27 empresas. Esses compromissos somam um débito de R$ 4,76 bilhões, na cotação atual.

O braço comercial da Boeing é a quarta maior credora, com R$ 75 milhões a receber.

Agências de risco estimam que a dívida total da Gol fique em torno de R$ 20 bilhões.

Do total da dívida da empresa, cerca de R$ 3 bilhões vencem no curto prazo (em até 12 meses). A companhia, no entanto, não teria caixa suficiente para honrar esses compromissos, segundo pessoas a par das negociações.

Após a publicação desta reportagem, a Zurich Airport Brasil, concessionária do Aeroporto Internacional de Florianópolis, afirmou em nota que não reconhece o montante da dívida divulgado pela Gol, de cerca de US$ 12 milhões (R$ 59 milhões).

A empresa disse, no entanto, que não comenta transações específicas com parceiros, mas afirmou que o valor a receber da companhia aérea é significativamente menor do que o divulgado.

Já a Gol disse, também em nota, que os valores na lista foram apurados com base em período anterior ao pedido de reestruturação, e que incluem não só dívidas, mas também compromissos futuros.

"Alguns valores podem também já ter sido quitados entre a data de corte da apuração dos números e a data do pedido", afirmou a empresa.

O problema da Gol, segundo agências de risco, não é operacional. Os resultados são positivos. No entanto, ela não tem novas garantias suficientes para trocar toda essa dívida vincenda.

No comunicado em que informou o pedido de reestruturação da dívida pelo chamado chapter 11 da lei americana, a Gol destacou que obteve um dos melhores resultados operacionais para companhias aéreas da América Latina, e o quarto trimestre consecutivo de margens operacionais altas.

"A receita operacional líquida da companhia atingiu recorde histórico de R$ 4,7 bilhões, com crescimento de 16,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior, principalmente devido à contribuição significativa das receitas vindas das unidades do programa de fidelidade Smiles e das operações de carga Gollog, que cresceram juntas um total de 65,1% no 3T23 [terceiro trimestre de 2023] (vs. 3T22) e totalizaram R$ 412,6 milhões no período", diz.

A holding que controla a Gol incluiu no processo de recuperação judicial o programa de milhas Smiles (nos braços brasileiro e argentino), subsidiárias e também unidades financeiras Gol Finance —sediadas nos paraísos fiscais de Luxemburgo e Cayman— e de logísitca, GAC. Os fundos de investimento exclusivos Airfim e Fundo Sorriso também constam no processo.

Ferrer, o presidente da Gol, avalia que a reestruturação da dívida da Gol deve ser mais rápida do que a da Latam, que levou dois anos. "É difícil precisar exatamente quanto deve durar, mas a nossa expectativa é de que dure substancialmente menos do que esses processos das companhias da América Latina". A colombiana Avianca e a mexicana Aeromexico também recorreram à Justiça Americana.

O consultor econômico Murilo Viana ressalva, porém, que o cenário macroeconômico com juros altos no Brasil e no exterior aumenta o risco financeiro para as companhias aéreas.

Na pandemia, a taxa Selic estava em 2%, menor patamar da série histórica. Hoje, está em 11,75%, o que coloca os juros cobrados pelos bancos por volta desse nível.

No exterior, os juros, embora um pouco mais baixos, também estão elevados, e ainda há o risco cambial proveniente da instabilidade do real, segundo Viana.

"As empresas aéreas apresentam uma estrutura financeira precária em um cenário desafiador, apesar dos recentes resultados operacionais positivos", diz o consultor.

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