Chefe do FMI diz confiar em Milei 'pragmático' apesar de contratempos

Kristalina Georgieva afirma estar 'satisfeita' com os planos do libertário, embora Congresso resista

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Ciara Nugent Claire Jones
Buenos Aires e Washington | Financial Times

A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, elogiou o presidente argentino Javier Milei como sendo "muito pragmático" e enfatizou a confiança do fundo em seus esforços para reformar a economia em crise, apesar de uma série de contratempos políticos.

"Até agora, vimos uma boa equipe econômica em ação, um presidente muito pragmático —não confinado ideologicamente, mas buscando maneiras de o país sair dessa dificuldade", disse Georgieva em uma coletiva de imprensa em Washington na quinta-feira (1º), referindo-se à pior crise econômica da Argentina em duas décadas.

Diretora-executiva do Fundo Monterário Internacional, Kristaline Georgieva, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça
Diretora-executiva do Fundo Monterário Internacional, Kristaline Georgieva, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça - Denis Balibouse/Reuters

Milei, um economista libertário que assumiu o cargo em dezembro, prometeu reduzir gastos e reconstruir as reservas do banco central para colocar de volta nos trilhos o programa de empréstimo problemático de US$ 44 bilhões da Argentina. No entanto, analistas locais alertaram que o outsider político, cujo partido controla menos de 15% dos assentos no Congresso, pode ter dificuldades para implementar seus planos.

Na semana passada, Milei retirou um conjunto de medidas fiscais no valor de cerca de 1,4% do produto interno bruto de um projeto de reforma que ele está tentando aprovar no Congresso argentino, devido às negociações paralisadas com os legisladores da oposição.

As medidas eram consideradas cruciais para os cortes de gastos e aumentos de impostos equivalentes a 5% do PIB necessários para atingir a meta de um superávit fiscal de 2% acordada por Milei com o FMI para 2024.

Um juiz decidiu nesta semana que uma seção crítica de um decreto presidencial emitido por Milei em dezembro, que desregulamentava o mercado de trabalho da Argentina, era inconstitucional.

A retirada do pacote fiscal por parte de Milei foi "uma decisão pragmática", disse Georgieva. "Você se move onde há mais consenso. Também analisamos as consequências dessa decisão sobre as metas apropriadas e ficamos satisfeitos que há um plano de contingência em vigor."

O sucesso da recuperação da Argentina é de grande importância para o FMI. A Argentina é o maior devedor do fundo, e seu programa, acordado pela primeira vez em 2018 e refinanciado em 2022, estava "significativamente fora do caminho", disse Georgieva em um comunicado na quarta-feira (31), citando "políticas inconsistentes" do governo peronista de esquerda anterior.

O conselho do FMI aprovou um desembolso de US$ 4,7 bilhões do empréstimo na quarta-feira, concedendo isenções para uma série de metas não cumpridas pelo governo anterior.

O fundo também concordou em prorrogar o programa por três meses além da data original de término em 24 de setembro, adiando as revisões para permitir que Milei tenha mais tempo para atingir as metas.

A crise do país deve se intensificar nos próximos meses, à medida que os argentinos sentem o impacto das primeiras reformas de Milei, que incluem uma desvalorização oficial de 54% do peso, cortes nos subsídios de energia e transporte e a remoção de acordos de fixação de preços para alimentos e combustíveis. A inflação anual em dezembro foi de 211% —a mais alta em três décadas.

Na terça-feira (30), o FMI rebaixou sua previsão de crescimento econômico para a Argentina em 2024 para uma contração de 2,8%, citando o provável impacto de "um ajuste significativo de políticas para restaurar a estabilidade macroeconômica".

Georgieva, que se encontrou com Milei em Davos no mês passado, disse que ele reconheceu a necessidade de "mais proteção social" para os argentinos mais pobres.

"Estamos apoiando o povo argentino. Continuaremos a fazê-lo", disse ela. "Estou impressionada com a abertura do presidente e do governo para conselhos e boas discussões de políticas."

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