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Comento o caso do servidor Wadson, 36, que consumiu sua reserva em um imóvel

Com muitos desejos, é necessário diferenciar sonhos e objetivos e fazer bom planejamento

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Michael Viriato Araujo

É professor e assessor da Casa do Investidor e autor do blog De Grão em Grão, na Folha. Foi professor de finanças do Insper, da USP e da FGV nos últimos 15 anos. Possui as certificações financeiras CFA e CFP

Sou psicólogo, servidor público e clínico particular. Meu salário líquido fica entre R$ 7.500 e R$ 8.500. Na clínica varia bastante. Em 2022, tive meses com R$ 3.500, mas, em 2023, tive, no máximo, meses com R$ 900,00. Comprei um imóvel para realizar a sonho de decorar e ter uma casa com meu estilo. Ele é pequeno, tem 42 metros quadrados, mais uma vaga de garagem e uma de moto, em um prédio pequeno com baixo custo de condomínio. O apartamento custou R$ 259 mil; paguei R$ 189 mil e financiei R$ 70 mil por 10 anos, mas pretendo quitar em menos tempo. Eu tinha R$ 70 mil de reserva que não usei para quitar o apartamento porque pretendo usar esse valor para a reforma dele. Na verdade, quero deixar de reserva R$ 40 mil para emergências e utilizar R$ 30 mil para a reforma, mais o meu salário. Também vendi bitcoin, que me deu R$ 9.000. Com esse dinheiro, mais os acréscimos, paguei um dos custos, a marmoraria (R$ 11 mil). Prevejo que vou gastar um total de R$ 90 mil na reforma dos interiores. Meu sonho é ter minha independência financeira por volta dos 50 anos, parar de trabalhar e me dedicar a pesquisa de mestrado e doutorado com uma renda líquida mensal de R$ 15 mil. Como faço para realizar tantos sonhos?

Wadson

36 anos

A distinção entre sonhos e objetivos reside essencialmente na arquitetura do planejamento. Muitas vezes nos confundimos entre um e outro e acreditamos que tudo pode ser possível. Afinal, como se diz, se é para sonhar, sonhe grande. Entretanto, a realidade sempre se revela no fim. Para não haver surpresas negativas, um bom planejamento é importante para calibrar o sonho e transformá-lo em objetivo.

Na sociedade em que vivemos, é natural nos perdermos em uma infinidade de sonhos de consumo. Muitas vezes, um alerta em nosso inconsciente nos diz se estamos sonhando alto demais.

Esse alerta surgiu para Wadson, psicólogo, 36 anos e servidor público.

Ele deseja alcançar a independência financeira até os 50 anos com uma renda de R$ 15 mil e assim se dedicar aos estudos e pesquisa em sua área.

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Wadson, 36, pretende elevar em 50% a renda na aposentadoria em 14 anos, mas consumiu sua reserva em imóvel - Catarina Pignato

Entretanto, ele acaba de comprar um apartamento que, junto com reformas, custou R$ 300 mil.

Essa aquisição consumiu todas suas reservas. Sobraram apenas R$ 40 mil que ele preferiu manter como reserva de emergência. Entretanto, ainda há um financiamento de R$ 70 mil para quitar o mesmo imóvel.

Sua dúvida é: "Como faço para realizar tantos sonhos?"

Para responder a esta pergunta, precisamos entender se o desejo de Wadson de ter uma renda de R$ 15 mil é apenas um sonho ou, caso não seja possível, como transformá-lo em objetivo.

Nesta simulação, vou desconsiderar a dívida do financiamento, pois ela pode ser praticamente quitada com a reserva atual.

Sua renda como funcionário público é próxima de R$ 8.000 mensais. Entretanto, por meio de atividades extras, ele consegue ampliar essa renda em mais R$ 2.000 por mês, em média.

Para cumprir seu desejo de ter uma renda mensal de R$ 15 mil a valores de hoje dos 50 aos 95 anos, ele precisaria ter um patrimônio financeiro, também a valores de hoje, de R$ 3,26 milhões ao atingir 50 anos.

Para esse cálculo, assumi um rendimento líquido de IR de IPCA+5% ao ano nas aplicações financeiras. Esta é uma rentabilidade adequada para um investidor com perfil entre conservador e moderado, para o longo prazo.

Vamos considerar o mesmo retorno no plano de acumulação de capital, ou seja, nos próximos 14 anos.

Para alcançar este patrimônio, Wadson precisaria poupar R$ 13,5 mil mensais.

A poupança necessária é maior que a renda líquida de Wadson neste momento. Portanto, nas condições atuais, este desejo é apenas um sonho.

Logo, só há duas alternativas. Encontrar alguma forma de elevar significativamente a renda para que a poupança necessária seja possível, ou realizar um ajuste no sonho para transformá-lo em objetivo.

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Desta forma, vamos realizar um ajuste no plano de forma a alcançar um objetivo mais próximo de seu desejo.

Considere que Wadson consiga poupar 30% de sua renda atual de R$ 10 mil líquidos de IR, ou seja, R$ 3.000 por mês. Também, vamos assumir que em vez de se aposentar aos 50 anos, ele aceite trabalhar mais 15 anos, ou seja, até os 65 anos.

Com este investimento mensal, ele deve acumular, aos 65 anos, um patrimônio financeiro de R$ 2,31 milhões a valores de hoje.

Este patrimônio financeiro pode proporcionar uma renda de R$ 12,3 mil mensais a valores de hoje por 30 anos, ou seja, até que ele atinja 95 anos.

Portanto, Wadson pode ter uma renda próxima da que almeja, mas deve esperar e trabalhar 15 anos a mais do que deseja.

Para tanto, basta que ele tenha disciplina para poupar 30% de sua renda em ativos que remunerem um mínimo de IPCA+5% ao ano, líquidos de IR.

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