Consórcio com gigante chinês vence leilão do trem SP-Campinas com proposta única

Grupo arrematou projeto com deságio de 0,01%; investimentos previstos são de R$ 14,2 bilhões

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São Paulo

Com uma única proposta, o leilão do projeto de trem que vai ligar São Paulo a Campinas foi vencido pelo consórcio C2 Mobilidade Sobre Trilhos. O grupo ofereceu um desconto (deságio) de 0,01% no pagamento de R$ 8 bilhões que o Governo de São Paulo terá de realizar, saindo vencedor do certame desta quinta-feira (29), na sede da B3, na capital paulista.

Encabeçado pela Comporte, holding brasileira ligada à família Constantino, fundadora da Gol, o consórcio foi formado em parceria com o gigante chinês CRRC, empresa estatal que é a maior fabricante de suprimentos ferroviários do mundo.

A concessão terá duração de 30 anos e será feita do modelo de PPP (parceria público-privada).

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante leilão do trem intercidades, na B3
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante leilão do trem intercidades, na B3 - Cauê Diniz/Divulgação B3

Prometido há décadas por diferentes gestões estaduais, o chamado TIC (Trem Intercidades) foi colocado como uma das prioridades do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), com previsão de investimento total de R$ 14,2 bilhões.

A concessão envolve três serviços. Além da criação do expresso de média velocidade, o edital inclui a implementação de um "trem parador" conectando Jundiaí a Campinas e a concessão da linha 7-rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

No evento, Tarcísio minimizou a ausência de concorrentes no leilão e disse que o deságio, mesmo pequeno, representa sucesso do trâmite.

"Nem sempre é fácil conseguir organizar tudo e montar consórcio. A gente começou essa jornada com três, quatro grupos interessados, mas ao longo do tempo foi afunilando. Ao final, o leilão é um sucesso. Contratamos o trem intercidades e ele vai virar realidade"

Após a confirmação do consórcio vencedor, o governador subiu ao púlpito para participar do que chamou de "cerimônia de quebra do martelo", em referência a seu já tradicional hábito de desferir marteladas violentas no encerramento dos leilões.

Tarcísio começou seu discurso agradecendo o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que aprovou financiamento no valor de R$ 6,4 bilhões para apoiar o aporte público do Estado de São Paulo no projeto.

O governador disse que ainda tem "muito café para tomar" com Aloizio Mercadante, presidente do banco de fomento, para trazer mais recursos para a infraestrutura de São Paulo.

"A gente tem que destacar o ineditismo e a vanguarda do BNDES, porque esse projeto está saindo com uma operação de crédito autorizado antes da realização do leilão. Isso dá uma segurança para o investidor muito grande sobre o aporte que o governo vai fazer", afirmou.

Segundo Tarcísio, o projeto do trem de Campinas a São Paulo é emblemático e vai abrir um ciclo de novos investimentos em São Paulo. "É o primeiro trem de média velocidade do Brasil", disse. "As pessoas vão poder morar tranquilamente em Campinas, em Jundiaí e trabalhar em São Paulo, ou vice-versa", acrescentou.

Após encerrar seus agradecimentos, o governador convocou políticos e representantes do setor público e privado para bater o martelo.

"Com todo esse pessoal aqui nós vamos literalmente descer a porrada", disse. Tarcísio deu quatro golpes fortes, mas, desta vez, não quebrou a base.

O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), ficou ao lado de Tarcísio enquanto o governador bateu o martelo. "O trem vai impulsionar os negócios da região, facilitar o deslocamento das pessoas entre as cidades, abrir oportunidades, gerar emprego e renda", disse.

José Efraim Neves, diretor do Grupo Comporte, lembrou que a empresa venceu o metrô de Belo Horizonte no ano passado e que tem experiência com o VLT da Baixada Santista. "Estamos ampliando nosso portfólio sobre trilhos".

Neves participou da cerimônia de batida de martelo ao lado de Henrique Constantino e Joaquim Constantino, sócios da Comporte.

Hoje, a família Constantino atua na Gol por meio da Abra, holding formada em 2022, que controla a colombiana Avianca e a aérea brasileira. Constantino de Oliveira Junior, irmão de Henrique, é o presidente do conselho da holding.

No fim de janeiro, a Justiça dos Estados Unidos aceitou o pedido de recuperação judicial feito pela Gol. Na ocasião, a empresa anunciou US$ 8,3 bilhões (R$ 40,7 bilhões) em dívidas.

Questionado se o processo de recuperação da Gol teria influência na operação da Comporte, Neves disse que não. "Nós estamos muito preparados para enfrentar essa situações e os assuntos da Gol são tratados apartados do leilão aqui da Comporte", afirmou.

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Os executivos da Comporte, Henrique Constantino, José Efraim Neves e Joaquim Constantino, durante cerimônia de batida do martelo - Cauê Diniz/Divulgação B3

Previsto no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o TIC terá 101 quilômetros de extensão e ligará a estação da Barra Funda (zona oeste de São Paulo) ao centro de Campinas, com parada apenas em Jundiaí.

A velocidade máxima no trajeto será de 140 quilômetros por hora, o que fará do trem o mais rápido do Brasil. Com isso, o deslocamento entre as duas cidades deve ser percorrido em 1h04.

O edital também define um preço máximo para a passagem, de R$ 64, que será reajustado pela inflação anualmente. Ao longo do ano, a tarifa média terá que ser de R$ 50. O concessionário vai poder cobrar os R$ 64, mas haverá outras faixas de preço para que se atinja a média de R$ 50.

As obras devem durar cerca de sete anos, com as primeiras viagens das linhas paradoras acontecendo em 2029, e o trem expresso estreando em 2031.

Até dias antes do leilão, havia a expectativa de que pelo menos dois consórcios participassem. Além do grupo com a Comporte, era especulado que um consórcio encabeçado por CCR, grupo brasileiro de infraestrutura, e Alstom, empresa francesa dedicada ao setor ferroviário, participasse.

O critério do leilão foi o maior desconto no pagamento que o Governo de São Paulo fará anualmente à empresa vencedora depois que a obra estiver concluída. O valor é chamado de contraprestação pecuniária, a ser pago por 30 anos após o início da operação, totalizando R$ 8 bilhões.

Conheça o consórcio

Comporte
Grupo brasileiro ligado à família Constantino, fundadora da Gol, é responsável hoje pela administração do metrô de Belo Horizonte. A holding, que atua no setor de transportes, também tem experiência na operação do VLT (veículo leve sobre trilhos) da Baixada Santista.

CRRC
Estatal chinesa, a CRRC é a maior fabricante de suprimentos ferroviários do mundo, responsável pela produção de locomotivas e vagões usados por operadores de metrôs, bondes e outros veículos, como os trens de alta velocidade que ligam Santiago a Chillán, no Chile.

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