Dez livros para navegar a economia em 2024

Colunistas da Folha sugerem leituras para o ano que começa depois do Carnaval

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São Paulo

A Folha pediu a colunistas de economia que indicassem um livro que ajude a navegar pelos acontecimentos econômicos previstos para este ano que começa depois do Carnaval.

Inteligência artificial e China estão entre os principais temas sugeridos. Veja abaixo dez recomendações.

No centro da imagem um gato preto com focinho branco folheia um livro de páginas brancas. O gatos está sentado sobre uma toalha de renda, o livro está iluminado por uma luminária alaranjada, e atrás de toda a cena há uma estante cheia de livros.
Bruna Barros/Folhapress

André Roncaglia

Professor de economia da Unifesp e doutor em economia do desenvolvimento pela FEA-USP

Capa do livro 'Como a China Escapou da Terapia de Choque'

Como a China Escapou da Terapia de Choque: O Debate da Reforma de Mercado
Isabella M. Weber, editora Boitempo (472 págs.) R$ 74,69 e R$ 75,72 (ebook)

"Como a China Escapou da Terapia de Choque", de Isabella Weber, oferece uma análise profunda e meticulosa da transformação econômica da China desde a abertura capitaneada por Deng Xiaoping. Weber argumenta que a terapia de choque econômico devastou muitas economias em transição do modelo soviético ao capitalismo de mercado (como a Rússia). Evitando essa rota, a China alcançou um crescimento econômico notável, combinando controle estatal sobre setores estratégicos com reformas de mercado. O livro contesta a narrativa convencional de que a liberalização do mercado é a única via para o crescimento econômico. É leitura essencial para aqueles que desejam compreender a ascensão econômica da China e como o país lida com os desafios do seu desenvolvimento.

Cecilia Machado

Capa do livro 'Chip War'

Chip War: The Fight for the World’s Most Critical Technology
Chris Miller, editora Scribner
Book Company (464 págs.)
R$ 242,50 e R$ 37,90 (ebook)

Economia e geopolítica estarão andando de mãos dadas em 2024. Em "Chip War", Chris Miller mostra como o controle sobre a tecnologia mais importante do mundo —a produção de chips e semicondutores— está influenciando a competição econômica e a disputa geopolítica entre China e EUA. O livro é uma excelente leitura para entender como Taiwan se tornou o centro das exportações de chips mais avançados e por que uma eventual volta de Trump à Presidência dos EUA, e o seu posicionamento com relação à independência de Taiwan, amplia os riscos de conflito entre os dois países.

Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

Capa do livro Nós do Brasil

Nós do Brasil: Nossa Herança e Nossas Escolhas
Zeina Latif, editora Record (252 págs.) R$ 49,92 e R$ 34,90 (ebook)

"Nós do Brasil: Nossa Herança e Nossas escolhas", da economista Zeina Latif, é uma obra que analisa os fatores históricos, políticos, sociais e culturais que influenciam a economia brasileira. A autora traz uma reflexão abrangente sobre os desafios e as oportunidades que o país enfrenta, bem como as escolhas que precisam ser feitas para superar os entraves, ou "nós", que impedem o desenvolvimento socioeconômico e o enfrentamento das desigualdades. Nesse sentido, o livro é um guia útil para termos em mente quais deveriam ser a questões prioritárias para a política econômica do Brasil em 2024.

Marcos Mendes

Pesquisador associado do Insper, é organizador do livro 'Para não esquecer: políticas públicas que empobrecem o Brasil'

Capa do livro How the world became rich

How the World Became Rich: The Historical Origins of Economic Growth
Mark Koyama e Jared Rubin, editora Polity (240 págs.), US$ 51,50 e US$ 20 (ebook)

"How the World Became Rich - The Historical Origins of Economic Growth" faz
um sumário da pesquisa sobre as razões do sucesso econômico das nações desenvolvidas e dos emergentes ao longo da história, deixando claro que o caminho protecionista, no qual insistimos há décadas, é equivocado. Destaco o seguinte trecho:

"As economias do Leste da Ásia eram todas relativamente pequenas. Portanto, elas foram obrigadas a depender dos mercados internacionais. Elas não caíram na armadilha em que muitos países em desenvolvimento maiores caíram, de depender de tarifas protetoras e subsídios para apoiar a indústria nacional. (...) Tarifas protetoras e subsídios pareciam plausíveis em países com grandes mercados domésticos, como Brasil e Índia. Tais políticas poderiam funcionar (como na América do século 19), mas na prática muitas vezes libertavam os fabricantes domésticos da ameaça da concorrência internacional e incentivavam a busca de renda e a corrupção." (pág. 209) (*)

Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

Capa do livro 2041: Como a inteligência artificial vai mudar sua vida nas próximas décadas

2041: Como a Inteligência Artificial Vai Mudar sua Vida nas Próximas Décadas
Kai-Fu Lee e Chen Qiufan, editora Globo Livros (480 págs.), R$ 59,42 e R$ 44,90 (ebook)

Entusiastas, críticos e céticos sobre a inteligência artificial precisam concordar em um ponto: o uso da
IA espalhou-se rapidamente na economia. Indústria, serviços e comércio vivem, hoje, uma nova corrida por ampliar sua produtividade e assertividade com o uso da nova tecnologia. Agora, é hora de enxergar quais empresas estão preparadas para correr essa maratona e quais não passarão dos 100 metros rasos. O livro "2041" traz uma coletânea de contos (escritos por Chen Qiufan) baseados na visão de futuro de Kai-Fu Lee, especialista em inteligência artificial e ex-presidente do Google China. Os autores intercalam os contos com explicações extremamente didáticas sobre as tecnologias neles citadas, seus impactos e usos atuais. Divertido e essencial para quem quer farejar os próximos passos da economia.

Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper

livro vermelho

Good economics for hard times (Boa economia para tempos difíceis)
Abhijit V. Banerjee e Esther Duflo, editora Zahar (464 págs.), R$ 74 e R$ 7,52 (ebook)

Publicado em 2019, o livro escrito por Abhijit Banerjee e Esther Duflo coincide com o ano em que a dupla foi agraciada com o Prêmio Nobel de Economia, reconhecendo suas notáveis contribuições na busca por soluções eficazes no enfrentamento da pobreza global. Na obra, o casal se propõe a apresentar uma visão empiricamente fundamentada sobre temas cruciais, como pobreza, desigualdade, educação, mudanças climáticas, imigração, crescimento econômico e comércio internacional.

Rodrigo Tavares

Professor catedrático convidado na NOVA School of Business and Economics, em Portugal. Nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial, em 2017

Capa do livro The coming wave

The Coming Wave: A.I., Power and The Twenty-First Century’s Greatest Dilemma
Mustafa Suleyman e Michael Bhaskar, editora Crown (352 págs.), US$ 24 e US$ 13,99 (ebook)

Em "The Coming Wave: AI, Power and the Twenty-First Century’s Greatest Dilemma", Mustafa Suleyman apresenta o impacto transformador da inteligência artificial na maneira como organizamos a nossa vida diária, conduzimos negócios e como os serviços públicos são prestados pelo Estado. Suleyman explora o papel multifacetado da IA como uma catalisadora de prosperidade, uma possível armadilha que leva à vigilância constante ou uma fonte de inércia e desesperança. Como cofundador da DeepMind, adquirida pela Google, o autor traz uma expertise de primeira mão para a discussão.

Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

Capa do livro 'Capitalismo sem rivais: O futuro do sistema que domina o mundo'

Capitalismo sem Rivais: O Futuro do Sistema que Domina o Mundo
Branko Milanović,
editora Todavia (376 págs.),
R$ 79,23 e R$ 54,90 (ebook)

Em 1989, quando caía o Muro de Berlim e o governo chinês respondeu com violência a protestos na praça Tiananmen, o futuro dos sistemas alternativos ao capitalismo entrava na berlinda. No Brasil, a hiperinflação deixada pelos militares ainda complicava a vida dos primeiros governos civis. E, nesse contexto, Mário Covas descreveu com perfeição o problema da economia brasileira, que persiste até hoje: "O Brasil não precisa apenas de um choque fiscal. Precisa, também, de um choque de capitalismo, um choque de livre iniciativa, sujeita a riscos, não apenas a prêmios". Desde então, o capitalismo chinês decolou, assim como a Alemanha integrada. E o Brasil, em 2024, continua precisando de um choque de capitalismo, mesmo que seja para rejeitá-lo. E nenhum livro explica melhor o sucesso do sistema capitalista nas últimas décadas que "Capitalismo sem Rivais: O Futuro do Sistema que domina o Mundo", de Branko Milanović (traduzido por Bernardo Ajzenberg). Branko mostra não somente os limites do sistema capitalista atual mas como as suas diferentes versões, como o capitalismo político chinês, podem informar o futuro da economia global. É um livro imperdível, do maior expert mundial sobre desigualdade de renda, que nos ajuda a entender a economia mundial em 2024 e além.

Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP

Capa do livro 'História econômica global: Uma breve introdução'

História Econômica Global: Uma Breve Introdução

Robert C. Allen, editora L&PM Pocket (210 págs.), R$ 29,07 e R$ 16,90 (ebook)

Se for para escolher um livro somente, seria "História Econômica Global", do professor de Oxford Robert
G. Allen. Difícil alguém conseguir dizer tanto em tão poucas páginas. Pode ser o roteiro para a preparação e organização de qualquer curso de graduação ou de pós do tema.
O ano de 2023 foi caracterizado pela reversão dos choques inflacionários da pandemia. Me parece que esse processo terminou (ou está próximo do fim) e, portanto, a discussão conjuntural em economia em 2024 será bem convencional. Voltaremos, penso, a um mundo em que os livros-texto de macro dão conta dos temas. Por isso minhas recomendações atendem mais a questões estruturais, e recomendo um livro de história econômica. Olhar para trás às vezes é o melhor que podemos fazer para olhar para a frente.
Se puder ir além de uma só sugestão, o historiador econômico de Berkley, J. Bradeford DeLong publicou em 2022 a belíssima história do que ele chama de o longo século 20: "Slouching Towards Utopia: An Economic History of the Twentieth Century". Para acompanhar a evolução da China, o livro —não longo— da professora da London School of Economics Keyu Jin, "The China Playbook", é uma ótima fonte, apesar de alguma limitação na discussão das contradições e riscos da atual liderança.

Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management

Capa do livro 'Civilização: Ocidente x Oriente'

Civilização: Ocidente x Oriente
Niall Ferguson, editora Crítica (432 págs.), R$ 51,90

Em "Civilização: Ocidente x Oriente e as Origens
do Conflito Global", Niall Ferguson —um dos
historiadores mais influentes da atualidade— apresenta uma análise abrangente da história do Ocidente, destacando os fatores que contribuíram para seu sucesso e influência ao longo do tempo. Indico o livro porque acredito que entender geopolítica é cada vez mais importante para tomarmos decisões econômicas. Iniciamos o ano de 2024 com duas guerras em curso que podem afetar o equilíbrio de forças atuais entre o Ocidente e o Oriente. Tivemos em janeiro as eleições em Taiwan, cujo resultado tem potencial para gerar maiores tensões entre EUA e China. No mais, a eleição para a Presidência
dos EUA traz uma discussão sobre a solidez das instituições e dos valores ocidentais, além do questionamento se essa importante potência econômica conseguirá manter sua liderança, cada vez mais desgastada na ordem global. A obra de Ferguson estimula a reflexão sobre as lições da história e as implicações do passado no mundo atual, fornecendo um arcabouço para tentarmos entender o complexo cenário político e econômico de 2024.

(*) tradução feita pela Redação, do trecho enviado pelo autor no idioma original:

"The east Asian economies were all relatively small. They were therefore forced to rely on international markets. They did not fall into the trap that many larger developing countries did of relying on protective tariffs and subsidies to support domestic manufacturin firms. (...) Protective tariffs and subsidies appeared plausible in countries with large domestic markets like Brazil and India. Such policies could work (as in 19th-century America), but in practice they often freed domestic manufacturers from the threat of international competition and encouraged rent-seeking and corruption." (pág. 209)

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