Descrição de chapéu Financial Times banco digital

Nubank deve anunciar seu maior lucro da história em 2023, preveem analistas

Anúncio de resultados está marcado para o dia 22; banco digital quer avançar no México, onde uso do dinheiro é predominante

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Michael Pooler Christine Murray
São Paulo e Cidade do México | Financial Times

O Nubank estabeleceu ambições de se tornar o maior grupo de serviços financeiros da América Latina. O banco digital, avaliado em US$ 44 bilhões, prevê atingir a marca de US$ 1 bilhão em lucro anual.

Em entrevista ao Financial Times, o CEO, David Vélez, disse que a empresa que ele lançou no Brasil há cerca de uma década poderia se tornar a maior da região em número de clientes, com expansão em andamento no México e na Colômbia.

"Acho que isso acontecerá eventualmente", disse o colombiano de 42 anos. "Agora estamos entre os cinco primeiros. Vemos um caminho para nos tornarmos a principal instituição financeira da América Latina e uma das principais do mundo ao longo de algumas décadas".

Sede da Nubank na rua Capote Valente, em São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

Após reduzir as perdas para US$ 9,1 milhões em 2022, analistas preveem que o grupo relatará US$ 1 bilhão de lucro líquido anual para 2023 neste mês.

"É a primeira vez que um banco digital ocidental atinge essa marca, então isso deve dar confiança aos pares e investidores sobre o que pode ser alcançado", disse Christoph Stegmeier, da consultoria de gestão Simon-Kucher & Partners.

Depois de sacudir o setor bancário tradicional do Brasil, que costumava cobrar por serviços básicos como contas e transferências de dinheiro, a próxima grande aposta da empresa é o México.

O país "tem o potencial de ser tão importante quanto o Brasil para nós", disse Vélez, citando a grande população de quase 130 milhões e maior renda per capita. Mais da metade dos adultos mexicanos não possui uma conta bancária, segundo o órgão regulador CNBV (Comissão Nacional Bancária e de Valores do México).

"A penetração de serviços financeiros lá é muito menor do que no Brasil", acrescentou o empresário colombiano.

Isso se deve a uma questão de oferta, não de demanda, argumentou ele, mirando nos credores arraigados do país.

"É um oligopólio estabelecido que tem sido extremamente conservador, não quer correr nenhum risco e passou a acreditar que pode culpar os consumidores e não a si mesmos".

O Nubank começou como um cartão de crédito sem taxa gerenciado por um aplicativo móvel e, com crescimento rápido, expandiu-se para uma oferta bancária completa, desde contas correntes até investimentos e seguros. Hoje, possui 90 milhões de usuários, a maioria dos quais está em seu país de origem.

Embora ainda menor do que os incumbentes regionais, como a Caixa Econômica Federal do Brasil, que possui cerca de 150 milhões de clientes, o grupo de tecnologia financeira sem agências diz que está adicionando cerca de 1 milhão de clientes por mês.

A fintech sediada em São Paulo abriu capital em Nova York no final de 2021, pouco antes de uma queda nos valores no setor de tecnologia em geral.

As ações da Nu Holdings, como a entidade listada é formalmente conhecida, aumentaram mais de 80% nos últimos 12 meses, subindo um pouco acima de seu preço de oferta pública inicial de US$ 9. Os acionistas incluem SoftBank e Berkshire Hathaway de Warren Buffett.

Com lucro líquido acima de US$ 300 milhões no terceiro trimestre, o ROE (retorno anualizado sobre o patrimônio líquido) do Nubank —uma métrica-chave de lucratividade no setor bancário— foi de 21% no período. "Isso realmente nos posiciona como uma das instituições financeiras mais lucrativas da América Latina", disse Vélez.

No entanto, o banco terá trabalho para replicar o sucesso brasileiro no México, onde várias indústrias são dominadas por oligopólios e têm reguladores cautelosos.

A lenta digitalização do México e a forte preferência por dinheiro foram chamadas de "quebra-cabeça" por um think-tank. Em quatro anos desde sua entrada, Nubank se tornou um dos maiores emissores de cartões do México em volume e possui 5,5 milhões de clientes, de acordo com a empresa.

A carteira de empréstimos cresceu pouco mais de 1% nos seis meses até setembro e, em valor, a participação de mercado de cartões de crédito é um pouco mais de 2%, de acordo com dados regulatórios.

David Velez, cofundador e CEO do Nubank, durante Web Summit Rio 2023 - Mauro Pimentel/AFP

"Tendemos a pausar às vezes para lançar novos modelos de crédito", disse o CEO. "Ao longo de um período mais longo, você nos verá continuando a ganhar uma participação significativa no mercado".

Especialistas da indústria bancária dizem que é difícil obter grandes lucros com cartões de crédito de massa no México devido às altas taxas de inadimplência e ao uso esporádico de baixo valor. Os emissores de cartões também têm que pagar aos varejistas em poucos dias, em comparação com 30 dias no Brasil.

As taxas de inadimplência do Nubank no México são mais altas do que a média de seus pares, o que a empresa atribui ao grande número de clientes de cartão de primeira viagem. Ela está oferecendo um rendimento anual de 15% sobre depósitos.

"Se o Nubank conseguir calibrar os riscos adicionais que está assumindo com o maior lucro que pode ter com essa nova base de clientes, pode funcionar. É uma questão, ninguém fez isso em grande escala antes", disse Guillermo Ortiz, ex-presidente do banco central do México e membro do conselho do BTG Pactual.

Embora o foco do Nubank por enquanto seja nos três mercados em que opera —Brasil, México e Colômbia—, ela também está considerando entrar em novos territórios na América Latina e em outras regiões, de acordo com Vélez.

Isso poderia incluir eventualmente os EUA, acrescentou ele. O Nubank lançou recentemente um serviço que permite que seus clientes no México recebam remessas de lá.

"Isso pode ser uma oportunidade interessante, especialmente considerando o alto percentual de latinos nos Estados Unidos", disse o executivo.

Pedro Leduc, analista do Itaú BBA, afirmou que as expectativas do mercado para que o Nubank alcance um ROE de 30% em 2024 o tornariam o banco de consumo de grande porte mais lucrativo da América Latina.

No entanto, ele argumentou que é necessário adaptar mais serviços para segmentos mais ricos no Brasil, onde o banco atende um a cada dois adultos.

"Para continuar crescendo e ganhar mais participação de mercado, eles devem começar a personalizar seus produtos para atender melhor o cliente de alta renda. Esse é o grande desafio para eles em 2024."

Vélez afirmou que isso já é uma prioridade, citando como exemplos empréstimos consignados para funcionários e um cartão premium com cashback.

"O setor bancário na América Latina é uma oportunidade de US$ 1 trilhão em valor de mercado", acrescentou. "Estamos prontos para ser o líder."

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