Programa com proteção cambial terá R$ 27 bi do BID para financiar transição energética

Programa foi lançado pelo governo federal nesta segunda (26)

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São Paulo

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou nesta segunda-feira (26) um programa para tentar atrair capital estrangeiro e financiar projetos ligados à transição energética. A iniciativa movimenta US$ 5,4 bilhões (R$ 27 bilhões) do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Como mostrou a Folha em reportagem deste domingo (25), o Programa de Mobilização de Capital Privado Externo e Proteção Cambial terá parceria com organismos multilaterais para viabilizar financiamentos.

Em uma dessas frentes, o BID vai contratar instrumentos de proteção cambial no exterior e repassá-los, por meio do Banco Central, para instituições financeiras no Brasil. Conhecida como hedge, essa ferramenta blinda investidores das oscilações do dólar.

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron - Diogo Zacarias - 30.mar.23/Ministério da Fazenda

Por ser uma instituição multilateral com baixo risco de crédito (nota superior à do governo brasileiro), o BID consegue obter essa proteção com custo menor do que seria obtido por um banco no Brasil.

Dessa forma, o custo para proteger esses investimentos contra a variação cambial será menor.

Do total, US$ 3,4 bilhões (R$ 17 bilhões) serão repassados pelo BID para operações de crédito com hedge, em projetos de longo prazo, superiores a dez anos.

Outros US$ 2 bilhões (R$ 10 bilhões) da instituição, além de mais US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) do Banco Mundial, vão entrar diretamente na conta do Tesouro Nacional para abastecer o Fundo Clima e alimentar quatro outras linhas de apoio ao financiamento de projetos de transição energética.

Para este ano, há ainda a previsão de R$ 10,4 bilhões para o Fundo Clima, abastecidos com a emissão de títulos verdes pelo governo federal. O financiamento está disponível para todos os projetos do PTE (Programa de Transformação Ecológica).

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse que esse é um programa de mobilização de capital privado e que as instituições financeiras vão competir por esses recursos.

"Buscamos estimular o mercado de capitais do país e não concorrer com ele", afirmou Ceron.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que, no caso do hedge para financiamentos de longo prazo, o principal custo que impacta a proteção não é a volatilidade do câmbio, mas a diferença entre os juros no Brasil e no exterior.

Segundo ele, o BC não irá assumir qualquer risco nessa operação nem utilizará instrumentos como "swaps" cambiais ou reservas internacionais nessa iniciativa.

De acordo com a Fazenda, será editada uma medida provisória que estabelece a criação do programa, no âmbito do Fundo Clima, a linha de crédito e a autorização para atuação do BC como intermediário da iniciativa.

A estratégia para a distribuição dos recursos das linhas seguirá um modelo similar ao do Plano Safra, mas visando estimular a participação do capital privado, segundo o governo.

O Ministério da Fazenda, por intermédio do Tesouro Nacional, será responsável por regulamentar a linha de crédito e definir o processo de alocação dos recursos.

"Quando nós pensamos os eixos para a transformação ecológica, um dos primeiros é a questão de finanças sustentáveis. O que nós estamos fazendo aqui é o cumprimento desse eixo", disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.

O Tesouro Nacional vai distribuir a alocação dos recursos entre as quatro linhas de crédito: financiamento misto; provisão de liquidez, oferta de derivativos (proteção cambial) e financiamento de projetos.


As linhas

  1. Linha 'blended finance' ou financiamento misto: Envolve a combinação de recursos públicos e privados. É uma linha de crédito para complementar o financiamento para investidores que realizarem operações de captação de dívida, via mercado de capitais ou junto a instituições financeiras no exterior com mecanismos de proteção cambial
  2. Linha de liquidez e mitigação de efeitos da volatilidade cambial: Visa cobrir problemas de caixa nesses projetos em momentos de "desvalorização cambial excessiva"
  3. Linha de crédito para fomento ao hedge (proteção) cambial: Tem como objetivo estimular instituições financeiras no Brasil a oferecer esse seguro para os projetos de transformação ecológica. Elas poderão tomar a linha de crédito, investir os recursos e, com o diferencial de taxa, formar reservas que servirão de garantia contra o risco que irão assumir ao oferecer os produtos de proteção cambial
  4. Linha de crédito para estruturação de projetos: Instituições financeiras que financiarem a estruturação de projetos poderão usar essa linha de crédito como funding ou eventualmente como garantia
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