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Baterias de estado sólido ainda estão distantes, diz magnata líder do setor

Robin Zeng, considerado o 'rei das baterias', diz que tecnologia ainda levará anos para ser comercializada

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Hong Kong e Londres | Financial Times

A tão aclamada bateria de estado sólido para carros elétricos ainda levará anos para ser comercializada, com "muitos obstáculos" bloqueando seu desenvolvimento, disse o chefe da empresa chinesa que domina o setor.

Em entrevista ao Financial Times, Robin Zeng, fundador e CEO da CATL, disse que a tecnologia muito divulgada não funciona bem o suficiente, tem pouca durabilidade e ainda enfrenta problemas de segurança.

Especialistas do setor acreditam que as baterias de estado sólido, que evitam o eletrólito líquido usado na tecnologia atual, poderiam transformar os carros elétricos ao permitir uma maior autonomia. A montadora japonesa Toyota tem divulgado seu progresso, prometendo entregar baterias de estado sólido já em 2027.

Robin Zeng, CEO da CATL (Contemporary Amperex Technology), durante evento em Xangai - Hector Retamal - 21.abr.2023/AFP

Mas o "rei das baterias" da China, um físico com doutorado, questiona se seu rival japonês realmente está no caminho da comercialização a curto prazo.

"Nós apoiamos totalmente o estado sólido, mas tenho investido nisso há 10 anos", disse Zeng. "Eu observo o desenvolvimento das pessoas que trabalham com estado sólido quase todo mês, então eu sei de todo o progresso, e de alguma forma ainda temos esses obstáculos."

Zeng disse que as baterias de estado sólido só teriam grandes vantagens se usassem um novo tipo de química, com metal de lítio puro usado para o eletrodo de ânodo, acrescentando que há várias dificuldades em levar isso para o mercado.

Os íons de lítio se difundem facilmente nos eletrólitos líquidos atuais, mas não é o caso com material sólido. Engenheiros tentaram contornar o problema combinando os materiais sob pressão, disse Zeng.

"Então eles testam e dizem 'oh, muito bom, a transferência de íons é muito boa'. Mas, na realidade, como você pode colocar sob tanta pressão?"

Um segundo problema é a expansão do lítio durante o carregamento e descarregamento. Isso danifica a bateria e leva a uma vida útil curta. "Não pode durar muitos ciclos de carga, talvez 10 ciclos", disse ele. "Então, como você pode torná-lo comercialmente viável?"

Por fim, disse Zeng, ainda há questões de segurança, já que o lítio reage com a umidade do ar se uma bateria se romper durante um acidente de carro.

"Então as pessoas pressionam sobre isso, mas eu digo a eles que a CATL já gastou 10 anos nisso", disse, acrescentando que seu grupo era "o melhor" na corrida para tornar o estado sólido viável.

A CATL cresceu ao longo da última década para fornecer 37% das baterias de veículos elétricos do mundo no ano passado, e Zeng é uma voz influente no setor. A CATL também fabrica 40% das baterias usadas para armazenamento de energia, de acordo com a SNE Research.

Em vez de estado sólido, Zeng disse que seu grupo estava mirando em baterias de íon de sódio e baterias de matéria condensada —que usam um material semissólido— com protótipos já em produção.

O material semissólido pode armazenar cerca do dobro da energia das baterias de íon de lítio convencionais, afirma a CATL.

Zeng, que tinha acabado de acordar de sua soneca habitual do meio-dia, transbordava entusiasmo enquanto falava com o FT sobre sua ambição de impulsionar a CATL em tudo, desde transmissão de energia até geração de energia por meio das células solares recicláveis que o grupo está desenvolvendo.

"Não queremos fazer apenas componentes, estamos pensando em como podemos fazer um sistema, o hardware e o software, para ajudar as localidades a se tornarem neutras em carbono", disse. Ele se comprometeu a investir parte dos 264 bilhões de yuans (US$ 36,6 bilhões) da empresa em tais projetos.

A CATL também está avançando lentamente com uma venda de ações em Hong Kong, principalmente para atrair clientes como partes interessadas, disse Zeng. "Muitos de nossos clientes... eles querem investir em nós", disse. "Se vendemos baterias para eles, eles querem obter algo [de retorno] do mercado financeiro."

Mas as crescentes tensões geopolíticas entre Pequim e Washington estão ameaçando as aspirações de Zeng, com o mais recente conflito ocorrendo em dezembro, quando o cliente da CATL, Duke Energy, desconectou as baterias do grupo instaladas em uma base do Corpo de Fuzileiros Navais na Carolina do Norte.

"As baterias são como pedras ou tijolos, você as compra para construir uma casa. Quando estávamos vendendo os tijolos [para a Duke], dissemos a eles que não poderiam ser usados para fins militares... então isso na verdade viola nossos acordos. Mas se você pensar sobre isso, algo como um tijolo, na verdade, como tijolos podem espionar?" Zeng disse.

Ele comparou isso a cardápios de comida chinesa espionando os clientes. "Para mim, é como uma piada", disse ele.

Ainda assim, a situação forçou o bilionário chinês a direcionar os planos de expansão da CATL nos EUA para licenciar sua tecnologia de bateria para outros em vez de construir suas próprias fábricas de bateria.

Mesmo essa pegada mais limitada tem sido alvo de escrutínio em Washington, que está investigando o acordo de licenciamento histórico da CATL com a Ford para ajudar a montadora a construir uma nova fábrica de baterias de veículos elétricos em Michigan.

Zeng se recusou a dar mais detalhes sobre um acordo semelhante que a CATL fez com a Tesla para ajudar a montadora de veículos elétricos a expandir a produção de baterias em Nevada.

"Não dizemos licenciamento", disse. "Estamos ajudando-os a fazer uma boa bateria nos Estados Unidos... e obtemos um retorno adequado para a CATL. Não queremos ter nenhum nome para isso."

Robin Harding , Ryan McMorrow , Gloria Li e Harry Dempsey
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