Descrição de chapéu mercado de trabalho PIB

Brasil cria 180 mil vagas de emprego em janeiro, acima do esperado

Para analistas, resultado pode indicar que a economia está mais aquecida no início do ano

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São Paulo

O Brasil abriu 180.395 vagas formais de trabalho em janeiro, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgado nesta sexta-feira (15) pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

O resultado do primeiro mês do ano ficou bem acima das expectativas do mercado e já começou a soar o alerta para as perspectivas de cortes na taxa básica de juros.

A agência Reuters previa a criação líquida de 90 mil empregos, estimativa similar à feita pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). A CM Capital reuniu opiniões de que seriam 85 mil postos de trabalho abertos, e o teto entre as casas de análise era de 100 mil colocações.

O saldo entre as admissões (2,068 milhões) e as demissões (1,887 milhão) em janeiro de 2024 também bateu o registrado no mesmo mês de 2023 (90.031 postos).

 Fila para o mutirão do emprego no Sindicato dos Comerciários de São Paulo, em agosto de 2023
Fila para o mutirão do emprego no Sindicato dos Comerciários de São Paulo, em agosto de 2023

Para o pesquisador e economista do FGV Ibre Rodopho Tobler, o saldo de vagas formais mostra um mercado de trabalho mais aquecido do que o esperado. "Isso pode ser um bom indicativo de que o início do ano talvez esteja mais forte", diz. "Claro que ainda é o primeiro mês, mas realmente vem um pouco mais aquecido. É bom a gente esperar fevereiro e março, mas é um bom indicativo."

A surpresa com o saldo de vagas formais se somou às divulgações de resultados positivos —também nesta semana e também acima das projeções do mercado— no varejo e no setor de serviços em janeiro.

Nos serviços, a alta no volume foi de 0,7% em janeiro, na comparação com o mês anterior, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). As projeções eram de queda de 0,4%. As vendas no varejo avançaram 2,5% ante dezembro, e 4,1% em relação ao mesmo período do ano passado. A expectativa era de uma alta de 0,20% na comparação mensal, e de 1,30% ante 2023.

Na avaliação de João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, somados os três resultados –emprego formal, serviços e comércio– há um reforço da perspectiva de crescimento maior do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre.

Segundo Savignon, descartados os efeitos sazonais típicos, todas as atividades tiveram criação de postos de trabalho com carteira assinada.

Em janeiro, houve saldo positivo de vagas em quatro dos cinco grandes grupamentos de atividades econômicas, com destaque para a criação de 80.587 postos no setor de serviços e 67.029 na indústria. Ainda houve criação de 49.091 postos na construção e 21.900 na agropecuária.

Por outro lado, houve saldo negativo de 38.212 empregos formais no comércio.

Para Matheus Pizzani, economista da CM Capital, a criação de vagas na indústria de transformação é um ponto de atenção, pois pode sinalizar que a confiança do setor está em crescimento.

O resultado do setor de serviços também contraria, segundo ele, a sazonalidade e "a expectativa traçada até aqui em função dos efeitos deletérios da política monetária, que deveriam estar agindo no sentindo de restringir este tipo de comportamento."

Na avaliação do economista, o resultado, somado à preocupação com a inflação de serviços nos últimos meses, pode ser um alerta para a política de juros, ainda que insuficiente para mudar o ritmo de cortes até o fim deste ano.

Para os analistas da Genial Investimentos, ao mesmo em que os números do emprego formal "adicionam um viés positivo para o crescimento", eles mostram um fator de risco relevante para inflação, sobretudo de serviços.

"Nesse contexto, avaliamos que a resiliência da atividade econômica deve atuar como um fator limitador para o atual ciclo de cortes de juros que, na nossa avaliação, deve encerrar em 9,5% a.a. na reunião de julho", escreveram em relatório divulgado nesta sexta.

André Colares, da Smart House Investments, tem avaliação semelhante. "Por ora, as coisas estão parecendo bem promissoras. Mas precisamos sempre ficar atentos à economia aquecida, pois ela influencia diretamente na queda da taxa de juros."

Os novos dados desencadearam um movimento de alta nas curvas de juros futuros brasileiras nesta sexta. No fim da tarde, os contratos de juros com vencimento em janeiro de 2027 subiam de 10,03% para 10,11%, enquanto os para 2029 saíam de 10,51% para 10,60%. Nas curvas para 2029, as taxas avançavam de 10,51% para 10,61%

"Os vencimentos médios e longos foram mais impactados, e isso mostra que o mercado não vê influência sobre as decisões mais próximas do Copom, mas [os dados] podem pesar sobre a taxa terminal da Selic, com a autoridade monetária podendo encerrar antecipadamente o ciclo de queda dos juros diante dos sinais de que a economia segue resiliente", diz Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Nacionalmente, o Caged apontou que 25 das 27 unidades federativas registraram saldos positivos em janeiro, com São Paulo na liderança com 38.499 postos criados. Na ponta oposta, Maranhão teve o menor saldo, com fechamento de 831 vagas de trabalho formais.

No mês passado, o salário médio real de admissão subiu para R$ 2.118,32, uma alta real de 3,38% em relação ao mês anterior. Esse ajuste positivo é também fator de atenção, na avaliação do economista Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.

Segundo ele, o setor de serviços, sendo o maior empregador, é também o que sofre maior impacto com a alta real das remunerações. "Então Banco Central deve partir por uma maior cautela na redução de juros para um controle da inflação."

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