Fed mantém taxa de juros entre 5,25% e 5,50% nos EUA e sinaliza reduções neste ano

Decisão veio em linha com o esperado, e mercado busca pista sobre próximos passos

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São Paulo

O Federal Reserve, banco central americano, anunciou nesta quarta-feira (20) que decidiu manter os juros básicos dos Estados Unidos na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, estendendo por ainda mais tempo a pausa nas taxas iniciada em setembro de 2023.

O banco também sinalizou que a maioria das autoridades projeta que as taxas de juros americanas devem terminar o ano entre 4,5% e 4,75%, o que equivaleria a três cortes de 0,25 ponto percentual, indicando que há confiança numa redução dos custos de empréstimo em breve.

A decisão veio em linha com o esperado pelo mercado: segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, analistas viam 99% de chance de manutenção dos juros americanos na reunião do Fomc (comitê de política monetária dos EUA) desta quarta.

Fachada do Federal Reserve em Washington, nos Estados Unidos - Mandel Ngan - 18.mar.2024/AFP

Em seu comunicado, o comitê não realizou grandes alterações em relação a sua última reunião, em janeiro. A única mudança foi em relação aos dados de mercado de trabalho: o Fomc retirou um trecho em que afirmava que a criação de vagas havia sido "moderada", mencionando apenas que o indicador "permaneceu forte".

"Isso sugere que o mercado de trabalho não esteja desacelerando na velocidade desejada pelo comitê. De modo geral, a manutenção de três cortes para 2024 ao mesmo tempo em que as projeções de atividade aumentam sugere que o Fed crê em um cenário de 'goldilocks' [economia sem grandes contrações ou expansões], o que deve permitir com que o rally do mercado continue", diz André Cordeiro, economista sênior do Inter.

Já em suas projeções, apesar de o número previsto de cortes ter sido mantido, a autoridade monetária mostrou que menos dirigentes esperam reduções mais profundas de juros neste ano: em dezembro, cinco deles projetavam cortes quatro ou mais cortes de 0,25 ponto percentual; agora, apenas um manteve essa previsão.

Além disso, a projeção para crescimento da economia saiu de 1,4% para 2,1%, enquanto a previsão para taxa de desemprego caiu de 4,1% para 4%, sinalizando a visão do Fed de uma economia mais aquecida.

As revisões, no entanto, não foram suficientes para desanimar o mercado. Após a divulgação do Fed, o dólar aprofundou as perdas em relação ao real e fechou em queda de 1,09%, cotado a R$ 4,973. Já o Ibovespa acelerou o ritmo de alta apresentado desde o início do dia, terminando o dia com avanço de 1,25%, aos 129.124 pontos.

Nos EUA, os principais índices acionários registraram altas significativas: o S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq subiram 0,89%, 1,03% e 1,25%, respectivamente.

Apesar de alta nas projeções, fala de presidente tranquiliza

Em entrevista a jornalistas após o comunicado, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que os últimos números de inflação do país, que mostraram força inesperada em fevereiro, não alteraram a perspectiva de queda de inflação, apesar de também não terem aumentado a confiança das autoridades.

Segundo Powell, o momento de começar a reduzir os juros só vai ocorrer quando o Fed tiver segurança de que a inflação vai continuar a cair em direção à meta de 2%. "Queremos ser cuidadosos", disse o chefe do Fed.

O CPI (índice de preços ao consumidor americano) de fevereiro acelerou a 3,2%, ficando levemente acima das projeções. Apesar da variação discreta, a avaliação é de que a alta de preços permanece resiliente e distante da meta de 2% do Fed.

"As projeções parecem um pouco mais preocupantes, até por conta desse crescimento mais forte, mas Powell teve uma visão mais tranquila. Ele diz que as revisões não mudam a trajetória, que o crescimento mais forte não necessariamente preocupa", afirma Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset.

Agora, a maior dúvida é sobre quando o Fed deve começar a reduzir os juros. No fim do ano passado, parte do mercado começou a apostar numa redução das taxas já na reunião deste mês e em pelo menos seis cortes ao longo do ano, mas dados recentes de inflação e emprego reduziram o otimismo dos investidores.

O consenso é que o afrouxamento monetário deve ter início apenas no segundo semestre, e o mercado espera apenas quatro cortes de 0,25 ponto percentual nos juros americanos neste ano.

"A decisão do Fomc, bem como suas novas projeções, vieram melhores que o temido, mas mostram menor convicção com o ciclo de afrouxamento à frente. Existia um temor no mercado que os dados recentes mais fortes na parte de atividade e inflação pudessem mexer com a projeção do Fomc de três cortes para dois este ano", afirma Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez.

Cunha diz, no entanto, que ainda há um movimento conservador nas projeções de crescimento e inflação do Fed, que sugerem uma posição de maior cautela da autoridade americana.

Os dados sobre emprego também não ajudam. O último payroll, principal relatório de emprego dos Estados Unidos, mostrou que a criação de postos de trabalho acelerou em fevereiro, e havia 1,45 vaga aberta para cada pessoa desempregada no país em janeiro.

Com isso, a avaliação do mercado é que o Fed ainda pode esperar antes de começar a reduzir juros, já que a alta de preços continua resistente e o aperto monetário não parece ter causado desaceleração econômica.

"Dado essa incerteza quanto a evolução da inflação e do mercado de trabalho, a postura do Fomc continuará sendo de cautela, dependente dos próximos dados. O comitê enfrenta um dilema: se o Fed afrouxar a política monetária prematuramente, pode gerar um descontrole de preços, mas se aguardar muito para cortar os juros, poderá comprometer a atividade econômica", afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

O Fed iniciou em março de 2022 seu ciclo de aperto monetário, elevando as taxas de juros dos EUA de um patamar próximo de zero para a atual faixa entre 5,25% e 5,50%, o maior nível em 22 anos.

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