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Boeing prevê queda de receitas no primeiro trimestre após problemas com aviões

Fabricante enfrenta questionamentos sobre segurança depois de avião perder tampa de porta em pleno voo

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Julie Johnsson
Bloomberg

A Boeing prevê uma redução em sua receita no primeiro trimestre deste ano, período em que a fabricante de aviões teve as finanças impactadas pelos questionamentos sobre a qualidade de suas aeronaves e pela diminuição na produção do 737 Max, após um incidente em 5 de janeiro, quando a tampa da porta de um avião soltou em pleno voo.

O diretor-financeiro da Boeing, Brian West, afirmou que a saída de caixa atingirá de US$ 4 bilhões a US$ 4,5 bilhões. Para o ano inteiro, o fluxo de caixa livre estará na casa dos bilhões de dólares, mas longe de atingir as dezenas, disse o executivo em uma conferência do Bank of America em Londres na quarta-feira. Os analistas esperavam US$ 5 bilhões, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Avião da Boeing decola em pista na Inglaterra
Boeing 737 Max é alvo de críticas e desconfiança após série de problemas - Peter Cziborra - 20.jul.2022 / Reuters

A perspectiva reflete uma mudança de prioridades na Boeing, enquanto ela lida com as consequências do incidente ocorrido no início deste ano. A empresa reduziu as entregas de jatos ao mesmo tempo em que direciona recursos para mudar a sua estratégia comercial, disse West.

Os problemas ocorridos na instalação de peças está no centro das críticas sobre a qualidade dos modelos da Boeing, o que levou a uma revisão minuciosa de sua produção pelos reguladores dos EUA.

"Não estamos no momento em que podemos gerenciar o curto prazo para esses resultados financeiros por causa do trabalho em torno da estabilidade", disse West. "Nossa expectativa é que fiquemos mais previsíveis e melhor posicionados, mas levará tempo."

West espera que o resultado financeiro das aeronaves comerciais da Boeing fique negativo em cerca de 20% no primeiro trimestre, o pior desempenho desde o final de 2021. Embora as perdas devam diminuir nos meses seguintes, o balanço deve permanecer no vermelho até 2024, acrescentou.

Os reguladores limitaram a produção do 737 Max, a maior fonte de caixa da Boeing, até estarem satisfeitos de que a companhia tem um controle firme sobre a qualidade do trabalho em sua linha de produção. West disse que a produção cairá no primeiro semestre e voltará a subir na última parte do ano para cerca de 38 unidades do 737 Max por mês. "(Qualquer coisa além disso) dependerá da FAA", afirmou West, referindo-se à Administração de Aviação Civil dos Estados Unidos.

A partir de 1º de março, a Boeing parou de aceitar fuselagens da Spirit AeroSystems, empresa que montou o painel que se soltou em 5 de janeiro, que não possuem peças ou exigem reparos, comentou West. Embora isso deva reduzir a carga de trabalho para os mecânicos da Boeing, no curto prazo "pode haver variabilidade de fornecimento", disse.

As ações da Boeing avançavam 0,5% na manhã desta quarta, na Bolsa de Nova York. A empresa deve divulgar o seu balanço do primeiro trimestre no final de abril. Semanas após o incidente de janeiro, a Boeing se recusou a fornecer sua meta anual de entregas de 737, enquanto trabalhava para corrigir seus processos e enfrentava o questionamento público sobre seus padrões de produção.

A desaceleração na Boeing começa a ser sentida entre as companhias aéreas que clamam por aeronaves. O CEO da Ryanair, Michael O'Leary, disse nesta quarta-feira que a capacidade de voos no verão europeu (inverno no Brasil) será limitada pelos atrasos nas entregas da Boeing e também por problemas nos motores que afetam as aeronaves da Airbus.

A companhia aérea irlandesa voa com uma frota 100% da Boeing e foi forçada a reduzir algumas metas e destinos para o verão europeu porque não está recebendo o número de aviões que havia planejado. O'Leary disse que se encontraria com executivos da fabricante de aviões dos EUA ainda nesta quarta-feira.

As expectativas dos investidores diminuíram para o que deveria ser um ano crucial na recuperação do fabricante de uma meia década de turbulência.

O fluxo de caixa da Boeing poderia cair para cerca de US$ 8 bilhões até o final do primeiro trimestre, após pagar algumas dívidas no início do ano, disse Seth Seifman, analista do JPMorgan, a clientes. A empresa encerrou 2023 com cerca de US$ 16 bilhões em caixa e títulos de curto prazo.

Segundo o diretor financeiro, a Boeing tem reservas suficientes para pagar uma possível aquisição da Spirit Aero em dinheiro e dívida, em vez de emitir ações, disse West. Se consumado, o negócio reverteria a maior jogada de terceirização da Boeing após quase 20 anos, permitindo que a gigante aeroespacial volte a ser responsável pela supervisão de seu fornecedor de peças mais importante.

O administrador da FAA, Michael Whitaker, disse à NBC News na terça-feira (19) que saiu de uma visita recente à base industrial da Boeing, na área de Seattle (EUA), preocupado que o foco em aumentar as taxas de produção tenha arruinado a cultura de segurança da Boeing.

Dada a incerteza em torno das medidas que serão tomadas pela FAA em relação ao 737, o analista Robert Stallard, da Vertical Research Partners, sugeriu que a Boeing deveria abandonar sua meta pré-crise de gerar US$ 10 bilhões em caixa até 2025 ou 2026 até que tenha feito mais progressos na resolução de seus problemas.

West reafirmou a meta na quarta-feira, reconhecendo que as melhorias não virão posteriormente. "O primeiro passo para resolver um problema é reconhecer que ele existe", disse Stallard aos clientes. "O corte da Boeing em sua orientação de fluxo de caixa livre é um reconhecimento tardio da situação em que se encontra, mas ainda estamos preocupados que esteja sendo excessivamente otimista."

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