Biden endurece regras contra carros a gasolina, mas acena às montadoras com híbridos

Após pressão de empresas e sindicatos, programa anunciado nesta quarta prevê mix de modelos para cumprir meta de redução de emissões pela metade em 2032

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Washington

Após forte pressão da indústria e de sindicatos, o governo Joe Biden mudou as regras para reduzir o peso de carros a gasolina no país, dando maior flexibilidade para as montadoras se adaptarem. Apesar do recuo, as novas diretrizes, divulgadas nesta quarta-feira (20), ainda são uma das maiores regulações ambientais já adotadas na história americana.

As principais mudanças em relação à proposta original, apresentada há um ano, são uma desaceleração do ritmo de redução da emissão de poluentes até 2030 –concentrando no período até 2032 o grosso do corte– e a inclusão de veículos híbridos no mix de opções da indústria.

Carros Tesla param em estações de carregamento em Yermo, Califórnia
Carros elétricos da montadora americana Tesla em estações de carregamento em Yermo, Califórnia - AFP

As alterações, no entanto, visam apenas facilitar a adaptação e não enfraquecem a meta principal de diminuir pela metade as emissões de dióxido de carbono de veículos leves em 2032, ano final do programa, em comparação com 2026, véspera de sua implementação, afirma o governo. Em termos absolutos, são 7 bilhões de toneladas de poluentes a menos na atmosfera ao longo dos próximos 30 anos.

O setor de transportes é o maior emissor de gases do efeito estufa nos EUA, responsável por 29% dos poluentes. Dentro da categoria, veículos leves são a fonte de 58% das emissões.

Originalmente, a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) havia determinado que dois terços dos carros novos à venda em 2030 deveriam ser elétricos –meta considerada inviável pelas empresas. Embora estejam crescendo, EVs representaram apenas 7,6% do mercado no ano passado.

Agora, a EPA prevê que de 35% a 56% das vendas de VEs em 2032 sejam de elétricos. O percentual varia porque a agência incluiu no rol de opções para as montadoras veículos híbridos, que somaram 16% das vendas em 2023.

A ideia é que, respeitando o total determinado de emissões, elas tenham liberdade para compor suas frotas com quatro tipos de modelos, que vão dos tradicionais à gasolina até os totalmente elétricos.

A estimativa da agência é que as mudanças gerem, até 2055, US$ 99 bilhões em benefícios líquidos (ou seja, descontados os custos) à sociedade anualizados, que vão desde uma economia de US$ 46 bilhões em combustíveis a US$ 16 bilhões despesas poupadas com manutenção e consertos de carros. Para a saúde, a projeção é de US$ 13 bilhões anuais em ganhos.

No período de implementação do programa, para modelos ano 2027 a 2032, a EPA calcula que as montadoras terão um gasto adicional de US$ 1.200 a US$ 1.400 por carro para se adequarem.

Ainda assim, a agência afirma que esse gasto adicional não deve ser sentido pelo consumidor em face dos subsídios oferecidos por programas governamentais, como a Lei de Redução da Inflação –hoje, é possível obter até US$ 7.500 em crédito na compra de um híbrido elétrico ou de um EV.

O governo calcula ainda que consumidores terão uma economia média de US$ 6.000 ao longo da vida útil do carro, em razão dos custos reduzidos de elétricos em comparação com veículos a gasolina.

"Trabalhadores americanos vão liderar o mundo na produção de carros e caminhões verdes, ‘Feitos na América’", disse Biden em nota.

As regras foram bem recebidas pela Aliança pela Inovação Automotiva, organização que representa o setor nos EUA.

"Moderar o ritmo de adoção de veículos elétricos em 2027, 2028, 2029 e 2030 foi a decisão correta, pois prioriza metas de eletrificação mais razoáveis nos próximos (muito críticos) anos da transição para VE", afirmou o presidente da entidade, John Bozzella, em nota.

"Essas metas ajustadas para VE –ainda sendo um objetivo desafiador-- devem dar ao mercado e às cadeias de suprimentos a chance de se adaptar", completa.

A reação foi oposta no Instituto do Petróleo Americano. Em comunicado conjunto com associação da indústria de combustíveis e petroquímicos, as entidades dizem que o governo Biden está propondo eliminar carros a gasolina e híbridos tradicionais em dez anos em um cenário de inflação enfrentado pelas famílias americanas.

"Por mais que o presidente e a EPA afirmem ter 'afrouxado’ sua abordagem, nada poderia estar mais longe da verdade. Essa regulamentação tornará os novos veículos a gasolina indisponíveis ou proibitivamente caros para a maioria dos americanos. Para eles, essa política extremamente impopular vai parecer e funcionar como uma proibição", diz a nota.

Também reclamaram os produtores de etanol americanos, que acusam as regras de desencorajar montadoras a buscarem outras tecnologias, como motores otimizados para operar com biocombustíveis.

"A regra final de hoje efetivamente obriga os fabricantes de automóveis a produzir mais veículos elétricos a bateria com base na falsa premissa de que são 'veículos de emissão zero'", afirma em nota Geoff Cooper, presidente da associação de combustíveis renováveis.

É praticamente certo que as novas regras serão questionadas na Justiça por entidades ligadas ao setor fóssil e procuradores republicanos, que se opõem à guinada ambiental de Biden. A expectativa é que a palavra final caberá à Suprema Corte.

A transição energética é uma prioridade para o atual presidente e um dos pontos de sua campanha pela reeleição neste ano. A plataforma, no entanto, é constantemente atacada por seu concorrente, Donald Trump, que afirma que a política prejudica os EUA e favorece a China, de onde o empresário diz, erroneamente, serem importados "todos" os carros elétricos.

"Perfure, baby, perfure" é uma frase comum em seus discursos, em referência à exploração de petróleo.

Apesar da partidarização do tema, pesquisas de opinião mostram que a maioria dos americanos, grupo que inclui democratas e independentes, acredita que existe uma crise climática e é favorável a políticas em prol do ambiente. Negacionistas, por sua vez, se concentram nas alas mais extremistas dos republicanos.

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