Descrição de chapéu Energia Limpa

Moradores e comerciantes aderem a painéis solares na periferia de Salvador

Um dos gargalos para a oferta da energia limpa às classes populares é a falta de crédito para a instalação do sistema

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Salvador

A possibilidade de economizar até 95% na conta de luz levou Eleilson Santos, 51, a investir na geração de energia fotovoltaica. Morador do Bairro da Paz, periferia de Salvador, ele viu a tarifa cair de R$ 600 para R$ 100 desde que instalou o sistema, há cerca de um ano.

O valor, 84% menor, inclui o consumo de casa e do mercadinho que mantém na parte inferior do imóvel. Sem acesso a financiamento bancário, Santos precisou juntar R$ 50 mil por meios próprios para adquirir a fonte renovável.

Ainda inacessível para a maioria dos brasileiros, o uso de painéis solares de energia limpa tem crescido em comunidades e bairros de média e baixa renda da capital baiana.

vista aérea foto de painel solar em imóvel com tijolo aparente ao lado de casas em bairro da periferia de salvador
Vista aérea do Bairro da Paz, em Salvador, Bahia, com um estabelecimento comercial equipado com painel solar - Rafaela Araújo/Folhapress

O subúrbio ferroviário, em outro extremo da cidade, é um exemplo disso. É ali que está mais da metade da clientela de uma empresa que nos últimos anos chegou a faturar anualmente R$ 4 milhões.

"Apesar de atendermos a toda Bahia, o subúrbio de Salvador, a Linha Verde, Lauro de Freitas e Vilas do Atlântico são os locais onde possuímos o maior número de instalações. Em torno de 55% dos nossos projetos foram realizados aqui no subúrbio", diz Alielson Paz, sócio da Solares Automação, aberta em 2013 e que expandiu seus serviços para a área industrial.

Paripe e Periperi são os bairros suburbanos mais demandados, afirma Paz. Na Solares, a compra pode ser paga via boleto e parcelada em até sete vezes sem juros.

Em Alto do Cabrito, também no subúrbio, Ednaldo Jesus, 35, resolveu colocar um painel solar em sua residência em novembro de 2022. Profissional eletrotécnico, ele sabia que, após a instalação dos módulos, ganharia um alívio no bolso. A tarifa diminuiu de R$ 200 para R$ 60.

A avaliação de cada projeto é feita com base no valor da conta de luz —quanto maior o consumo, mais caro será o custo do sistema.

Em Salvador, um sistema de energia fotovoltaica custa em torno de R$ 15 mil a R$ 20 mil em residências com tarifa entre R$ 400 e R$ 1.000.

Para quem paga cerca de R$ 350 de conta, a instalação fica entre R$ 8.000 e R$ 10 mil.

Embora caro, especialistas o consideram um investimento vantajoso, cujo retorno ocorre dentro de dois a três anos. Tais equipamentos requerem baixo custo de manutenção —em geral, uma limpeza rápida das placas— e têm vida útil de até 25 anos.

placa solar no teto de casa sem reboco com casas ao redor na periferia de salvador
Placa solar no Bairro da Paz, em Salvador; moradores relatam que conta mensal tem redução de R$ 200 para R$ 60 - Rafaela Araújo/Folhapress

O processo que envolve a concepção de projeto, liberação da concessionária e instalação pode durar de 45 a 60 dias. Finalizada esta etapa, a redução na conta de luz será perceptível em poucos meses.

"A energia solar ainda é um investimento alto. Mas, ainda assim, quanto maior esse valor, mais rápido e maior será o retorno financeiro. A pessoa não ganhará dinheiro, mas deixará de gastar com a conta de luz futuramente", explica o engenheiro eletricista Jadson Souza, sócio-diretor da JJ Energia, empresa que também atende clientes de baixa renda.

"A principal vantagem é a redução do custo da energia. Se o consumidor pagava R$ 1 mil, poderá baixar essa conta para R$ 50, a taxa mínima cobrada pela concessionária de energia."

"O que atrai o consumidor a ter um sistema de geração de energia, através de painéis fotovoltaicos, é reduzir consideravelmente o custo da conta de energia elétrica", acrescenta Maiana Matos, doutora em planejamento de sistemas energéticos pela Unicamp.

Foi por esse motivo que Marília Santana, 40, decidiu aderir à energia solar há quase dois anos. Moradora de Pernambués, outro bairro da periferia da capital baiana, ela se diz satisfeita por ter desembolsado cerca de R$ 12 mil e hoje economizar mais 50% na conta de casa. "Antes, eu pagava R$ 450. Agora, pago R$ 180 e ainda contribuo com o meio ambiente."

Apesar da demanda crescente apontada por empresas, não há dados oficiais sobre o número de residências com energia solar na capital soteropolitana, incluindo a periferia.

A Prefeitura de Salvador diz que não contabiliza a quantidade de painéis nas residências da cidade. A gestão municipal computa apenas a adesão ao IPTU Amarelo, programa que prevê descontos de 5%, 7% e 10% sobre o tributo, conforme o volume de energia produzido.

Atualmente, 218 imóveis soteropolitanos têm a certificação sustentável, criada em 2018, para incentivar o uso de energia solar.

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico da gestão estadual afirma, no entanto, que os grupos tarifários mais expressivos na cidade são os de baixa tensão, ou seja, residências e pequenos comércios.

Existem na capital 7.295 unidades geradoras residenciais e 1.820 comerciais, segundo o órgão.

Salvador possui 92,8 MW de energia solar distribuída, mostra mapeamento da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica).

A Bahia, por outro lado, alcançou mais de 1,1 GW de potência instalada em cerca de 130 mil conexões operacionais em telhados, fachadas e pequenos terrenos em todo o estado.

Um dos gargalos que tornam a energia limpa uma tecnologia pouco acessível é a falta de crédito para públicos com menor renda salarial.

"Para tornar acessível a instalação de painéis fotovoltaicos na periferia é necessária a implementação de políticas energéticas, subsídios e criação de linhas de créditos específicas para comunidade de interesse social", diz Maiana Matos, especialista pela Unicamp.

dois homens, um no telhado, seguram placa solar com parede sem reboco ao fundo
Os eletrotécnicos Adilson Jesus Ferreira, 35, e Ricardo Santos, 36, instalam painel solar em uma residência no Bairro da Paz, em Salvador - Rafaela Araújo/Folhapress

Desde 2022, a Caixa oferece financiamento para compra de placas solares, dependendo da capacidade financeira do cliente. O juro é de 1,17% ao mês, com opção de parcelamento de até 60 meses.

O crédito é destinado a micro e pequenas empresas e MEIs (microempreendedores individuais).

A mão de obra para instalação dos painéis não chega a ser exorbitante e varia de R$ 80 a 150 por placa —dez placas, por exemplo, podem custar entre R$ 1.500 e R$ 2.000.

O que encarece o serviço é o valor do sistema fotovoltaico. Também é possível dividir a compra de 12 a 24 vezes no cartão de crédito se a aquisição for direto no fabricante. Os juros, porém, não são vantajosos.

"É preciso pensar soluções na nova meta climática do Brasil [que deve ser apresentada até a COP30, em 2025], de modo que o país possa ir além de sua meta de redução, atualmente de 53% em 2030, em relação às emissões de 2005", afirma Matos.

Ela diz que, no caso da Bahia, a chegada da BYD pode ser um avanço nesse sentido. "A instalação da BYD em Camaçari permitirá acelerar a criação da infraestrutura necessária para o abastecimento de carros elétricos, através da articulação entre as esferas municipal, federal e estadual, e contribuir para a transição energética."

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