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Steven Rattner

O que um segundo mandato de Trump significaria para a economia dos EUA

Se política econômica já teve falhas em seu primeiro governo, perspectiva do que ele pode fazer se for eleito é assustadora

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Steven Rattner

Investidor e filantropo, foi assessor de Timothy Geithner, secretário do Tesouro do primeiro mandato de Barack Obama

The New York Times

Há muito a se temer sobre um outro mandato de Donald Trump: uma ameaça à democracia dos EUA; o possível abandono de aliados tradicionais na Europa e em outras regiões; a aproximação de ditadores como Vladimir Putin; e o perigo que ele representa para a nossa forte economia.

Nossa economia? Sim. Enquanto a Trumponomics 1 teve grandes falhas (como os cortes de impostos para empresas e ricos que aumentaram o déficit), a ideia de uma Trumponomics 2 é assustadora.

Embora Trump ainda não tenha divulgado um plano formal, a conclusão inalterável com base no que vazou de seus discursos de campanha, monólogos e seu atual grupo de conselheiros é que ele seguirá um caminho que se afastará ainda mais da tradicional abordagem econômica global dos republicanos para entrar na via populista e isolacionista.

Um segundo mandato de Trump provavelmente representaria uma continuação de seus instintos simplórios e do que vai apelar para sua base.

 O ex-presidente americano Donald Trump visita a cidade de Eagle Pass, no Texas, fronteira sul dos Estados Unidos
O ex-presidente americano Donald Trump visita a cidade de Eagle Pass, no Texas, fronteira sul dos Estados Unidos - Go Nakamura - 29.fev.2024/Reuters

Em relação a tarifas, imigração e regulamentação, Trump continuaria as tendências preocupantes de seu primeiro mandato. Os Estados Unidos afundariam ainda mais no protecionismo equivocado com novas guerras comerciais.

Empresas e os mais ricos seriam enriquecidos com impostos mais baixos e cada vez mais livres de supervisão. A imigração legal seria reduzida. E continuaríamos a emitir dióxido de carbono na atmosfera enquanto sabotamos intencionalmente nosso próspero setor de energia limpa.

É uma perspectiva que preocupa até mesmo alguns empresários, que no geral gostaram do programa econômico do primeiro mandato de Trump, enquanto expressam desgosto por suas características pessoais.

Agora, os executivos estão gostando menos de seus planos econômicos (particularmente os elementos internacionais) e abominando o indivíduo —enquanto são repelidos pelo que percebem como a postura antiempresarial do governo Biden.

No topo da minha lista de preocupações com um segundo mandato de Trump está uma abordagem ainda mais protecionista ao comércio do que a que ele colocou em prática durante seus quatro anos no cargo.

Trump nunca entendeu que, no geral, o comércio pode elevar o padrão de vida e gerar empregos.

Em seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas em itens que vão desde aço até máquinas de lavar que, de acordo com estudos econômicos, aumentaram os preços ao consumidor e, em última análise, eliminaram empregos americanos, em parte porque outros países retaliaram com suas próprias tarifas.

E a inflação que preocupa os eleitores agora poderia piorar muito, dado que Trump quer intensificar com tarifas de 10% sobre importações em geral (e tarifas ainda maiores sobre países que retaliarem), acima de uma média de 2% atualmente.

Essa medida sozinha poderia elevar o nível de preços em geral em cerca de 2 a 3 pontos percentuais.

Além disso, há um ataque ainda mais forte ao comércio com a China. Ninguém pode negar que a China segue políticas agressivamente protecionistas. Mas o remédio de Trump poderia nos prejudicar tanto quanto —se não mais do que— os chineses.

Além de encerrar o status de país mais favorecido da China, o que elevaria as tarifas sobre muitos produtos chineses para até 40%, ele imporia proibições diretas sobre alguns produtos, incluindo eletrônicos, aço e produtos farmacêuticos.

Obter esses itens em outros lugares do mundo em grandes volumes poderia ser difícil, senão impossível, e as substituições certamente aumentariam os custos para o consumidor.

Em outra frente isolacionista, a imigração continua sendo uma das questões principais de Trump. Certamente precisamos controlar nossas fronteiras. Dito isso, reduzir o número de novas chegadas legais —o site de Trump sugere bem mais da metade— e restringir as permissões de trabalho para todos os imigrantes não documentados nos prejudicaria economicamente.

Com o desemprego em 3,7%, os Estados Unidos têm poucos trabalhadores, não muitos.

E com a baixa taxa de fertilidade e a geração baby boomer se aposentando, essa escassez de trabalhadores só aumentará. Para simplesmente manter nossa taxa de crescimento populacional das últimas duas décadas, precisaríamos elevar nossa entrada de imigrantes legais para cerca de 4 milhões por ano, acima dos aproximadamente 1 milhão atuais.

Medida menos quantificável, os imigrantes contribuíram grandemente para o nosso sucesso econômico, desde preencher empregos de nível básico, sendo pioneiros em algumas de nossas inovações mais importantes e até liderar grandes corporações.

Quem vencer a eleição enfrentará rapidamente importantes decisões fiscais, já que muitas disposições da Tax Cuts and Jobs Act de Trump expiram no final do próximo ano. A lei conferiu a maior parte de seus benefícios fiscais a empresas e americanos ricos.

E, ao contrário das promessas do governo Trump, ela nunca chegou perto de se pagar por meio do aumento da atividade econômica. Com nosso déficit orçamentário persistentemente alto (aproximando-se de US$ 2 trilhões anualmente), será que realmente queremos gastar US$ 3,4 trilhões para estender os benefícios por uma década?

Outro mandato de Trump quase certamente traria um ataque a uma conquista marcante do governo Biden, a Lei de Redução da Inflação [Inflation Reduction Act].

Essa lei (inadequadamente nomeada) desencadeou uma enxurrada de novos projetos de energia que impulsionarão significativamente a redução de nossas emissões de combustíveis fósseis.

Trump seguiria na direção oposta, prometendo revogar muitas disposições relacionadas à energia limpa e proclamando em comícios que incentivaria as empresas de energia a perfurar poços.

De forma mais geral, Trump deseja remodelar todo o governo à sua imagem, aumentando o potencial para consequências desafortunadas, desde empresas agindo sem controle até corrupção passando impune.

Ele prometeu reduzir drasticamente as regulamentações federais, prometendo (como fez em seu primeiro mandato) remover duas regras para cada nova regra imposta.

Além disso, ele deseja retirar a independência de agências-chave como o FTC [órgão regulador da concorrência nos EUA] e o FCC [que fiscaliza as telecomunicações] para centralizar —e politizar— seu poder na Casa Branca.

Ele também planeja submeter todos os servidores públicos a um teste político e promete reduzir aqueles que ele descreveu como "burocratas rebeldes".

Essa politização explícita de funções governamentais críticas poderia permitir que o Trump seguisse seus caprichos. Em 2017, ele supostamente queria bloquear a aquisição da TimeWarner pela AT&T por não gostar da CNN.

Ele também disse repetidamente a seu chefe de gabinete John Kelly que queria que seus inimigos percebidos fossem investigados pelo IRS [Receita Federal dos EUA].

Quanto à política monetária, espere uma guerra contra o Federal Reserve. Trump nomeou o atual presidente, Jerome Powell, mas rapidamente se voltou contra ele, chamando-o de "inimigo" por reconhecer os efeitos deletérios da guerra comercial do presidente em um discurso.

Trump também criticou rotineiramente o aumento das taxas de juros pelo Fed, o que ajudou a reduzir nossa inflação pós-Covid.

O mandato de Powell expira em 2026, o que daria a Trump a chance de nomear um presidente do Fed mais submisso —talvez alguém que correspondesse sua paixão por dinheiro fácil que estimularia a economia a curto prazo, mas arriscaria uma nova inflação.

Falando em funcionários, Trump dificilmente atrairia uma equipe econômica capaz que pudesse conter seus piores instintos. Duvido que conselheiros moderados como Gary Cohn, ex-executivo do Goldman Sachs que liderou o Conselho Econômico Nacional de Trump de janeiro de 2017 a abril de 2018, estariam dispostos a se juntar a um segundo governo Trump.

Então, qual seria o impacto econômico geral de outro mandato de Trump? Estímulos monetários e fiscais irresponsáveis que poderiam impulsionar a economia às custas de uma inflação mais alta. Preços que seriam elevados pelas políticas comerciais protecionistas de Trump. Tudo isso levaria, por fim, à eliminação de postos de trabalho.

Talvez Trump seja dissuadido por uma vitória apertada. E os democratas mantendo o controle em pelo menos uma casa do Congresso forneceria pelo menos um controle parcial.

No entanto, é uma perspectiva desagradável, uma das muitas razões pelas quais os americanos, incluindo executivos de empresas, deveriam temer —e muito— o retorno de Trump à Casa Branca.

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