Participação de bancos públicos no mercado de crédito cresce e atinge 43% em janeiro

Estoque chega a R$ 2,498 trilhões no primeiro mês do ano, segundo dados do BC

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Brasília

O volume de crédito dos bancos públicos atingiu R$ 2,498 trilhões em janeiro deste ano —o que corresponde a 43,25% da fatia de um mercado que possui em torno de R$ 5,776 trilhões de estoque. Os dados foram divulgados pelo Banco Central nesta sexta-feira (8).

Na comparação com dezembro de 2023, a participação dessas instituições no mercado de crédito cresceu 0,4 ponto percentual (42,84%). Já em 12 meses, houve um avanço de 0,9 ponto percentual nessa fatia (42,36%).

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Sede do Banco Central, em Brasília - Gabriela Biló - 14.abr.2023/Folhapress

Em janeiro do ano passado, o saldo desse grupo correspondia a R$ 2,274 trilhões. Em 12 meses, a variação foi de alta de 9,8 pontos percentuais.

O resultado acompanha o esforço do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de resgatar o papel das instituições públicas na economia brasileira.

No ano passado, o presidente declarou que lançaria um programa para que os bancos públicos e bancos de desenvolvimento fossem usados para promoção de investimentos, com o objetivo de gerar empregos e contribuir para um melhor desempenho da atividade econômica.

A fatia dos bancos públicos no mercado de crédito encerrou 2023 em alta, depois de um movimento de queda que passou a ser observado a partir de 2016 e se acentuou ao longo dos governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

Questionado sobre o assunto durante a apresentação de dados feita a jornalistas, o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha, se limitou a comentar a trajetória observada.

"Se a gente pegar uma série de 10 anos ou mais, a gente vai ver o crescimento da participação das instituições públicas, depois uma redução delas e agora um novo crescimento. Naquele período de crescimento anterior, o crédito das instituições financeiras públicas chegou a ser superior a 50% do crédito total", disse.

"Essas instituições [públicas] estão ofertando mais crédito do que suas concorrentes, isso pode acontecer tanto no mercado de crédito livre quanto no mercado de crédito direcionado. No mercado do crédito direcionado, por exemplo, no caso das pessoas jurídicas cresceu mais do que cresceu o crédito livre, que inclusive se retraiu", acrescentou.

A maior participação desse grupo de instituições coincide com a desaceleração do mercado de crédito no ano passado em decorrência dos altos juros praticados no Brasil —o ciclo de afrouxamento monetário teve início apenas em agosto e levou a taxa básica (Selic) a 11,75% ao ano no término de 2023.

No período, o cenário restritivo de juros atingiu de maneira significativa sobretudo as carteiras das instituições privadas.

Izis Ferreira, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio), ressalta que as instituições privadas continuam mais cautelosas na liberação de crédito em meio a um cenário de alta inadimplência –acima de 90 dias de atraso no pagamento.

"A gente vê uma desaceleração na concessão de crédito com recursos livres tanto para pessoa jurídica quanto para pessoa física. Esse é um movimento que está acontecendo muito em razão da inadimplência, que ainda não dá sinais muito claros e consistentes de queda", afirma.

Segundo a especialista, o maior problema da inadimplência está concentrado nas carteiras de crédito de pessoa física de menor renda, bem como nas de pessoas jurídicas de menor porte.

No crédito com recursos livres, a inadimplência ficou em 4,6% em janeiro deste ano, ante 4,5% no mês anterior. Entre as famílias nesse mesmo segmento, a taxa caiu para 5,5% (variação de 0,1 ponto percentual). Já entre as empresas, subiu para 3,4%, contra 3,2% em dezembro de 2023.

Ferreira também destaca que o governo Lula trouxe em seu PPA (Plano Plurianual) 2024-2027, elaborado pelo Ministério do Planejamento, uma previsão de aumento de volume de recursos direcionados pelos bancos públicos federais para programas específicos.

Como exemplo, cita a retomada de construções de moradia popular pelo programa Minha Casa, Minha Vida, e novas iniciativas, como o plano voltado para a indústria e novas modalidades de crédito rural.

Michael Burt, economista da LCA Consultores, menciona também a manutenção de ações como o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), com Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal como principais financiadores.

Outro fator destacado por Burt é a posição dos bancos federais como impulsionadores da nova política de crédito do governo Lula a estados e municípios. Como mostrou a Folha, a cada R$ 100 liberados, quase R$ 90 vieram de Banco do Brasil, Caixa e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Na manhã desta sexta, Lula se reuniu com os presidentes dos bancos públicos no Palácio do Planalto. Participaram do encontro Tarciana Medeiros (Banco do Brasil), Aloizio Mercadante (BNDES), Carlos Antônio Vieira (Caixa), Luiz Claudio Moreira Lessa (Banco da Amazônia) e Paulo Câmara (BNB, Banco do Nordeste).

O economista, por outro lado, pondera que instituições privadas ganharam espaço nos últimos anos em segmentos nos quais os bancos públicos são predominantes, como é o caso do crédito agrícola.

Para exemplificar, ele diz que o saldo total do crédito rural cresceu 71% entre dezembro de 2019 e janeiro de 2024, sendo que a fatia do saldo correspondente aos bancos públicos subiu apenas 18% no mesmo período. Já entre março de 2011 e janeiro de 2016, o crédito rural cresceu 58%, ao passo que os bancos públicos registraram alta de 56% no setor.

"Hoje em dia, tem muitas cooperativas de crédito, que são instituições privadas, que acabam dividindo os recursos junto com os bancos públicos", afirma Burt, embora reconheça o papel de protagonismo do Banco do Brasil nessa modalidade.

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