Renúncia de conselheiro na Vale, inflação no Brasil e na Argentina e o que importa no mercado

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São Paulo

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A carta

Um dos sete conselheiros independentes da mineradora Vale, José Luciano Duarte Penido renunciou ao cargo com uma carta que mexeu com a empresa e o mercado.

No documento obtido pelos repórteres Alexa Salomão e Nicola Pamplona, Penido critica o processo de sucessão do atual presidente da companhia, Eduardo Bartolomeo.

Abre aspas:

"No conselho se formou uma maioria cimentada por interesses específicos de alguns acionistas lá representados, por alguns com agendas bastante pessoais e por outros com evidentes conflitos de interesse".

"Apesar de respeitar as decisões colegiadas, a meu ver o atual processo de sucessão do CEO da Vale tem sido conduzido de forma manipulada, não atende aos melhores interesses da empresa e sofre evidente e nefasta influência política".

"Neste contexto, minha atuação como conselheiro independente se torna totalmente ineficaz, desagradável e frustrante".

Entenda: Penido e Paulo Hartung, outro conselheiro independente, foram os únicos votos contrários à solução encontrada pelo colegiado da Vale acerca da sucessão na companhia.

↳ Os outros 11 membros decidiram estender o contrato de Bartolomeu, que acabaria agora em maio, para dezembro deste ano. Até lá, a companhia espera definir um novo presidente.

↳ A decisão ganhou contornos políticos a partir de um movimento do presidente Lula (PT) para emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega no cargo. O mandatário desistiu após ouvir que o nome não teria votos suficientes.

↳ Antes do meio-termo alcançado na semana passada, os conselheiros da Vale chegaram a empatar em 6 a 6 uma votação sobre a recondução ou não de Bartolomeu para uma nova gestão.

Em nota, a companhia afirmou que "o conselho de administração seguirá desempenhando as ações previstas nos processos de governança da Vale e executando sua missão de forma diligente".

Versão brasileira. O processo de escolha do presidente da Vale caminha para um tom quase tão dramático quanto o da série Succession (sucessão, em inglês), sobre as disputas familiares em relação ao posto de presidente de um conglomerado de mídia.


Um infiltrado na Faria Lima

João Paulo Pacífico resolveu ir na contramão da maioria de seus pares da Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, ao trocar a clientela de gigantes do agronegócio pela do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).



Entenda: engenheiro de formação e tendo trabalhado 13 anos no mercado financeiro, ele é o fundador da Gaia, empresa que tinha a securitizadora Planeta, emissora de títulos de dívida que atendia gigantes como Cyrella e Raizen.

↳ Em 2021, veio a primeira operação com o MST: a emissão de R$ 17,5 milhões em CRAs (Certificados de Recebíveis Agrícolas) vinculados à produção de sete cooperativas de agricultura familiar.

↳ No ano seguinte, Pacífico decidiu vender sua participação na Planeta, que movimentava R$ 20 bilhões em operações, e doou "dezenas de milhões" que recebeu pelo negócio.

↳ Ele passou, então, a focar apenas em negócios de impacto, e pretende captar neste ano mais R$ 50 milhões em CRAs para cooperativas ligadas ao MST.

  • "É muito estranho um cara de olhos azuis, brancão, da Faria Lima e que fala a linguagem do mercado elogiando o MST", admite Pacífico em entrevista a Eliane Trindade.
  • "Eu vejo a desigualdade na qual a gente vive e vejo como o mercado financeiro funciona, o vício em dinheiro dessa galera da Faria Lima", afirma o investidor, que também defende mais impostos para os mais ricos.

Inflação aqui e lá

A inflação brasileira terminou fevereiro em alta de 0,83%, segundo o IBGE. O resultado veio acima da mediana do mercado de 0,79%, conforme a Bloomberg.

O que puxou a alta: reajustes na educação, que acontecem tradicionalmente em fevereiro.

  • Também contribuíram os preços dos alimentos –com plantações afetadas pelo El Niño– e dos combustíveis –na esteira do aumento do ICMS.

Meio cheio: apesar do resultado vir acima do que os analistas imaginavam, economistas destacaram a queda nos núcleos da inflação –que itens mais voláteis, como alimentos e energia.

  • A inflação de serviços, que está sendo acompanhada de perto pelo BC (Banco Central) para decidir sobre os juros, teve desaceleração de 5,62% em janeiro para 5,25% em fevereiro.

Na Argentina, o índice oficial de preços foi recebido como um respiro para o governo de Javier Milei. A alta em fevereiro foi de 13%, abaixo dos 15% esperados pelo mercado e uma desaceleração significativa a dezembro e janeiro.

  • Os preços acumularam um aumento de 276% nos últimos 12 meses no país e continuam nos níveis mais altos desde o início da década de 1990.

Na segunda (11), o BC local baixou a taxa de juros de 110% para 80% anuais, citando redução da incerteza econômica.

Ontem, o governo Milei anunciou a abertura das importações de itens da cesta básica e retirada de alguns impostos. A ideia é aumentar a competitividade sobre os itens e rebaixar os preços dos alimentos –ponto que concentra as críticas contra a gestão do ultraliberal.


Endividamento e RJ em alta

O endividamento das empresas fechou 2023 em 35,9% do PIB, nível próximo ao registrado durante a crise econômica de 2015, quando essa relação estava em 36,1%.

Os dados são de um estudo do Cemec-Fipe (Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Mais números:

  • 15,5% das companhias da Bolsa brasileira não geram caixa suficiente para cobrir suas despesas financeiras; no fim de 2015, o percentual era de 28%.
  • 3,47% é o índice divulgado pelo Banco Central sobre inadimplência das companhias. Ele ainda está longe da época da recessão de 2015-16, quando era 6%, mas bem acima dos 1,45% de 2020.

O que explica: apesar do atual ciclo de queda dos juros, a política monetária ainda está em patamar restritivo. As empresas que se financiaram a taxas baixas durante a pandemia estão ficando agora sem caixa suficiente para reduzir o endividamento.

A situação fica ainda mais problemática com as recuperações judiciais.

  • Os pedidos de RJ cresceram 80,7% no último trimestre do ano passado na comparação com o mesmo período de 2022, segundo o Cemec-Fipe.

↳ Os produtores foram afetados pela queda das commodities em meio à alta de custos com fertilizantes e outros insumos.

↳ Outro problema são os fenômenos climáticos extremos, que geram quebra de safra. Na atual, só milho e soja já somam perdas de 22 milhões de toneladas, mostra a coluna Vaivém das Commodities.

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