Quem é o bilionário de Los Angeles que garantiu US$ 175 milhões para Trump evitar bloqueio da Justiça

Don Hankey é conhecido por emitir títulos a partir de empréstimos subprime e pelo financiamento a concessionárias de carros

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Stephen Gandel
Nova York (EUA) | Financial Times

Don Hankey, um bilionário de Los Angeles que é credor de empresas do setor automotivo, disse que dois dos maiores erros de sua carreira inicial foram fazer negócios apenas com pessoas honestas e confiar em seu instinto para escolhê-las.

"Eu me sentava e olhava alguém nos olhos e achava que poderia determinar se eram honestos ou não", Hankey disse no ano passado ao Los Angeles Business Journal, que o classificou como o sexto mais rico de Los Angeles. "Errei várias vezes."

Hankey pode estar se arriscando novamente. No início desta semana, a Knight Insurance Group, uma das muitas empresas que compõem seu império financeiro, disponibilizou uma garantia de US$ 175 milhões para Donald Trump, valor que o ex-presidente teve que disponibilizar à justiça para evitar bloqueios de seus bens enquanto recorre contra uma decisão que determinou uma multa de quase US$ 500 milhões contra ele e suas empresas.

O ex-presidente Donald Trump fala aos convidados em um comício em 2 de abril de 2024 em Green Bay, Wisconsin.
O ex-presidente Donald Trump fala aos convidados em um comício em 2 de abril de 2024 em Green Bay, Wisconsin. - Getty Images via AFP

Detalhes do acordo de crédito não foram divulgados. Um porta-voz do Grupo Hankey não respondeu a um pedido de comentário.

O maior negócio do Grupo Hankey, a Westlake Financial, é o maior credor dos EUA para concessionárias de carros independentes e, em geral, usados, permitindo que as concessionárias ofereçam empréstimos diretamente aos compradores de carros no momento da compra.

Os negócios de Hankey prosperaram durante a pandemia de coronavírus, já que os consumidores, ajudados pela assistência do governo, estavam com dinheiro em caixa, e os preços dos carros foram impulsionados por problemas na cadeia de suprimentos.

Mais recentemente, a Westlake e outras empresas de Hankey têm utilizado grandes modelos de dados e inteligência artificial para expandir seu negócio de empréstimos subprime para a área da saúde, procedimentos médicos e joias.

O Grupo Hankey não tem capital aberto, mas é um grande emissor de títulos lastreados em ativos para financiar seus empréstimos. Ele tinha US$ 23,4 bilhões em ativos no final do ano passado, acima dos US$ 12 bilhões no final de 2019, e teve US$ 4,6 bilhões em receita no ano passado e quase 3.500 funcionários, de acordo com seu site.

Hankey apoiou campanhas anteriores de Trump e doou mais de US$ 100 mil para o Comitê Nacional Republicano no ciclo eleitoral de 2016. Ele também é o maior acionista individual, com uma participação de US$ 200 milhões, na Axos, um banco exclusivamente online que agora é um dos maiores credores diretos de Trump.

Hankey disse à Associated Press que a Knight forneceu a garantia a Trump por motivos comerciais, não políticos. O investidor de Los Angeles disse que sua empresa abordou os assessores financeiros do ex-presidente na semana passada, depois que um tribunal de apelações em Nova York reduziu o valor que Trump teria que disponibilizar para bloqueio da justiça durante o recurso contra a multa total de US$ 464 milhões.

Hankey - cujo patrimônio líquido é estimado em US$ 7,4 bilhões, de acordo com a Forbes - disse à AP que o ex-presidente apresentou dinheiro e títulos como garantia para o crédito recebido e bloqueado pela justiça, mas não disse quanto a Knight cobrou pelo apoio.

Antes da redução do valor do bloqueio, os advogados de Trump disseram que o ex-presidente teria que apresentar garantias no valor de 120% e pagar uma taxa de até 3%.

Eles disseram que, em seus esforços para ter um depósito de garantia maior, abordaram 30 empresas do setor — incluindo Allianz, Axa, Berkshire Hathaway, Chubb, Munich Re, Swiss Re e Zurich — por meio de quatro corretores separados, sem sucesso.

No passado, algumas empresas de Hankey foram acusadas de não serem totalmente honestas com os clientes. Em 2015, a Consumer Financial Protection Bureau dos EUA ordenou que duas empresas de Hankey, Westlake Services e Wilshire Consumer Credit, pagassem coletivamente quase US$ 50 milhões em restituição e multas.

A agência as acusou de usar práticas enganosas de empréstimos e cobranças de dívidas, incluindo dizer falsamente a alguns clientes que já tiveram seus veículos retomados que um pagamento parcial poderia recuperar seu carro, quando não podia, e a outros que seu carro estava prestes a ser retomado, quando não estava, para acelerar os pagamentos. Westlake e Wilshire concordaram com a ação da CFPB sem admitir ou negar as alegações.

"Não há desculpa para mentir para seus clientes", disse o então diretor da CFPB, Richard Cordray, em um comunicado na época do acordo.

Hankey já abordou seus críticos dizendo que reprimiu os abusos em sua empresa. É melhor para o cliente poder comprar um carro, mesmo com um empréstimo de juros altos, do que ser rejeitado, dado o quão importante é para o emprego ter um veículo em muitas partes do país, ele disse.

"Digamos que você tenha alguém com nota de crédito ruim, então eles têm que pagar 18% de juros ou não ter um carro. Estamos melhor apenas não dando a eles um carro?" Hankey disse em uma entrevista de rádio em 2020. "Há coisas boas e ruins nisso, mas acho que o bom supera o ruim."

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