Descrição de chapéu Banco Central Pix copom

Campos Neto prevê 'superapp' bancário em até um ano

Presidente do BC disse que ainda vê dificuldades para internacionalizar o Pix

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington e Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, prevê que um superaplicativo reunindo vários bancos em um único lugar deve estar disponível no mercado brasileiro em um ano ou até menos.

A declaração ocorreu em evento sobre tecnologia no setor financeiro promovido pelo Instituto Peterson em Washington (EUA) nesta sexta-feira (19), em paralelo às reuniões do Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacional).

A ideia é que o superapp funcione como um marketplace de produtos financeiros, onde o usuário terá acesso a todas as suas contas bancárias e conseguirá comparar, em tempo real, serviços como cartões e crédito, e migrar de uma instituição para outra facilmente, a depender da que for mais vantajoso.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - Brendan McDermid - 9.nov.2023/Reuters

"Acho que vamos ter isso muito em breve. Eu vi alguns protótipos e as pessoas estão trabalhando nisso. Quão relevante é? Já tivemos 74 bilhões de pedidos de APIs, o que significa que as pessoas estão pedindo dados de um ponto para outro. Então isso realmente está decolando e acho que isso nos leva a um nível diferente, porque você vai ter concorrência online, inclusão financeira e vai poder migrar de produto para produto em tempo real", afirmou o presidente do BC.

Desde o início da implementação do open finance, que permite a clientes compartilharem informações de suas contas com diferentes bancos, o BC aponta viabilizar um aplicativo do tipo como um dos objetivos da iniciativa de inovação.

Após três anos de lançamento do open finance, porém, um marketplace nesses moldes ainda não surgiu. Campos Neto disse nesta sexta que a iniciativa foi a mais difícil de ser negociada com os bancos em comparação com os outros projetos de inovação do BC —incluindo o Pix.

O presidente do BC também apontou que a adoção do open finance é lenta e que a experiência do usuário precisa ser muito boa, do contrário a pessoa vai abandonar o app.

Apesar dessas dificuldades, ele se mostrou otimista com o progresso do sistema no Brasil.

"Algumas pessoas me dizem 'isso parece muito bom, mas está muito longe de acontecer'. Mas eu quero contar algumas coisas que já aconteceram desde o começo do open finance no Brasil. Nós já tivemos R$ 1 bilhão em crédito objeto de portabilidade, R$ 700 milhões em aumento do limite de crédito graças ao compartilhamento de informações, R$ 6,4 milhões em economias", afirmou.

Segundo Campos Neto, o Pix é até o momento a iniciativa de inovação de maior sucesso do BC. O desafio nesse front é a internacionalização do sistema, disse ele.

Para o economista, o problema no uso do Pix para transações internacionais não é tecnológico, mas sim de governança. Há preocupações com o uso da tecnologia para fins ilegais, como lavagem de dinheiro, com diferenças nos sistemas tributários —a necessidade em alguns lugares de saber a origem da transação para incidência de imposto, por exemplo— e temores relacionados à facilidade de transferir grandes somas de dinheiro de um país para outro de maneira imediata.

Horas depois, em reunião com investidores organizada pelo BofA (Bank of America), em Washington, Campos Neto voltou a abordar a situação fiscal do Brasil. Ele, contudo, ressaltou que o trabalho do BC não é enviar recados ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas explicar o impacto da realidade fiscal do país sobre variáveis macroeconômicas, ou seja, juros, câmbio e inflação, por exemplo.

"Nosso trabalho não é enviar mensagens ao governo em termos de linguagem. Nosso trabalho não é dizer ao governo qual será a situação fiscal. Nosso trabalho é interpretar o que está acontecendo e dizer que não há uma relação mecânica [entre a questão fiscal e a política monetária]. Mas, dependendo de como a realidade fiscal impacta as variáveis macroeconômicas, isso pode mudar nossa função de reação", disse.

Nos Estados Unidos, o presidente do BC afirmou em mais de uma ocasião que as âncoras fiscal e monetária estão muito relacionadas e que mudanças que tiram a credibilidade da meta fiscal aumentam o custo da política de juros.

Na última segunda (15), a equipe econômica alterou a meta fiscal de 2025 para déficit zero, não mais superávit 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto), conforme o PLDO (projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias) do próximo ano. A situação doméstica, somada à deterioração do cenário externo, gerou estresse no mercado financeiro e levou a uma escalada do dólar.

Nessa conjuntura de mais incerteza, Campos Neto traçou quatro cenários que podem guiar os próximos passos do ciclo de flexibilização de juros, incluindo a possibilidade de desacelerar o ritmo de corte da taxa básica (Selic) já na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), nos dias 7 e 8 de maio. Hoje, a Selic está fixada em 10,75% ao ano.

Aos investidores, ele negou ter mudado o discurso da autoridade monetária. "Não considero o que fiz como uma mudança na comunicação. No último Copom, mudamos a orientação. Reduzimos a orientação e dissemos que estávamos reduzindo a orientação porque vemos mais incerteza", disse.

"O que estou fazendo agora é reavaliando o que eu disse no passado. [...] O que estou fazendo é atualizando o cenário, com base no que eu já disse", complementou.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.