Dono da Petz faliu com venda de perfume, e dono da Cobasi teve loja de adubo

Empresários negociam fusão que pode criar a maior varejista pet do país, com faturamento de R$ 6,9 bilhões

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São Paulo

Sergio Zimerman, 58, principal executivo da Petz, e Paulo Nassar, 57, presidente da Cobasi, conversam desde 2019 sobre uma possível fusão entre as redes de produtos e cuidados para animais de estimação.

"Naquele ano eu liguei para ele, a ligação não foi atendida, e depois ele me ligou de volta", diz Zimerman à Folha, em entrevista com Nassar.

À meia-noite desta sexta-feira (19), ambos assinaram, eletronicamente, o memorando de entendimentos não vinculante (MOU) —que informou ao mercado a disposição das duas empresas de unirem seus negócios.

Homem branco, grisalho, de camisa azul, ao lado de homem branco, grisalho, de camisa preta
Sergio Zimerman (à esq.), CEO da Petz, e Paulo Nassar (à dir.), presidente da Cobasi - Andre Porto/UOL; arquivo pessoal

"As negociações se intensificaram mesmo nos últimos 15 dias", diz Nassar. "Uma decisão dessas só foi tomada de maneira tão rápida porque nós já vínhamos conversando há um bom tempo", diz ele, que vai costurar a fusão nos próximos 60 a 90 dias com Zimerman.

Nesse período, será realizada a "due diligence" (auditoria para análise de riscos) nas empresas, ao mesmo tempo que a proposta de união será encaminhada ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

A potencial fusão entre Petz e Cobasi vai criar uma empresa com faturamento anual de R$ 6,9 bilhões, 483 lojas e 14,3 mil funcionários. As marcas vão continuar independentes.

Zimerman deve ser o presidente do conselho, e Nassar será o presidente-executivo da nova companhia.

Ambos tiveram pais comerciantes —o de Zimerman, descendente de judeus, administrava uma confecção infantil no Brás, na zona central de São Paulo, enquanto o pai de Nassar, filho de libaneses, chegou a ter com os irmãos uma rede de nove supermercados na zona oeste, que acabou vendida para o Pão de Açúcar.

Mas a fortuna só chegou para os dois com o negócio pet, que em 2023 movimentou R$ 68,6 bilhões entre ração, animais, serviços, atendimento veterinário e medicamentos, o que representa uma alta de 14% sobre o ano anterior. Megalojas, como Cobasi e Petz, representam cerca de 10% deste faturamento.

O ano de de 2019 não foi a primeira vez que Zimerman procurou Nassar. Dezessete anos antes, em 2002, o executivo visitou as três megalojas da Cobasi nas zonas sul e oeste da capital paulista, e em Osasco.

Ficou maravilhado, não conhecia o modelo de grandes lojas: imaginava que pet shops eram apenas de pequeno ou médio porte. Ele havia acabado de sair de um negócio malsucedido, uma distribuidora de alimentos e perfumaria, que funcionou por cerca de dez anos, mas sucumbiu "por uma série de fatores", diz.

O gerente de uma das lojas da Cobasi à época, sr. Wilson, estranhou o moço que já tinha ido diversas vezes, sempre fazendo perguntas. Em uma das ocasiões pediu para falar com os donos: queria abrir uma franquia da Cobasi.

A ideia foi logo descartada pelo sr. Wilson: os proprietários não trabalhavam com o modelo de franquias e não estavam interessados. Meses depois surgiu a Pet Center Marginal, em 2002, que mais tarde se tornou Petz.

"Você deveria ter me ligado antes", brinca Nassar, dirigindo-se a Zimerman.

O empresário criou a Cobasi em 1985 aos 18 anos, com o pai, Rames. Os irmãos João e Ricardo se uniram pouco depois ao negócio, que começou como uma loja de produtos agropecuários, vendendo adubos, itens de selaria, defensivos agrícolas, rações e sementes.

Depois de vender os supermercados, Rames Nassar estava investindo na produção agrícola e achou que um varejo especializado seria uma boa opção para os filhos.

Os sucessivos planos econômicos, porém, com congelamento de preços e trocas de moedas, colocaram o negócio dos irmãos Nassar em xeque. Foi quando a Purina, hoje pertencente à Nestlé, ofereceu ração balanceada para cães e gatos —uma novidade no fim dos anos 1980, quando os animais se alimentavam de sobras de comida.

A venda superou as expectativas, e eles decidiram diversificar o portfólio, oferecendo produtos para animais domésticos. Em viagens ao exterior, Paulo Nassar havia conhecido grandes pet shops e achou que poderia tentar o modelo no Brasil.

Em 1996, os irmãos Nassar promoveram uma grande reforma na loja da Vila Leopoldina, transformando o espaço para atender animais de estimação: nascia o modelo Cobasi de megalojas para produtos e serviços voltados a pets. A mesma que deixaria Sergio Zimerman maravilhado em 2002.

três homens brancos de azul
Os irmãos Nassar, fundadores da Cobasi: da esquerda para a direita, João, Paulo e Ricardo, que continuam na nova empresa resultante da fusão - Divulgação

Redes estão investindo em franquias de serviços

"É notório o quanto a Cobasi é superior à Petz no segmento de jardinagem", diz Zimerman.

As lojas da família Nassar destinam parte do espaço para a oferta de flores, plantas ornamentais, mudas, vasos, ervas e sementes. Segundo a Cobasi, a seção traz à loja um público seleto, predominantemente feminino, que compra mais que os homens.

"Já a Cobasi pode melhorar muito em marcas próprias", diz Nassar, mencionando a Petix, dona do tapete descartável Super Secão, e a Zee.Dog, líder na venda de coleiras, negócios adquiridos pela Petz em 2022 e 2021, respectivamente.

Zimerman lembra que a Cobasi não atua em hospitais veterinários, um segmento onde a Petz soma 15 unidades com a marca Seres, que batiza também uma rede de 127 clínicas veterinárias.

A Cobasi, por sua vez, sublocava o espaço das lojas para clínicas e serviços de banho e tosa, atividades que há pouco mais de um ano passaram a ser comandadas por uma master franqueadora da rede, a Pet Anjo —que nasceu como uma plataforma para intermediar serviços como dog walker, pet sitter, hospedagem e daycare, adquirida pela Cobasi em 2021.

"Talvez a gente possa abrir um hospital Seres dentro da Cobasi, e uma Pet Anjo possa indicar a rede de hospitais aos seus clientes", diz Zimerman.

A Cobasi soma hoje 80 centros estéticos e 22 clínicas com a marca Pet Anjo. Outras 43 ainda são terceirizadas e devem ser convertidas para franquia.

"A partir de dados nossos, observamos que um cliente do varejo, que em média frequenta a loja de seis a sete vezes por ano, passa a frequentar 17 vezes quando também usa os serviços de clínica veterinária", diz Nassar.

Já a Petz está com um projeto de microfranquias para consultas, banho e tosa. "Hospital, laboratório e plano de saúde são operações mais complexas, que exigem mais capital e devem continuar conosco", diz Zimerman, que pretende dar início ao projeto-piloto dentro de 90 dias.

O executivo refuta a ideia de que o mercado pet esteja em desaceleração. "O que houve foi um crescimento fora da curva durante a pandemia e que agora está voltando a patamares menores, mas ainda assim em dois dígitos", diz ele, destacando que, entre 2019 e 2023, as vendas avançaram 20% ao ano, em média.

"É um setor que vai continuar forte. Porque a humanização [dos pets] não para de evoluir. E quanto mais as pessoas são informadas de como cuidar melhor do seu bicho de estimação, mais elas o fazem, gastando mais."

De acordo com o último censo pet, com dados de 2022, elaborado pela Euromonitor e Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), o Brasil soma 167,6 milhões de pets, um crescimento de 4% sobre o ano anterior.

Os gatos, que respondem por 20% do total de bichos de estimação, são a população que mais cresce (6%). Mas os campeões em representatividade são os cães: somam 40% do total de pets no país. Entre eles, estão a yorkshire Roma, de Paulo Nassar, e a são-bernardo Sasha, de Sergio Zimerman.

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