Descrição de chapéu inflação Banco Central

O que é inflação? Entenda a causa do aumento de preços

Variação pode ter diversas origens e maneiras de ser controlada

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João Pedro Abdo
São Paulo

A inflação é o aumento dos preços de bens e serviços em uma economia. Esse fenômeno é observado a partir da variação média no valor de um determinado conjunto de mercadorias, chamado de cesta de consumo, e tem impacto no bolso dos consumidores.

Há diversas explicações possíveis para as causas desse comportamento.

Ilustração
Ilustração - Catarina Pignato

Quais são as causas da inflação?

O aumento dos preços pode ser resultado de fatores que impactam no custo de produção das mercadorias. Isso faz com que os produtores subam o valor de mercado dos seus produtos.

Nelson Marconi, professor de economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas), explica que problemas na safra de produtos agrícolas, conflitos bélicos entre países, reduções na disponibilidade de uma matéria-prima importante e variação abrupta na taxa de câmbio são exemplos do que pode gerar inflação.

"Esses eventos são denominados 'choques de preços' e podem se propagar pela economia. Isso acontece porque os diversos setores tentarão manter sua margem de lucro, subindo os preços para superar o aumento de custo", afirma Marconi.

Em outros cenários, as explicações para as causas da inflação podem variar. É o que acontece quando os preços sobem devido a um aumento significativo da procura por determinados bens e serviços, superando a capacidade produtiva das empresas.

Nesse caso, a inflação é consequência de um excesso de demanda dos consumidores.

Qual o motivo da inflação no Brasil? E como é o seu controle?

A inflação brasileira está mais associada a um aumento de preços causado por alterações no custo de produção das mercadorias. Em outras palavras, a economia brasileira sofre com uma inflação de oferta.

O crescimento excessivo na procura por bens e serviços é um fenômeno que acontece com mais frequência em economias com pleno emprego ou com um aumento de renda repentino.

Por mais que a inflação de demanda possa ser observada em alguns momentos, não é ela a causa principal do aumento de preços no Brasil, segundo economistas.

Desde 1999, o controle da inflação no país segue um regime de metas. Isso quer dizer que cabe ao BC (Banco Central) estabelecer um valor máximo para o crescimento da inflação.

O órgão responsável é o CMN (Conselho Monetário Nacional), que é composto pelos titulares dos cargos de ministro da Fazenda, ministro do Planejamento e do presidente do BC. Atualmente, a meta é definida a cada três anos e tem uma margem de tolerância de 1,5% para mais e para menos.

Um dos principais mecanismos que o BC tem para o controle da inflação é a Selic, que significa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia. Ela é a taxa básica de juros da economia brasileira e é definida pelo Copom (Comitê de Política Monetária), em reuniões que acontecem a cada 45 dias.

O valor da Selic influencia nos juros dos empréstimos bancários e financiamentos, por exemplo. Isso, segundo Nelson Marconi, ajuda a controlar o nível de atividade econômica do país: juros mais altos inibem o consumo, ajudando a segurar os preços.

Em um cenário em que a inflação acontece por um consumo excessivo, subir a taxa de juros pode desacelerar a economia e estabilizar os preços. Por outro lado, se os preços estão subindo devido a uma alteração nos fatores de produção das mercadorias, a taxa de juros pode ajudar, mas não resolve.

"Se o aumento de preços tiver relação com as condições de oferta de bens e serviços, devem ser utilizados outros instrumentos, além da taxa de juros, para tratar as causas primárias da inflação e aumentar a disponibilidade dos produtos afetados", afirma Marconi.

O que significa IPCA?

Para medir a inflação, são utilizados índices de acompanhamento dos preços de diversos setores econômicos. Cada um deles prioriza determinados produtos e setores, apresentando cestas de consumo diferentes.

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é o índice oficial de preços no Brasil e é utilizado pelo BC no controle da inflação. Ele é calculado mensalmente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) desde 1980 e tem como base o orçamento de famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos.

No total, são 377 produtos pesquisados em dez regiões metropolitanas do país. A composição do IPCA é decidida a partir da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), que aponta quais produtos devem ser levados em conta e qual o peso deles no bolso dos consumidores.

O que significa INPC?

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor –INPC– mede as variações de preços da cesta de consumo da população assalariada com mais baixo rendimento.

Essa faixa de renda foi criada com o objetivo de garantir uma cobertura populacional de 50% das famílias cuja pessoa de referência é assalariada e pertencente às áreas urbanas de cobertura do Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor.

Atualmente, o índice abrange o consumo das famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos, cuja pessoa de referência é assalariada, residentes nas áreas urbanas das regiões de abrangência do SNIPC: regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.

Esse índice de preços tem como unidade de coleta estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, concessionária de serviços públicos e internet e sua coleta estende-se, em geral, do dia 1º ao dia 30 do mês de referência.

O INPC é usado para corrigir o salário mínimo.

Quais são os outros índices de inflação usados no Brasil?

Além do IPCA e do INPC, há outros índices importantes. "Como o Brasil já experimentou uma inflação muito alta, criou-se a necessidade de acompanhar os preços mais de perto. Então, há indicadores mais específicos, que podem priorizar os preços dos produtos no atacado ou no varejo. Também há aqueles que focalizam em setores importantes para economia, como a construção civil, por exemplo", explica Marconi.

Um desses índices é o IGP-M (Índice Geral de Preços Mercado), publicado pela FGV e muito utilizado nos reajustes dos contratos de aluguel.

Ele é calculado a partir da média ponderada de outros três indexadores: o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), que tem uma proporção de 30% e tem uma composição muito parecida com o IPCA; o IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), que corresponde a 60% do cálculo final e mede os preços no atacado e da produção agrícola, sendo mais sensível às variações no dólar e nas commodities.

Por fim, o preço dos materiais e da mão de obra para a construção civil também entra na conta, medido pelo INCC (Índice Nacional de Custo da Construção). Ele corresponde aos 10% restantes da média ponderada que compõe o IGP-M.

Percepção do consumidor

Os critérios utilizados nunca conseguem capturar a variação total dos preços de uma economia. É natural, portanto, que os índices publicados não reflitam completamente a percepção dos consumidores acerca da inflação.

Há produtos que impactam mais no bolso de uns do que de outros. A cesta de consumo dos índices traça um perfil médio, e o peso das variações nos preços dos bens e serviços depende da realidade de cada consumidor. Um exemplo é o transporte público.

"O aumento no preço da passagem de ônibus terá impactos maiores no orçamento de alguém que usa mais esse serviço, e certos índices podem ser mais ou menos sensíveis a esse aumento", afirma Marconi.

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