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Serviço de internet via satélite de Elon Musk ainda dá prejuízo, diz agência

Starlink, braço da empresa espacial SpaceX, perde com venda de terminais e tem lucros pouco consistentes

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Bloomberg

O valorizado negócio de satélites da SpaceX, Starlink, ainda gasta mais dinheiro do que arrecada.

Pessoas familiarizadas com as finanças de uma das empresas de capital fechado mais valiosas do mundo dizem que a Starlink, em alguns momentos, perdeu centenas de dólares para cada um dos milhões de terminais terrestres que vende, lançando dúvidas sobre as alegações de seu presidente, Elon Musk, e dos principais executivos da empresa de que o negócio está em "território lucrativo".

O CEO da SpaceX, Elon Musk - Gonzalo Fuentes - 16.jun.2023/Reuters

A Starlink, que fornece serviço de internet via satélite para mais de 2,6 milhões de clientes, muitas vezes exclui o alto custo de enviar seus satélites ao espaço para tornar seus números, não públicos, mais atraentes para os investidores, disseram essas pessoas, pedindo para não serem identificadas por se tratarem de informações privadas.

Eles descrevem a contabilidade da empresa como "mais uma arte do que uma ciência" e dizem que, na verdade, não é lucrativa com base em uma base operacional e contínua.

Empresas de capital fechado não precisam divulgar publicamente suas finanças e muitas vezes manipulam seus números durante a captação de recursos. Muitas operam por anos se sustentando com financiamento enquanto queimam dinheiro.

Mas pessoas com conhecimento dos balanços contábeis da Starlink dizem que os trimestres lucrativos têm sido menos consistentes do que Musk sugeriu aos investidores quando comemorou ter alcançado "ponto de equilíbrio no fluxo de caixa" em uma postagem no ano passado no X (ex-Twitter), do qual é dono.

Quando pressionado ainda mais sobre os comentários de Musk em uma conferência em Washington no mês passado, o CFO (diretor financeiro) da SpaceX, Bret Johnsen, disse: "Não sei se quero quantificar esses números, mas estamos com fluxo de caixa positivo e em território lucrativo para nosso negócio de satélites agora."

Assim como a Tesla, fabricante de carros elétricos de Musk que revolucionou a indústria automobilística global, a SpaceX está remodelando o mercado de foguetes e satélites.

Ela reduziu os custos de lançamento de foguetes com seus propulsores reutilizáveis —em grande parte fabricados internamente. E com o Starlink agora representando a maioria de todos os satélites ativos ao redor do mundo, o perfil global da empresa está aumentando.

A SpaceX em dezembro foi avaliada em cerca de US$ 180 bilhões, colocando-a em pé de igualdade com gigantes corporativos como a Verizon e a General Electric. Agora ela é fundamental para o programa espacial do governo dos EUA e se tornou um grande player em segurança nacional. Mas a empresa está contando, em parte, com o Starlink para pagar as contas.

Segundo a SpaceX, há um limite para o quanto os lançamentos de foguetes podem render. Musk está contando com o negócio de satélites em rápido crescimento para financiar a ambição vitalícia do bilionário de alcançar Marte.

De acordo com alguns investidores, o Starlink representa mais da metade da receita da SpaceX em 2024.

"Provavelmente existem 150 clientes de foguetes neste planeta, mas existem oito bilhões de clientes em potencial para o Starlink", disse a presidente da SpaceX, Gwynne Shotwell, em uma entrevista a Susie Scher, do Goldman Sachs, postada no mês passado no site do banco. A SpaceX não respondeu a pedidos de mais comentários.

"Starlink deve acelerar o lançamento de seus satélites por lançamento e focar na confiabilidade de seus satélites existentes e serviço de internet", disse Andrea Lamari, sócia-gerente da Cuatro Capital e sócia-gerente em transição da Manhattan Venture Partners, uma empresa de investimento que investiu na SpaceX em vários fundos sob sua gestão.

"Starlink sempre foi capaz de expandir significativamente a cobertura onde as opções de internet tradicionais são limitadas ou inexistentes. Eles também devem continuar a aumentar a velocidade e reduzir a latência sempre que possível", disse ela.

Foguete Falcon 9, da SpaceX, leva 22 satélites da Starlink para a órbita terrestre - Mike Blake - 1.abr.2024/Reuters

Restrições

Problemas de capacidade podem ser uma das razões pelas quais a Starlink está lutando para atrair alguns contratos corporativos lucrativos.

Todas as principais companhias aéreas dos EUA —Delta, Southwest Airlines, American e United— rejeitaram o serviço liderado por Musk em favor de continuar com provedores de Wi-Fi estabelecidos como a Viasat.

Analistas dizem que a SpaceX não oferece os contratos de longo prazo e exclusividade que os clientes corporativos frequentemente desejam e que é proibitiva em termos de custo para substituir o Wi-Fi existente por um serviço que ainda não se destaca dos concorrentes.

A Viasat, por exemplo, tem uma equipe de vendas que conta com centenas de pessoas, em comparação com dezenas que a Starlink tem, dizem pessoas familiarizadas com o negócio. A Viasat não quis comentar.

"Continuaremos a analisar tecnologias emergentes como a Starlink. Mas, no momento, nosso foco é elevar o desempenho do Wi-Fi que temos para o nível adequado", disse o CEO da Southwest, Bob Jordan, durante uma entrevista à Bloomberg no ano passado.

Para a Delta, a memória de uma demonstração fracassada em 2022 ainda não desapareceu, de acordo com pessoas familiarizadas com os esforços da Starlink para conquistar a companhia aérea.

Executivos da Delta estavam ansiosos para testar a internet da Starlink, mas, quando seu avião estava voando a mais de 30.000 pés sobre Chicago, o serviço não funcionava.

Como solução rápida, a SpaceX desligou a internet para alguns clientes pagantes na cidade, disseram essas pessoas. A ação fez o Wi-Fi funcionar na cabine do avião, mas não foi suficiente para conquistar um contrato com a Delta, disseram as pessoas. Delta, American e United se recusaram a comentar.

A Starlink teve mais sucesso ao assinar contratos com clientes corporativos em áreas rurais e marítimas onde os problemas de capacidade não sobrecarregam o sistema. Eles assinaram contratos com clientes como a Carnival Cruise Lines, Deere e a empresa de navegação Anglo-Eastern Ship Management.

Na Anglo-Eastern, o diretor de informática Torbjorn Dimblad disse que o acesso à Starlink se tornou uma necessidade e reduziu drasticamente os custos. "É como de repente ter água corrente", disse ele.

A Anglo-Eastern, que já possui o serviço em cerca de 300 dos 650 navios que gerencia totalmente, gasta cerca de US$ 2.700 por embarcação para equipamentos da Starlink e US$ 1.000 por mês para o serviço de internet.

Com provadores como Eutelsat e Inmarsat Global, a empresa paga US$ 20 mil em equipamentos e US$ 2.000 por mês em taxas por velocidades de download mais lentas.

A lucratividade está aumentando à medida que a Starlink reduz o dinheiro gasto na fabricação de satélites e terminais terrestres. Uma pessoa familiarizada com as finanças da empresa disse que a geração de caixa da Starlink melhorou no final de 2023 e que agora é mais consistentemente lucrativa.

A SpaceX atendeu ou superou as projeções de receita nos últimos três anos, dizem outras pessoas familiarizadas com o balanço da empresa. A empresa prevê que as receitas crescerão para US$ 15 bilhões este ano, em comparação com US$ 4,7 bilhões no ano passado, disseram essas pessoas.

Para acompanhar esse crescimento, os investidores dizem esperar que a SpaceX tenha que levantar mais financiamento ou receber um aporte de Musk.

A SpaceX considerou uma separação da Starlink e um possível IPO, o que permitiria que a entidade levantasse dívida ou capital separadamente da empresa-mãe, informou a Bloomberg News. A SpaceX já separou os dados da Starlink, armazenando-os em servidores dedicados, dizem pessoas familiarizadas com os planos.

No momento, a empresa diz que não está com pressa para abrir capital. "Será mais nos próximos anos", disse Johnsen, o CFO, no mês passado.

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