Descrição de chapéu Folhainvest copom juros

Bolsa fecha em queda e dólar sobe, com juros dos EUA e falas de Campos Neto no radar

Investidores buscavam pistas sobre cortes nos juros dos EUA; na cena corporativa, destaque para eleição de Magda Chambriard na Petrobras

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São Paulo

A Bolsa brasileira fechou em queda de 0,34% nesta sexta-feira (24), a 124.305 pontos, em meio a preocupações sobre juros no Brasil e nos Estados Unidos. Com seis pregões consecutivos no negativo, o Ibovespa acumula perdas de 3% na semana.

Já o dólar subiu 0,27%, cotado a R$ 5,167 na venda. Na semana, a divisa acumulou avanço de 1,28%.

Os investidores seguiram atentos às expectativas para o momento de um primeiro corte de juros nos Estados Unidos, enquanto falas de Roberto Campos Neto, presidente do BC (Banco Central), sobre a inflação brasileira preocuparam o mercado.

Na cena corporativa, a eleição de Magda Chambriard como CEO da Petrobras e anúncio de acordo de cooperação entre as aéreas Azul e Gol estiveram entre os destaques.

REUTERS

Dados recentes e declarações cautelosas de autoridades do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) têm aprofundado temores de que o primeiro (e aguardado) corte nos juros leve mais tempo do que o esperado.

Nesta semana, o Federal Reserve mostrou cautela na condução da política monetária na ata de seu último encontro, que indicou que "vários" dirigentes têm considerado elevar os juros se a inflação não cair para a meta de 2%.

Esse tom, somado a dados desta semana que mostraram melhora na atividade empresarial dos EUA e preços mais altos de uma série de insumos, levaram operadores a adiar para dezembro a maioria das apostas sobre quando o banco central cortará os juros. Antes, a reunião de setembro era vista como a mais provável.

Em falas na última quinta, o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, afastou ainda mais a esperança de que os juros possam recuar em breve.

"Bostic afirmou que a política monetária tem sido menos eficaz em desacelerar o crescimento do que em ciclos anteriores. Podem ocorrer mais mudanças nas expectativas dos investidores hoje, já que os EUA encerram a semana com uma série de dados sobre bens duráveis e confiança do consumido", avaliam os economistas da Guide Investimentos em nota a clientes.

De acordo com o economista Michael Gapen, do Bank of America, os discursos de autoridades do Fed e a ata da última decisão de juros deixam claro que as surpresas de alta da inflação este ano, juntamente com uma atividade sólida, deverão tirar da mesa, por agora, os cortes nas taxas.

Em relatório enviado a clientes nesta sexta-feira, ele ainda ponderou que também parece haver um forte consenso de que a política se encontra em território restritivo e, portanto, provavelmente também não serão necessários aumentos.

"Numa análise prospectiva, os cortes nas taxas poderão ser desencadeados pelo abrandamento da inflação ou por uma deterioração acentuada da atividade. Por outro lado, os aumentos provavelmente só entrarão em jogo se a inflação —ou as expectativas de inflação— aumentarem consideravelmente."

Na cena doméstica, Roberto Campos Neto afirmou que as expectativas de uma inflação mais alta têm sido uma má notícia para o BC, ressaltando que dados recentes também indicam uma piora na percepção de risco relacionado ao Brasil.

"Em termos de expectativas para a inflação, aqui tem sido uma notícia bastante ruim para o Banco Central", disse em palestra no X Seminário Anual de Política Monetária, promovido pela FGV (Fundação Getulio Vargas) nesta sexta.

"Mais recentemente, a gente viu que as curvas longas (de juros) norte-americanas voltaram e a taxa terminal até voltou um pouco, mas o Brasil não melhorou quase nada. Então parece que nesse movimento a gente ficou um pouco na contramão do mundo emergente, o que sugere que se adicionou prêmio (de risco) específico de Brasil na curva", afirmou.

O Boletim Focus desta semana mostrou que o mercado está vendo uma inflação de 3,74% em 2025, projeção que piorou nas últimas semanas. A meta de inflação é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Na apresentação, o presidente do BC disse ainda que a inflação à frente poderá ser pressionada para cima como resultado do aumento de preços dos alimentos causado pelas enchentes no Rio Grande do Sul e outros fatores.

A principal função da taxa Selic é controlar o aumento de preços. Com a perspectiva de uma inflação mais alta, crescem os temores de que os juros podem encerrar o ano em um patamar maior do que o esperado –o que se reflete em aversão a riscos no Ibovespa.

Na cena corporativa, o conselho de administração da Petrobras aprovou Magda Chambriard como a nova presidente-executiva da estatal nesta sexta, encerrando um conturbado processo de sucessão que derrubou as ações da companhia por duas ocasiões nos últimos meses.

Ela tomou posse logo em seguida e recebeu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a missão de acelerar investimentos para que a petroleira seja a principal indutora de emprego e renda no país.

Magda foi indicada para substituir Jean Paul Prates, demitido na semana passada após longo processo de fritura, que ganhou força após sua abstenção em votação sobre dividendos extraordinários sobre o lucro de 2023.

A alta rotatividade no comando da empresa, que teve oito presidentes nos últimos oito anos, é criticada pelo mercado como um sinal de ingerência política que provoca instabilidade no preço das ações. Há receio, também, sobre a busca de um perfil mais expansionista para a empresa.

"O perfil dela estará completamente alinhado às expectativas do governo e este, por sua vez, quer a Petrobras maior, gastando mais e distribuindo menos o lucro", diz Jefferson Laatus, estrategista-chefe da Laatus. "Na prática, a Petrobras com certeza pagará menos dividendos."

Em resposta à nova CEO, os papéis preferenciais da Petrobras recuaram 0,54%%; os ordinários, 0,34%.

Também foi destaque o anúncio de cooperação entre as aéreas Gol e Azul. O acordo de codeshare, no jargão empresarial, englobará mais de 150 destinos operados pelas duas companhias e as rotas envolvidas serão aquelas operadas por uma das companhias, e não pela outra.

Analistas do Itaú BBA destacaram que a notícia é positiva para a Azul porque, entre outras razões, reforça o ambiente competitivo positivo no espaço aéreo brasileiro, assim como poderá desbloquear receitas adicionais para a Azul dada a maior conectividade criada pelo codeshare.

"Observe que este acordo não depende de aprovação antitruste", afirmaram Gabriel Rezende e equipe em relatório enviado a clientes, avaliando ainda que a notícia poderá aumentar a percepção dos investidores sobre a possibilidade de uma fusão entre as companhias aéreas.

"Dado que a Azul voa sozinha em mais de 80% de suas rotas, a combinação de seus negócios poderia desbloquear sinergias substanciais de receitas, além da economia de custos para a empresa combinada", acrescentaram.

Azul e Gol —em processo de recuperação judicial nos Estados Unidos— afirmaram que possuem cerca de 1.500 decolagens diárias. "O acordo vai criar mais de 2.700 oportunidades de viagens com apenas uma conexão", afirmaram as empresas.

Após o anúncio, Gol, fora do Ibovespa, disparou 11,90%; Azul, 5,18%.

Vale fechou em estabilidade, com leve alta de 0,05%, em dia de queda dos futuros do minério de ferro na China.

Magazine Luiza perdeu 7,04%, engatando o quinto pregão seguido de queda. No começo da semana, o Citi cortou o preço-alvo das ações de R$ 2,50 para R$ 1,80 e reiterou recomendação "neutra/alto risco". Apesar de ver vendas melhores em lojas físicas e melhora na rentabilidade, eles cortaram previsão das vendas online, bem como de lucro, citando despesas financeiras persistentes entre as razões.

Na véspera, o dólar fechou praticamente estável, com leve recuo de 0,03%, cotado a R$ 5,152 na venda. Já o Ibovespa engatou no quinto pregão seguido de perdas, com queda de 0,73%, a 124.729 pontos


(Com Reuters)

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