Bolsa fecha em queda firme e dólar sobe, com ata do Fed em foco

Banco Central dos EUA não deu pistas de cortes futuros e reforçou prioridade de convergir inflação à meta

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São Paulo

A Bolsa brasileira fechou em queda de 1,38% nesta quarta-feira (22), a 125.650 pontos, pressionada pela ata do último encontro do Fed (Federal Reserve), o banco central dos Estados Unidos.

Já o dólar subiu 0,75%, cotado a R$ 5,154 na venda.

Os investidores analisaram os detalhes da reunião de política monetária do Fed, que, no início de maio, manteve os juros inalterados na faixa de 5,25% a 5,50%. A expectativa era de mais pistas sobre a trajetória da taxa básica de juros dos EUA, referência para os mercados globais.

O documento, porém, "não trouxe nenhuma grande novidade", na avaliação de Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

Um investidor está de costas para a câmera, apontando para um grande painel eletrônico que exibe números e porcentagens em vermelho e verde, indicando as flutuações do mercado de ações. A imagem captura um momento de análise e decisão, com foco nos dados que refletem o desempenho das ações.
REUTERS

"Os dirigentes fizeram apontamentos como os que fizeram ao longo dos últimos meses: que vão perseguir a meta de inflação em 2% e que só vão se sentir confortáveis em iniciar o corte de juros quando tiverem certeza da convergência da inflação à meta", diz.

A reunião aconteceu entre os dias 30 de abril e 1º de maio, antes da divulgação dos dados de inflação de abril, que vieram abaixo do esperado.

De lá para cá, cresceu a esperança de que a autoridade norte-americana cortasse os juros em reuniões futuras, animando os pregões norte-americanos. Os dirigentes do Fed, no entanto, repetiam que era preciso mais confiança na continuidade do processo de desinflação para ter alguma mudança na política monetária.

A ata reforçou o recado —e ainda indicou que "vários" membros do comitê de política monetária consideravam possíveis novos aumentos na taxa de juros, diante de um conjunto de riscos como resiliência do mercado de trabalho e uma dispersão maior dos itens que compõem a inflação.

"[Isso] faz com que a projeção de cortes de juros para este ano praticamente desapareça, motivo mais do que importante e relevante para que o mercado comece a realizar [lucros] nos EUA, dado que as Bolsas bateram máximas históricas na semana passada, e comece a ajustar valuation", diz Marcelo Vieira, chefe de renda variável da Ville Capital.

Em resposta, os índices norte-americanos estenderam perdas, assim como o Ibovespa. Por aqui, também pesaram as declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Em audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, ele afirmou temer que a tragédia climática no Rio Grande do Sul seja usada como argumento a favor de um aperto na taxa Selic, cujo patamar nos atuais 10,5% ao ano é "ainda muito restritivo", na análise do ministro.

"Eu fico com muito medo de usarem a tragédia no Rio Grande do Sul, que tem que ser enfrentada, como um argumento que deveria ser usado às avessas. Sempre quando você tem um choque de oferta, você muitas vezes é obrigado a relaxar a política monetária e não piorar a situação. Mas isso é um debate técnico que o Tesouro e o Banco Central têm que fazer."

As declarações aconteceram em meio a discussões sobre a política monetária doméstica, conforme crescem as apostas de uma taxa Selic mais alta do que o previsto ao final de 2024.

O Boletim Focus desta semana passou a projetar que a taxa básica de juros feche o ano em 10% —um aumento de 0,25 p.p. (ponto percentual) em relação à estimativa anterior, de 9,75%. Essa foi a terceira semana consecutiva em que economistas consultados pelo BC (Banco Central) ajustaram as expectativas para cima.

O movimento segue a esteira de declarações recentes de diretores da autarquia, que, na ata da última reunião, concordaram em retirar a orientação futura para os próximos encontros, chamado no jargão econômico de "forward guidance", diante de um cenário de maior incerteza na economia brasileira e global.

Na reunião do começo do mês, o BC reduziu a Selic em 0,25 p.p., após seis cortes consecutivos de 0,5 ponto. O presidente da instituição, Roberto Campos Neto, ainda disse em entrevista na semana passada que não pode antecipar novas reduções, sob o argumento de que a autarquia precisa "de tempo, serenidade e calma para saber como as variáveis vão se desenrolar".

Em geral, quanto mais o Federal Reserve cortar os juros e menos o BC afrouxar a Selic, melhor para o real. Isso porque, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e EUA, mais interessante fica a moeda doméstica para uso em estratégias de "carry trade", em que investidores tomam empréstimo em país de taxas baixas e aplicam esse dinheiro em mercado mais rentável.

A Selic mais alta, porém, inibe o consumo como forma de controlar a inflação doméstica —o que, para Haddad, contrasta com a atual conjuntura econômica.

"Há um coro velado de que a inflação está alta, mas a inflação (atual) é uma das mais baixas da nossa história. Desde o Plano Real para cá, pegue os anos em que a inflação foi menor do que 4%. São raros os anos", disse.

"Então eu não estou entendendo esse ruído todo que está acontecendo, esse ruído não está fazendo bem para a economia brasileira e não tem amparo nos dados", afirmou Haddad, dizendo, sem entrar em detalhes que há "interesse" por trás de críticas à política econômica do governo.

"São patrocinados, não são reais, tem alguém, tem um interesse, por trás disso."

As curvas de juros futuros fecharam o dia com avanços consistentes, em resposta aos comentários de Haddad e à alta dos rendimentos dos Treasuries no exterior, após a ata do Fed.

No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,4%, ante 10,356% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,78%, ante 10,654% do ajuste anterior.

A taxa para janeiro de 2027 estava em 11,15%, ante 11,004%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,445%, ante 11,295%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,83%, ante 11,695%.

Na cena corporativa, a maior parte dos papéis operava no negativo e a alta dos juros futuros pressionou ações de empresas sensíveis à taxa Selic, como Lojas Renner (7,09%), Magazine Luiza (5,16%) e MRV (3,94%).

Vale recuou 0,79%, enquanto Petrobras teve alta, com as preferenciais subindo 1,36% e as ordinárias, 0,94%.

Na véspera, o dólar subiu 0,23%, cotado a R$ 5,116. O Ibovespa perdeu 0,27%, a 127.411 pontos.

(Com Reuters)

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