Expansão da energia nuclear esbarra no aumento de conflitos globais, diz estudo

Piora na segurança global pode ameaçar o próximo renascimento da modalidade antes mesmo de ele começar

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Jonathan Tirone
Bloomberg

O potencial da energia nuclear como fonte de energia limpa para combater as mudanças climáticas está cada vez mais em risco, com novos dados sugerindo que seu crescimento poderia ser ameaçado pela crescente instabilidade geopolítica e guerra.

Enquanto os banqueiros hesitam diante da cifra de US$ 5 trilhões para triplicar a geração atômica até 2050, pesquisadores da George Washington University afirmaram nesta semana que a deterioração da segurança nos principais mercados também pode ameaçar o próximo renascimento da energia nuclear antes mesmo de ele começar.

Usina nuclear em Saint-Vulbas, na França - Olivier Chassignole - 20.jul.2023/AFP

"É difícil ver como a triplicação da energia nuclear poderia ocorrer sem agravar o risco de proliferação de armas nucleares, terrorismo nuclear, sabotagem, coerção e armamentismo", disse a ex-diplomata do Departamento de Estado dos EUA Sharon Squassoni, que liderou o estudo.

"Abordagens para reduzir as emissões de carbono realmente precisam considerar as implicações para a segurança nacional."

Para atingir metas ambiciosas de energia nuclear, a economia mundial precisaria instalar 800 gigawatts de capacidade adicional ao longo dos próximos 25 anos, equivalente a cerca de 30 novos reatores de grande porte entrando em operação a cada ano até meados do século.

Enquanto China e Rússia avançaram rapidamente e estão construindo unidades de escala de gigawatts, muitas economias ocidentais e emergentes reduziram suas ambições.

A previsão é que os chamados reatores modulares pequenos (SMRs, na sigla em inglês) gerem um terço ou menos da eletricidade produzida por uma unidade tradicional. Atualmente, existem mais de 80 projetos concorrentes em desenvolvimento.

Devido ao seu tamanho menor, potencialmente milhares de novas usinas precisarão ser instaladas, muitas vezes em locais distantes.

"A introdução em larga escala de SMRs poderia aumentar os riscos de várias maneiras", disse Squassoni. Os dados que ela coletou mostram que mais de três quartos dos 54 países que manifestaram interesse em construir minirreatores também estão enfrentando instabilidade política moderada a grave.

O perigo mais evidente é que Estados em guerra ataquem diretamente as usinas nucleares, como a Rússia fez na Ucrânia quando atacou Zaporíjia, ou como Israel contemplou fazer para interromper o enriquecimento de urânio do Irã.

Além disso, há as preocupações menos óbvias, com pesquisas mostrando que os SMRs não são uma solução definitiva para resolver o risco de acidentes, vulnerabilidade da cadeia de suprimentos ou proliferação de armas.

Questionado sobre os riscos, Rafael Mariano Grossi, chefe da International Atomic Energy Agency (Agência Internacional de Energia Atômica), disse que, embora o perigo para as usinas nucleares seja real, pode ser melhor responsabilizar as pessoas do que impedir uma tecnologia.

"O problema aqui não é a instalação nuclear", disse Grossi na semana passada durante uma entrevista no porto holandês de Roterdã. "O problema é o processo de tomada de decisão dos homens e mulheres que decidem que vão atacar uma instalação nuclear."

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