Descrição de chapéu Banco Central

Galípolo se diz alerta com nível do dólar, mas não indica intervenção do BC

Diretor do BC admite que real tem pior performance do que moedas de outras economias emergentes

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Brasília

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, demonstrou nesta sexta-feira (28) preocupação com a desvalorização do real, mas não indicou intervenção no mercado de câmbio.

Em participação por videoconferência em evento promovido pela FGV (Fundação Getulio Vargas), no Rio de Janeiro, Galípolo reconheceu que o real tem tido uma performance pior frente ao dólar do que as moedas de outras economias emergentes.

Gabriel Galípolo em sabatina no Senado Federal por cargo de diretor de Política Monetária do Banco Central - Gabriela Biló - 4.jul.2023/Folhapress

Ainda assim, o diretor reforçou que o BC não trabalha com uma meta de câmbio. "O câmbio flutuante está aí para absorver justamente mudanças que podem ocorrer por reprecificação, que podem ser provocadas por questões locais ou por questões estrangeiras", disse.

O dólar voltou a operar em alta e fechou cotado a R$ 5,5906 nesta sexta, em dia de disputa entre agentes de mercado pela formação da Ptax, uma taxa de câmbio calculada pelo BC que serve como referência para a liquidação de contratos futuros.

Em entrevista à rádio O Tempo, durante visita a Minas Gerais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que os recentes ganhos do dólar contra o real são consequência de especulação com derivativos, acrescentando que o Banco Central tem a obrigação de investigar a situação.

Ele também afirmou que o patamar atual da taxa básica de juros (Selic), fixada hoje em 10,50% ao ano, é "irreal", defendendo que a inflação está "controlada".

Em 2023, o BC não realizou leilões extras de dólar —o que caracterizou a menor intervenção da autoridade monetária desde a adoção do regime de câmbio flutuante no país, em 1999. Neste ano, em abril, o BC vendeu 20 mil contratos de swap cambial ofertados em leilão adicional —o equivalente a US$ 1 bilhão.

De acordo com Galípolo, a autoridade monetária segue atenta a uma possível disfuncionalidade no mercado de câmbio e tenta dimensionar o quanto essa performance pior do real em comparação com os pares representa um sinal adicional de atenção.

"A gente vai estar sempre olhando se há algum tipo de descolamento muito fora daquilo que está acontecendo com os nossos pares e o restante do mercado global, se existem algumas janelas ou questão de disfuncionalidade na curva ou na própria liquidez", disse.

Segundo ele, há diversas razões que podem explicar a maior desvalorização do real. Entre elas, mencionou ruídos e "idiossincrasias domésticas", citando como exemplo o racha na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC de maio.

Naquela ocasião, a divergência dos quatro diretores indicados pelo presidente Lula aumentou a especulação no mercado financeiro sobre o futuro do BC e colocou a credibilidade da instituição em xeque. Isso levou a uma piora das expectativas de inflação e afetou o mercado de câmbio.

Para reverter esse quadro, o BC vem tentando passar uma mensagem de coesão. Em junho, o Copom tomou uma decisão unânime para interromper o ciclo de cortes de juros.

O diretor do BC ressaltou também que o Brasil "detém um mercado mais líquido" e que "historicamente é comum que se use o Brasil por ter uma porta de saída mais larga pela questão da liquidez que faz com que os nossos ativos sofram um pouco mais".

A comunicação de Galípolo, favorito na disputa pela presidência do BC, está alinhada ao do atual chefe da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, em defesa do câmbio flutuante.

"Nós não fazemos intervenção de câmbio visando ou mirando nenhum tipo de nível ou com nenhum preço pré-determinado", disse Campos Neto em entrevista a jornalistas, em São Paulo, na quinta-feira (27).

De acordo com o presidente do BC, a desvalorização do real está em linha com algumas outras variáveis que também simbolizam o aumento da percepção do risco de investir no Brasil.

"Como o prêmio de risco sofreu uma piora nas últimas semanas, fazer uma intervenção pontual no mercado tem pouca efetividade porque você transborda a demanda por hedge [proteção] de um mercado para o outro, e você acaba não atingindo o seu objetivo", disse.

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