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Empresas de defesa contratam no ritmo mais rápido em décadas

Pesquisa mostra que gigantes armamentistas da Europa e EUA se preparam para contratar dezenas de milhares

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Sylvia Pfeifer Clara Murray Arjun Neil Alim Sarah White
Londres, Frankfurt e Paris | Financial Times

Empresas de defesa globais estão recrutando trabalhadores no ritmo mais acelerado desde o fim da Guerra Fria, enquanto o setor busca suprir demandas próximas de níveis recordes.

Pesquisa do Financial Times sobre os planos de contratação de 20 grandes e médias empresas de defesa e aeroespaciais dos Estados Unidos e Europa descobriu que as companhias querem recrutar dezenas de milhares de pessoas este ano.

Três dos maiores contratantes dos EUA —Lockheed Martin, Northrop Grumman e General Dynamics— têm cerca de 6.000 vagas de emprego a serem preenchidas, enquanto dez empresas pesquisadas estão buscando aumentar as posições em aproximadamente 37 mil no total, ou quase 10% da força de trabalho agregada.

A foto mostra um caça cinza escuro em um voo. Ele está imbicado para a esquerda e uma trilha de fumaça sai de cada asa. Ao fundo, céu nublado.
Caça Lockheed Martin F-35 se apresenta durante exposição em Berlim, na Alemanha, em junho de 2024 - Axel Schmidt/Reuters

"Desde o fim da Guerra Fria, este é o período mais intenso para o setor de defesa, com o maior aumento no volume de pedidos em um período de tempo relativamente curto", disse Jan Pie, secretário-geral da ASD (sigla em inglês para Associação das Indústrias Aeroespaciais e de Defesa da Europa).

Governos ao redor do mundo aumentaram os gastos militares desde a invasão da Rússia à Ucrânia e em meio a tensões geopolíticas generalizadas.

O aumento repentino nos pedidos após décadas de baixos volumes, combinado com a competição por habilidades digitais de grupos de tecnologia e um mercado de trabalho ainda lidando com escassez de pessoal no pós-pandemia de Covid-19, são alguns dos fatores que impulsionam a onda de contratações em todo o setor.

As empresas disseram que estão procurando preencher posições em todas as áreas, desde aprendizes até executivos em estágio avançado de carreira. Engenheiros, desenvolvedores de software e analistas de segurança cibernética, bem como soldadores e mecânicos, são demandados.

Antonio Liotti, diretor de pessoas da empresa italiana de defesa Leonardo, disse que está conduzindo uma busca por novas contratações "ainda mais intensa do que durante conflitos anteriores, como Iraque ou Afeganistão".

A empresa, que faz parte de um programa com a BAE Systems, do Reino Unido, e a Mitsubishi Heavy Industries, do Japão, para construir um novo caça, pretende contratar 6.000 novos funcionários, incluindo substituições, até o final de 2024.

A companhia também espera recrutar de 8.000 a 10 mil novos funcionários entre 2025 e 2028, principalmente engenheiros industriais e de software.

A busca por novas contratações, acrescentou Liotti, não é impulsionada apenas por conflitos, mas também pela maior concorrência de indústrias adjacentes, como "empresas de alta tecnologia e consultorias".

Outros fatores, incluindo pessoas em busca de um maior equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e o "quiet quitting", também influenciam.

Fabricantes de munições, especialmente a Rheinmetall e Nammo, que aumentaram significativamente a produção para reabastecer os estoques governamentais, têm planos de contratação mais agressivos.

A Nammo disse que "nunca viu uma situação como essa antes". A empresa, parcialmente propriedade dos governos norueguês e finlandês, aumentou seu quadro de funcionários em 15% —de 2.700 em 2021 para 3.100 em 2023.

Atualmente, emprega cerca de 3.200 pessoas e diz que o dobro do tamanho da empresa até o final de 2030 "parece razoável".

A alemã Rheinmetall disse na última sexta-feira (14) que procura contratar centenas de funcionários da fabricante de peças de automóveis Continental, que tem sofrido com demanda baixa do setor automotivo.

A Thales, da França, fabricante do míssil Starstreak doado à Ucrânia a partir dos estoques governamentais ocidentais, disse que recrutou 9.000 pessoas —11% de sua força de trabalho atual— em suas operações de defesa nos últimos três anos.

A BAE aumentou significativamente a contratação no ano passado, mas já havia intensificado as admissões para cumprir programas de longo prazo, como o Programa Global de Combate Aéreo e as fragatas Type 26 da Marinha Real.

Tania Gandamihardja, diretora de recursos humanos do grupo, afirmou que a BAE dobrou a admissão de iniciantes nos últimos cinco anos no Reino Unido e está recrutando "cerca de 2.700 aprendizes e graduados este ano, bem como milhares de profissionais experientes adicionais".

A campeã de mísseis da Europa, MBDA, de propriedade da BAE, Airbus e Leonardo, fabricante dos mísseis Storm Shadow e Scalp, usados na Ucrânia, planeja contratar mais de 2.600 pessoas este ano —17% da sua força de trabalho atual de 15 mil.

A Dassault Aviation, que constrói a aeronave de combate Rafale, não viu aumento direto nos pedidos da Ucrânia, mas, dada a duração dos ciclos de fabricação no setor, tem contratado funcionários.

Fabricantes na defesa nuclear, especialmente aqueles envolvidos no programa de submarinos Aukus entre o Reino Unido, os EUA e a Austrália, estão entre os que veem o maior aumento na escassez de habilidades.

Várias empresas, incluindo a Rolls-Royce e a Babcock International, recentemente abriram suas próprias escolas de habilidades nucleares, enquanto a Thales UK, que fornece sonar para todos os submarinos da Marinha Real, lançou uma academia de sonar.

O governo do Reino Unido lançou separadamente uma força-tarefa para treinar dezenas de milhares de trabalhadores necessários nos programas nucleares civis e militares do país.

O esforço de contratação e treinamento é "sem precedentes nos tempos recentes", segundo Beccy Pleasant, diretor no Nuclear Skills Delivery Group, prevendo mais de 30 mil funções adicionais necessárias ao setor de defesa nuclear entre agora e 2030.

As empresas também intensificaram o envolvimento com faculdades e outras organizações para construir futura mão de obra.

A Universidade de Cranfield, que tem laços estreitos com o setor, está oferecendo novos cursos, especialmente na área forense digital, para ajudar as pessoas a identificar ataques cibernéticos.

"Há um reconhecimento de que você não pode simplesmente presumir que a academia vai produzir as pessoas que você deseja recrutar. As empresas estão agora investindo diretamente na formação de pessoal", disse Heather Goldstraw, diretora de defesa da Cranfield.

Um desafio particular para a indústria é que alguns cargos exigem autorizações de segurança adicionais.

A RTX, proprietária do fabricante de mísseis e sensores Raytheon, disse neste ano que estava "continuando a enfrentar desafios na contratação de pessoal altamente qualificado, incluindo engenheiros, trabalhadores qualificados e titulares de autorizações de segurança".

Outras, como a Renk da Alemanha, disseram que podem ter que buscar trabalhadores no exterior.

"Também precisamos de outras pessoas qualificadas do exterior, porque na Alemanha não conseguimos encontrar, todos juntos como indústria de defesa, pessoas suficientes para os empregos", disse a diretora executiva Susanne Wiegand.

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