Descrição de chapéu tcu

TCU aprova contas do 1º ano de Lula 3, mas faz alerta sobre benefícios fiscais

Ministros também chamam atenção para déficit da Previdência, com ênfase no regime dos militares

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O TCU (Tribunal de Contas da União) aprovou por unanimidade nesta quarta-feira (12) as contas do primeiro ano do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas com ressalvas.

O relator do processo, ministro Vital do Rêgo, considerou que foram observados os princípios constitucionais e legais que regem a administração pública federal. Os demais ministros concordaram e, agora, o relatório seguirá para avaliação do Congresso Nacional.

0
Fachada do TCU (Tribunal de Contas da União), em Brasília; Corte avalia se contratos de térmicas a gás da Âmbar dever ser mantidos - Gabriela Biló/14.04.23 - Gabriela Biló - Folhapress

O documento, no entanto, enumerou diferentes ressalvas sobre os números. O tribunal destacou que foram descumpridas a Constituição e a legislação na sanção de propostas que criaram ou ampliaram benefícios tributários.

O TCU cita especificamente o descumprimento do artigo 113 da Constituição Federal, que exige estimativa de impacto orçamentário para medida que crie despesa obrigatória ou diminua receitas.

Também é citado o artigo 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal, que demanda medidas de compensação para implementar benefícios tributários ou demonstração que a iniciativa está na lei orçamentária e não afetará as metas fiscais.

"Benefícios tributários aprovados por medidas legislativas sem a devida adequação orçamentária e financeira [...] somente podem ser efetivamente implementados após satisfeitos os requisitos previstos na citada legislação", informa o TCU em seus alertas ao Poder Executivo.

Segundo o relator, somente com benefícios tributários foram direcionados R$ 519 bilhões em 2023, dos quais R$ 68 bilhões representaram as 32 desonerações instituídas no próprio ano. Houve aumento de 8,2% em relação ao 2022.

O relator citou, como exemplo, a Ford, que fechou as fábricas no Brasil em 2021 no Nordeste, "depois de usufruir algo como R$ 20 bilhões em incentivos fiscais apenas da União, sem que fosse demonstrada concretamente qualquer contrapartida".

"Verdadeiramente, se o gasto tributário não for feito para proporcionar maior resultado por menor custo (alocação eficiente), nem se tiver a capacidade de transformar positivamente determinadas condições de vida, simplesmente não se justifica que os ganhos sociais e econômicos pretendidos não sejam perseguidos diretamente por meio de intervenções do próprio Estado", afirmou.

O TCU também apontou problemas no Balaço Patrimonial, dizendo, por exemplo, que o ativo circulante está superavaliado em R$ 9,4 milhões, devido a valores já recebidos e não baixados da conta créditos a curto prazo.

Os ministros também chamaram atenção para problemas vistos na Previdência. O relator afirmou que, "como de costume", o sistema não tem sido capaz de prover a cobertura dos respectivos benefícios.

Ele disse que, desponta, nesse aspecto, a previdência dos militares, cuja relação entre receitas e despesas, em 2023, foi de apenas 15,5% (R$ 9,1 bilhões para R$ 58,8 bilhões), acarretando o déficit de R$ 49,7 bilhões. A relação é bem pior que no quadro dos servidores civis, com cobertura de 41,7%.

Isso aconteceu, segundo o tribunal, mesmo com o ajuste das contribuições definido pela lei de 2019, que alterou o sistema de previdência dos militares, e que ainda deverá surtir maiores efeitos futuramente.

O presidente do tribunal, ministro Bruno Dantas, destacou que o ano de 2023 seguiu dentro das expectativas, "sinalizando o viés de recuperação econômica do país". Mesmo assim, ressaltou que os principais sistemas previdenciários brasileiros apresentaram um déficit total de R$ 428,3 bilhões.

Dantas afirmou que, nos últimos nove anos, o déficit previdenciário cresceu a uma média anual de 9,1% ao ano e seu incremento em 2023 foi influenciado principalmente pelo aumento de sentenças judiciais, precatórios, número de beneficiários e pela elevação do valor real do salário-mínimo.

"A despesa previdenciária representou mais da metade das despesas primárias da União [...], evidenciando a sobrecarga da previdência sobre outros serviços públicos. Podemos afirmar categoricamente que o Tesouro Nacional seria superavitário se excluíssemos a Previdência Social do cálculo do seu resultado primário", concluiu.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.