Demora para religar energia é alvo de queixas no serviço da Equatorial em Goiânia

Equatorial Goiás, concessionária que assumiu em dezembro de 2022, diz que investe e planeja aumentar em 41% as manutenções preventivas

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Goiânia

Moradora do Residencial Campos Dourados, em Goiânia, a gerente Stela Oliveira, 39, diz que perdeu as contas de quantas horas ela, o marido e os dois filhos ficaram no breu em casa neste ano. "Muito medo de perder carne na geladeira."

A autônoma Fabiana Melo, 36, conta que sua TV queimou devido a quedas de energia na cidade onde mora, em Minaçu (500 km da capital goiana). "Até um transformador explodiu."

Interrupções frequentes de energia e demora na retomada do serviço são problemas antigos no estado, onde a Equatorial Goiás opera como distribuidora de energia desde dezembro de 2022. "Serviço muito ruim. Pior agora", afirma Stela.

Imagem mostra uma mulher de pé ao lado de uma parede, com uma sombra projetada atrás dela. A sombra tem formato de um ventilador. A mulher está usando uma blusa azul com detalhes coloridos e calça preta
Moradora do Residencial Campos Dourados, em Goiânia, a gerente Stela Oliveira, 39, diz que perdeu as contas de quantas horas ela, o marido e os dois filhos ficaram no breu em casa este ano, sem energia elétrica - Weimer Carvalho/Folhapress/Weimer Carvalho/Folhapress

Em nota, a Equatorial Goiás informa que, no início da operação, apresentou plano de ações e investimentos. Para 2024, a holding brasileira diz que planeja aumentar em 41% as manutenções preventivas em todo o estado.

A Equatorial, que se tornou neste mês sócia estratégica da Sabesp, companhia de saneamento do estado de São Paulo, opera sete concessionárias.

Em ranking da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a empresa teve o pior desempenho entre 29 grandes concessionárias distribuidoras de energia em 2023. Suas operações no Rio Grande do Sul, no Maranhão e no Pará ocuparam, respectivamente, 28º, 21º e segundo lugares no ranking. As de Alagoas, do Amapá e do Piauí não foram listadas no levantamento porque são menores.

Dados da agência mostram que, em média, em 2023, os goianos ficaram sem energia elétrica por 21 horas e 34 minutos, quase o dobro do limite permitido, e passaram por 11 interrupções no sistema, em vez das 7 permitidas.

São métricas de DEC e FEC, indicadores globais de qualidade do fornecimento da energia, que verificam tempo e número de interrupções.

Em maio deste ano, por meio de convênio com a Aneel, a Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização recomendou "atenção especial da distribuidora no cumprimento das ações e obras previstas com o objetivo de melhorar o desempenho dos indicadores dos conjuntos de sua área de concessão". É o que diz o mais recente relatório de fiscalização trimestral.

O documento mostra que, no primeiro trimestre, entre 128 conjuntos de unidades consumidoras avaliadas, a Equatorial ultrapassou o limite de tempo permitido para interrupção de energia no ano em 113 (88,2%) e violou o número aceitável em 88 (68,7%). A subestação Pamplona, no Entorno do Distrito Federal, bateu recorde de violação nos dois indicadores.

O vaivém no setor elétrico goiano se arrasta há pelo menos 14 anos. Em 2010, o governo iniciou o processo de federalização da CelgD. A Equatorial assinou, em 2011, um acordo de confidencialidade com a Celgpar (então controladora da Celg D), demonstrando interesse em avaliar a viabilidade de investimentos ou parcerias para explorar mercados de distribuição, geração e transmissão de energia elétrica no território goiano. A companhia não se manifestou sobre esse acordo.

Na época, o governo de Goiás insistiu na federalização, por ser mais ágil que o leilão. Em 2012, a Eletrobras assumiu o serviço até que houvesse a privatização da distribuidora goiana, que foi arrematada em 2016 pela italiana Enel Brasil. A holding estrangeira foi acionista majoritária até dezembro de 2022, quando a Equatorial passou a ser responsável pela distribuição no estado.

Presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas em Goiás (ABEE-GO) e coordenador nacional das Câmaras Especializadas de Engenharia Elétrica do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Petersonn Caparrosa avalia que a Equatorial tende a não cumprir as metas regulatórias nem fazer os investimentos necessários no prazo, de forma que os consumidores vejam melhoria. "É importante que a Equatorial observe a concessão no horizonte de 25 a 30 anos, não no curto prazo", diz.

Ex-coordenador nacional das Câmaras Especializadas de Engenharia Elétrica do Confea, Jovanilson de Freitas diz que a situação hoje reflete o histórico ruim. "Espero que, a partir de janeiro, a empresa possa apresentar resultados melhores dos investimentos, com retorno na qualidade do serviço para a população."

A Equatorial informa que foram investidos R$ 2 bilhões na área de concessão em 2023. A companhia diz que modernizou e ampliou 161 unidades, construiu seis novas linhas de distribuição de alta tensão, entregou cinco novas subestações, além de reformar outras quatro. Estão previstas novas obras, além da ampliação e modernização de outras 97 subestações.

A Aneel informou que a Equatorial participa de plano para alcançar, no prazo de quatro anos, o cumprimento dos limites regulatórios dos indicadores DEC e FEC em no mínimo 80%. Caso não evolua de forma satisfatória, a distribuidora poderá receber penalidades administrativas, que podem ir de advertência e multa à caducidade da concessão.

Moradoras como Fabiana e Stela têm urgência. Sem TV, a vendedora diz ter medo de que as quedas de energia queimem a geladeira, o micro-ondas e a lavadora. "A gente custa juntar dinheiro para comprar e depois perde assim do nada", diz. "Anos após ano, o serviço não melhora", afirma a gerente.

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