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Inflação nos EUA melhora em junho, mas futuro ainda é incerto

País teve deflação de 0,1% no mês passado, mas acumulado de 12 meses ainda está em 3%, acima da meta de 2%

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Robert Armstrong

É comentarista financeiro do Financial Times nos EUA; foi editor financeiro dos EUA e redator-chefe editorial

Financial Times

A inflação —pelo menos da forma como gosto de mensurá-la— não foi apenas baixa, mas extremamente baixa em junho.

Veja no gráfico abaixo a variação do principal índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos. Junho registrou uma deflação de 0,1%, e o acumulado de três meses está apenas um pouco acima de 2%.

Um recorte importante nessa história animadora é a inflação da habitação, que havia sido a parte mais resiliente do índice de preços. Ela despencou em junho, finalmente confirmando a mensagem que vinha se desenhando há algum tempo.

No entanto, ainda não é hora para o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) colocar a faixa de "missão cumprida" na ponte do porta-aviões do Fed. Um mês não é suficiente. Historicamente, a inflação alta vem em ondas e o comitê de política monetária, com razão, exigirá um segundo mês repetindo o quadro antes de mudar a política monetária.

E esse mês provavelmente foi excepcionalmente bom. Preston Caldwell, da consultoria Morningstar, aponta que a inflação de três grandes categorias voláteis —passagens aéreas, tarifas de hotéis e carros usados— caiu drasticamente.

Se tivessem permanecido estáveis, a leitura mês a mês teria se parecido muito com a de maio. Dito isso, elas não ficaram estáveis, e o índice registrado em maio também foi muito bom.

Consumidor analisa produtos em loja nos Estados Unidos
EUA registraram deflação de 0,1% em junho - Scott Olson/Getty Images via AFP

Em resposta, o mercado de futuros elevou a probabilidade de um corte nos juros em setembro para 91% e e a de início de julho para 55%. Os títulos do Tesouro de curto e longo prazo subiram, e a curva de rendimentos inclinou-se ligeiramente.

Mas a resposta realmente interessante foi no mercado de ações. A Nvidia caiu quase 6% e outros fabricantes de chips a seguiram. Alphabet, Meta, Microsoft, Apple e Amazon caíram todos 2% ou mais. Índices de pequenas empresas subiram. Uma aposta no risco, com certeza. Mas as sensibilidades às taxas são uma parte crucial disso. Veja o desempenho dos setores do S&P 500 até esta quinta-feira (11):

O melhor desempenho, dos imóveis, é de um setor dependente de dívidas que foi esmagado por altas taxas de juros. Os serviços públicos são substitutos de títulos e, portanto, sensíveis às taxas. O suspiro de alívio de ambos é previsível. Os próximos três —matéria-prima, indústria e energia— são intensivos em capital e cíclicos. Os três piores desempenhos, por outro lado, têm grande exposição às principais empresas de tecnologia, onde, ao que parece, alguns investidores estavam procurando um motivo para lucrar.

Foi apenas um dia, mas há os elementos de uma rotação na liderança do mercado. Os movimentos me fazem pensar que uma parte significativa da busca por ações de tecnologia/IA foi impulsionada pelo medo, não pela exuberância.

Os investidores estão procurando um lugar para se esconder do inevitável, embora atrasado, dano causado pelas altas taxas de juros.

Como evitar esse dano estará nas mentes de Jerome Powell (presidente do Fed) e seus colegas enquanto decidem quando cortar os juros. As únicas partes da economia que sentiram dor de verdade até agora são imóveis, habitação, construção e os consumidores mais endividados.

Mas uma dor maior pode aparecer nos próximos meses —a curva de rendimentos permanece muito invertida. O sinal decisivo será o mercado de trabalho. Com isso, uma pergunta corriqueira ganha relevância: a desaceleração no mercado de trabalho é uma normalização pós-pandemia ou o início de algo mais preocupante?

Esse debate será travado entre aqueles que se concentram nos níveis e aqueles que se concentram na direção da mudança. A taxa de desemprego subiu de 3,7% para 4,1% desde janeiro, impulsionada por mais pessoas entrando no mercado de trabalho e procurando empregos. Isso é um aumento notável.

Mas 4,1% ainda é um nível baixo pelos padrões históricos. Da mesma forma, o crescimento do emprego, o aumento dos salários e as contratações esfriam a cada mês que passa, mas ainda estão bem, se for considerado o padrão pré-pandemia. Eu tenderia a não me preocupar muito com nada disso, se não fosse pela curva invertida e pela fraqueza nas seções de emprego das pesquisas ISM de serviços e manufatura.

É um conjunto de dados difícil de ler à sombra da pandemia. Mas há o suficiente para fazer o Fed pensar sobre o lado do emprego de seu mandato. O mercado parece estar certo sobre esse corte em setembro.

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