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Investidores correm para fundos de platina, reforçando aposta em veículos híbridos

Transição para os carros 100% elétricos será mais longa do que se esperava e venda de híbridos cresce

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Harry Dempsey Mari Novik Kana Inagaki
Londres e Tóquio | Financial Times

Os investidores estão apostando no ressurgimento do interesse em veículos híbridos e na demanda resiliente por carros com motores de combustão tradicionais. Eles vêm investindo dinheiro em fundos que aplicam em platina, usada para fabricar os catalisadores de veículos a combustão e híbridos, e os números atingiram o maior patamar dos últimos quatro anos.

As participações em fundos negociados em bolsa lastreados em platina física aumentaram cerca de 444.000 onças (12,6 toneladas) no segundo trimestre, equivalente a quase 6% da demanda anual e o maior salto desde 2020. Tanto veículos híbridos quanto veículos com motores tradicionais usam platina para reduzir as emissões prejudiciais ao ambiente.

As vendas de veículos híbridos aumentaram —com as principais montadoras investindo pesadamente nessa área novamente—, à medida que os consumidores estão cada vez mais cautelosos em relação aos veículos totalmente elétricos. Ao mesmo tempo, a previsão é que os veículos com motor de combustão continuem existindo por mais tempo do que se esperava.

Imagem de um carro sedan prateado estacionado na rua em frente a um prédio moderno com fachada de vidro. Há palmeiras e vegetação ao redor do prédio. O carro possui design moderno e rodas de liga leve escuras.
Híbrido King, lançado pela BYD no Brasil. - Divulgação

"O interesse do investidor está vindo do crescimento mais lento de veículos elétricos a bateria, e da demanda maior por veículos com motor de combustão mais longo", disse Edward Sterck, diretor de pesquisa do World Platinum Investment Council, um grupo de lobby da indústria. Ele acrescentou que "o hidrogênio traz boas perspectivas para a platina".

Os fundos de índice, ou ETFs (Exchange Traded Funds), ajudaram a impulsionar o preço da platina em 20% em um mês até meados de maio, após ser negociada abaixo de US$ 1.000 (R$ 5.452) por onça desde junho passado. Desde então, o metal recuperou alguns de seus ganhos para ser negociado a US$ 1.014 por onça (R$ 5.528), menos da metade de sua máxima histórica de US$ 2.240 (R$ 12.213) em 2008.

Analistas disseram que alguns investidores estavam retirando seus lucros da alta do ouro, que atingiu em maio uma máxima histórica de cerca de US$ 2.450 (R$ 13.358) por onça troy, e reinvestindo o dinheiro em outros metais preciosos, como prata e platina.

"Tudo se resume ao fato de que tivemos uma forte alta nos metais preciosos, como ouro e prata, e uma expectativa de que a platina seria a próxima do grupo a ganhar", disse Nitesh Shah, chefe de pesquisa de commodities na WisdomTree, que oferece um ETF de platina.

ETFs vinculados ao paládio, outro metal usado em conversores catalíticos, tiveram fortes entradas equivalentes a 200 mil onças este ano.

Fabricantes globais de automóveis, incluindo Ford e Stellantis, estão expandindo sua linha de híbridos a gás e elétricos, já que o crescimento das vendas de veículos elétricos desacelera devido a preocupações com custos e infraestrutura de carregamento. Os investimentos em tecnologia híbrida são muito menores do que em veículos elétricos, enquanto as fabricantes de automóveis conseguem gerar margens de lucro maiores.

A Toyota também registrou lucros recordes graças ao crescimento nas vendas de híbridos e revelou recentemente uma nova geração de motores de combustão interna, já que espera que a mudança global para veículos elétricos demore mais do que o esperado.

Nesse contexto, as vendas de veículos híbridos na Europa neste ano subiram 21% para 1,3 milhão de unidades, em comparação com o crescimento de apenas 2% para veículos elétricos, de acordo com o BNP Paribas. As vendas de híbridos nos EUA aumentaram ainda mais rápido, 35% na comparação anual.

"Os fabricantes que decidiram parar de produzir híbridos estão adicionando-os de volta ao seu catálogo. Tudo mudou em relação a um ano atrás", disse Philippe Houchois, analista da Jefferies. Ele acrescentou que, embora os dados de vendas sobre "o renascimento dos híbridos" sejam mistos, especialmente na Europa, as montadoras começaram a reinvestir pesadamente na tecnologia.

"Serão híbridos por mais tempo, plug-ins por mais tempo", ele disse. "Todos eles precisarão de conversores catalíticos."

Os conversores catalíticos em veículos híbridos exigem volumes maiores de platina e paládio do que os motores tradicionais a gasolina e diesel.

Por outro lado, a desaceleração na demanda por veículos elétricos afetou os preços dos metais usados em baterias, como lítio, cobalto e níquel.

Nicky Shiels, analista da MKS Pamp, uma refinaria e negociadora suíça de metais preciosos, disse que a desaceleração dos veículos elétricos foi "um vento favorável absoluto" para a demanda de investimento por platina.

Shiels acrescentou que a atenção dos investidores também foi impulsionada pela oferta hostil da mineradora BHP pela rival Anglo American no início deste ano. Como parte de sua proposta, a BHP exigiu que a Anglo, maior produtora de platina do mundo, saísse do negócio, adicionando risco para investidores que tentassem ganhar exposição à platina ao aplicar na mineração.

Paul Syms, chefe de gerenciamento de produtos de commodities da Invesco, disse que a demanda por platina também foi impulsionada pela IA e pelo armazenamento de dados, já que o metal é usado em discos rígidos.

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