Descrição de chapéu The New York Times

Por que os cheques de papel se recusam a morrer nos EUA

Taxas, medo de fraudes e apego sentimental motivam norte-americanos a ainda utilizar cheques

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Ron Lieber
The New York Times

A Target parou de aceitar cheques pessoais como forma de pagamento este mês, o que pode inspirar a seguinte pergunta: por que demorou tanto?

A fraude com cheques mais que dobrou nos últimos anos e custa pelo menos US$ 1 para as empresas processarem cada cheque que recebem. Muitos jovens adultos nunca sequer utilizaram um.

A ilustração mostra uma cena movimentada de uma cidade, onde um dinossauro verde, segurando um cheque, caminha pela rua. Várias pessoas estão presentes, algumas segurando cheques, outras fazendo compras ou interagindo. Há um carro azul e um táxi amarelo na cena, além de uma banca de jornal e uma loja de produtos. A atmosfera é vibrante e cheia de atividades.
Ilustração - Martin Haake/NYT

Mas se você não usa um cheque há anos e considera essa prática motivo de orgulho, isso pode dizer muito sobre onde você mora e o que você paga. Em muitos setores, os cheques continuam sendo uma forma popular de pagamento e, às vezes, são necessários.

De acordo com dados de pesquisa de consumidores do FED (Federal Reserve) de Atlanta, que rastreia a porcentagem de pagamentos feitos por cheque, as seguintes áreas recebem a maioria dos pagamentos por cheque: trabalhadores como eletricistas e encanadores, recebem 25% de seus pagamentos por cheque. Organizações religiosas e de caridade vêm em seguida com 22%. Proprietários, autoridades fiscais governamentais e empresas de serviços profissionais também recebem cheques em percentuais de dois dígitos.

Existem muitos setores do comércio em que os cheques também são necessários. Leitores do The New York Times escreveram para reclamar sobre ter que escrever cheques para diversos fins como taxas de associações de moradores e cortes de cabelo, além de exposições de cães e, ocasionalmente, apólices de seguro de cuidados de longo prazo.

Algumas pessoas realmente gostam de pagar dessa forma, embora citem muitos motivos diferentes para isso. Sentimentos, taxas e medo desempenham papeis que levam à essa preferência.

Em resumo, é complicado, então não nos livraremos dos cheques tão cedo. Aqui estão algumas das principais razões.

Aperto de mão (ou um abraço)

"Os cheques são realmente um sinal cultural fundamental do comércio baseado em relacionamentos", diz Scott Anchin, vice-presidente de risco operacional sênior e política de pagamentos da Independent Community Bankers of America, que quer reduzir o número de pagamentos por cheque. "É quase como um aperto de mão."

Considere uma arrecadação na igreja. Um formulário poderia ser preenchido para pagar com cartão de crédito, mas há um ritual associado a escrever um cheque no momento. "Eu quero sentir o ato de doar", diz Anne Thomas, 65, moradora de State College, na Pensilvânia, que trabalha e faz voluntariado em igrejas.

Depois, também há os presentes. Enviar dinheiro por uma plataforma de pagamento digital, como Venmo, parece o oposto de um abraço mesmo que inclua emojis, e cartões-presente podem ser um incômodo para usar. Se você está enviando um cartão pelo correio com um presente em dinheiro, um cheque pode parecer a melhor opção.

Medo

Para cada pessoa que foi vítima de fraude com cheques, há outra que encontra golpistas na internet.

Basta um encontro com alguém mal-intencionado no Venmo ou serviços de pagamento semelhantes, como PayPal ou Zelle—e qualquer luta resultante para recuperar o dinheiro perdido—pode ser suficiente para empurrar as pessoas de volta ao papel. E, dado o alto volume de violações de segurança, muitas pessoas evitam armazenar suas informações bancárias em algum site aleatório apenas para facilitar o pagamento de taxas algumas vezes por ano.

Se você é novo em pagamentos online, o medo de adicionar um zero errado ou perder um pagamento por causa de um clique errado pode superar o incômodo e o risco de fraude associados aos cheques.

Simplicidade

É aqui que entram as taxas incômodas de associações de moradores. Imagine que a sua associação de moradores ou de condomínio é autogerida. Agora imagine que você é o tesoureiro este ano.

Você tem um emprego em tempo integral e gosta de ver a família e os amigos. Depois, há hobbies, e nenhum desses hobbies inclui se aprofundar em sistemas de pagamento eletrônico no único banco local que está disposto a hospedar a conta da sua associação sem cobrar taxas, ou pesquisar outras opções.

Afinal, há apenas 10 proprietários em sua associação hipotética. Assim, é mais simples se as pessoas pagarem por cheque.

O impasse dos 3%

Rebecca Symmes, 71, acabou de se mudar para Delaplane, na Virgínia, e está de olho na aposentadoria e na reforma de seu terreno. Para isso, ela precisava de cortadores de grama, tratores, trituradores de madeira e outros equipamentos.

Os fornecedores locais estavam aceitando bem ela pagar com cartão de crédito, o que lhe daria milhas aéreas, mas queriam cobrar uma taxa. "As taxas acabaram sendo quase o mesmo preço uma passagem aérea", diz Rebecca. Em vez disso, ela escreveu cheques, porque eles não custam nada.

"O que muitos usuários de cartões de crédito e débito não percebem é que o fornecedor está pagando por seus pontos de recompensas de viagem e cashbacks através das taxas cobradas pelas empresas de processamento", diz Laura Bair, 61, cabeleireira em Santa Fé, no Novo México.

Depois de um encontro particularmente ruim com um dos processadores, Bair abandonou o cartão e, agora, só aceita dinheiro ou cheques.

O empurrão de US$ 1,50

No Condado de Queen Anne, em Maryland, o custo do serviço para processar um pagamento com cartão de crédito é uma taxa fixa de 2,95%. Se você quiser usar o que o condado chama de e-checks para pagar diretamente de sua conta bancária, custa US$ 1,50.

Mas pagar com um cheque tradicional é gratuito, menos o selo postal e qualquer valor que você atribua ao tempo necessário para encontrar seu talão de cheques e um envelope.

O que explica a sobretaxa para ajudar os cobradores a evitar cheques de papel ou taxas de cartão de crédito? Michael A. McCreary, diretor e gerente de operações de Atlanta na Pure Property Management, culpa os provedores de serviços financeiros por aumentarem as taxas que cobram de empresas como a dele. Mas ele também entende por que eles cobram essas taxas, e seus residentes pagam US$ 2,95 para fazer pagamentos eletrônicos diretamente de suas contas bancárias.

"Embora muito possa ser administrado por softwares, é necessário haver seres humanos envolvidos, então isso é uma despesa em ambos os lados", diz ele.

Influência (e quem a tem)

Se você tem dinheiro para doar, você dá as cartas, então instituições de caridade e congregações religiosas, se puderem evitar, não querem dizer como você deve fazer doações.

"Nunca vamos fechar as pessoas como estão fazendo na Target", disse Rick Cohen, diretor de comunicações e de operações do National Council of Nonprofits (entidade que abriga instituições de caridade sem fins lucrativos). "O custo de processar e depositar o cheque é menor do que o custo de não receber a doação."

Os trabalhadores podem estar acostumados com seus métodos. Se você está instalando fios elétricos como autônomo há 30 anos e os cheques funcionam bem, por que precisaria se preocupar com o Venmo? E quando os encanadores aparecem para consertar o vaso sanitário entupido em seu apartamento com um único banheiro, eles dão as cartas, não você.

Depois, considere pessoas como as que Paul Buckley emprega.

Buckley, 58, mora em um território de 2,4 mil hectares no Condado de Bucks, Pensilvânia, e uma jardineira ajuda a domar a terra algumas horas por semana. Ela não conhece Venmo ou Zelle, e nem quer conhecer, disse Buckley por e-mail.

Ela costumava aceitar apenas dinheiro, o que significava uma ida ao banco para quem quisesse pagá-la. Então, quando ela "finalmente disse ‘OK, aceitarei cheques’, foi como, ‘Aleluia!’"

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