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BCs da América Latina elevam cautela mesmo com Fed indicando corte de juros em setembro

Brasil e Chile mantêm taxa de juros no mesmo patamar, e Colômbia reduz em 0,5 ponto percentual

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Maria Eloisa Capurro Matthew Malinowski
Bloomberg

Três bancos centrais latino-americanos sinalizaram preocupação com a inflação para justificar suas posturas cautelosas nas decisões de juros dessa quarta-feira (31), em contraste com a crescente confiança do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) de que o início de seu ciclo de flexibilização está próximo.

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central do Brasil manteve a Selic inalterada pelo segundo mês consecutivo, alertando para novos riscos de piora da inflação.

O banco central do Chile surpreendeu a maioria dos economistas ao interromper seu ciclo de flexibilização, reiterando que a maior parte da redução já foi feita. E na Colômbia, a autoridade monetária entregou um corte de 0,50 ponto percentual, mas a votação dividida indicou resistência.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil - Brendan McDermid/Reuters

Enquanto isso, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, indicou que o primeiro corte de juros do ano pode vir em setembro, diante de mais progresso em direção à sua meta de inflação de 2%.

O tão esperado início dos cortes do Fed deve ajudar os bancos centrais latino-americanos, ao aliviar a pressão sobre o câmbio. Mas as decisões e comunicados de quarta-feira deram o sinal mais forte até agora de que a flexibilização nos EUA por si só não será suficiente, diante de fatores como alta dos custos de serviços e tensões políticas.

No caso do Fed, "a expectativa para setembro foi completamente consolidada", disse Francisco Nobre, economista da XP Investimentos. "Na América Latina, os bancos centrais aumentaram a cautela."

O Copom, liderado por Roberto Campos Neto, manteve a Selic em 10,5% em uma decisão que era amplamente esperada. O colegiado informou que há riscos inflacionários em ambas as direções, mas que um câmbio persistentemente mais fraco, projeções de inflação acima da meta e custos de serviços criam riscos de alta para os preços.

Os dirigentes do BC chileno votaram unanimemente para manter a taxa básica em 5,75%, o que foi previsto por apenas quatro dos 20 analistas em uma sondagem da Bloomberg. A autoridade monetária disse que os recentes dados melhores do que o esperado para o núcleo da inflação se beneficiaram de fatores transitórios.

Na Colômbia, o banco central cortou os juros em meio ponto percentual, para 10,75%, em uma decisão dividida depois que uma aceleração da inflação enfraquecer o argumento para uma flexibilização mais rápida. O ministro das finanças Ricardo Bonilla, que ocupa um assento no conselho, acredita que o ritmo de alta dos preços ao consumidor terminará o ano perto de 5,5%, acima da meta de 3%.

As perspectivas de política monetária no Brasil, Colômbia e Chile podem mudar em setembro se o Fed for adiante com um corte de juros, avaliou Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs.

"Isso daria aos bancos centrais latino-americanos mais liberdade para calibrar a política monetária", disse ele. "Mas, em última análise, se esse for o caso, tudo dependerá do comportamento dos mercados de câmbio."

Para complicar ainda mais a situação, os BCs enfrentam pressão política de presidentes cada vez mais desesperados para impulsionar o crescimento e, em alguns casos, ações que alimentam diretamente a inflação.

"E ainda há incertezas quanto ao processo de flexibilização monetária nos EUA", disse Nobre, da XP. "Os mercados estão precificando três cortes este ano, mas isso pode ser otimista."

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