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Brasileiro aposta em carro híbrido, mudanças no IR de empresas e o que importa no mercado

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Victor Sena
São Paulo

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A hora do carro nacional?

Existe espaço no concorrido mercado de automóveis para uma fabricante brasileira finalmente ter sucesso? A empresa Lecar, do empresário Flávio Assis, aposta que sim.

A companhia anunciou a construção de sua primeira fábrica no Espírito Santo nesta quinta-feira (22) e deu detalhes sobre o carro Lecar 459, um híbrido.

Sonho grande. Para cavar espaço entre as gigantes estrangeiras, pensou primeiro em desenvolver um carro totalmente elétrico, com investimento nacional. Mas os planos mudaram nos últimos meses e a versão híbrida venceu.

↳ Um dos motivos é conquistar o brasileiro pela eficiência. A promessa é fazer o Lecar 459 alcançar 30 quilômetros com um litro de etanol.

↳ Também contou a mudança no setor em direção a esses carros que misturam energia elétrica e os combustíveis.

O carro. O estilo sedã do primeiro protótipo, ainda 100% elétrico, foi substituído por uma carroceria fastback, semelhante à adotada pelo Fiat de mesmo nome e por modelos como o BMW X6, o Mercedes GLE Coupé e o Audi Q3 Sportback.

A previsão é lançar o veículo daqui a dois anos, com início da fabricação previsto para agosto de 2026.

Sucesso à vista? A projeção para a participação de eletrificados (elétricos e híbridos) nas vendas do mercado nacional em 2030 é de 25%, segundo a consultoria Jato Dynamics. Na China, eles já são 50%.

↳ Em julho deste ano, 8,5% dos carros comprados eram eletrificados, segundo a associação Fenabrave.

Otimista. Em entrevista à Folha, o empresário Flávio Assis disse que a sua montadora terá capacidade para produzir 120 mil automóveis por ano, com geração de 1.500 empregos diretos e 3.000 indiretos na cidade capixaba de Sooretama.

O local foi escolhido após negociações com diversos estados, incluindo a tentativa frustrada de adquirir as antigas instalações da Ford na Bahia, hoje sob controle da chinesa BYD.

↳ Assis calcula um investimento de R$ 790 milhões no empreendimento.

Made in Brazil. O país foi o nono maior produtor de carros no mundo em 2023, com mais de 2,3 milhões de unidades. Uma parte delas destinada à exportação para vizinhos. Essa indústria, no entanto, é basicamente de companhias estrangeiras.

Veja as marcas com mais vendas no varejo, de janeiro a julho (em %), de acordo com a Fenabrave.

  1. Volkswagen, com 13,4%
  2. General Motos, com 13,0%
  3. Fiat, com 11,8%
  4. Hyundai, com 10,26%
  5. Toyota, com 10,01%

Sim, mas… O país não tem uma montadora nacional de sucesso. A Gurgel foi uma das poucas que alcançou força relevante décadas atrás, mas encerrou as atividades nos anos 90.

↳ Até há uma indústria de ônibus e caminhões, principalmente no Sul, mas que usa chassis importados. Entre elas estão a gaúcha Marcopolo e a catarinense Tac Mortos.

Dinheiro a caminho. Com grande volume de verba em caixa, as grandes marcas do mundo prometem investimentos no Brasil. Elas têm engatilhado R$ 125 bilhões em investimentos até 2031, divulgados nos últimos meses.

Entre os motivos estão o forte setor de biocombustíveis, o parque industrial já instalado que serve como plataforma para exportações e o mercado interno em ascensão.

R$ 3 bilhões da China. Um dos anúncios mais emblemáticos foi o da chinesa BYD, que está transformando a antiga fábrica da Ford para a produção dos modelos no Brasil.

↳ O movimento é reflexo de barreiras nos mercados americanos e europeu, além do foco no consumidor de países emergentes.

↳ A alemã Volkswagen detalha nesta sexta-feira um investimento de R$ 13 bilhões, com expansão da produção em São Paulo.

Idas e vindas

O diretor de Política Monetária do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, passou essa quinta-feira (22) sob os olhos atentos de agentes do mercado financeiro.

Cotado para comandar a instituição em 2025, ele participou de dois eventos em São Paulo e as falas no primeiro deles foram vistas como motivo para a alta do dólar no dia.

Entenda: em evento da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), disse discordar de analistas que afirmam que o Banco Central está numa situação difícil devido aos discursos de seus diretores, incluindo ele próprio.

Essa situação difícil seria uma espécie de "obrigação" com a elevação dos juros daqui para frente porque as falas citaram essa possibilidade várias vezes. Galípolo, porém, explicou que todas as opções estão na mesa.

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Gabriel Galipolo - Gabriela Biló/Folhapress

Reflexos. A discordância foi vista como um recuo no seu compromisso de aumentar as taxas caso haja risco de inflação.

↳ O dólar reagiu e fechou o dia com alta de quase 2%, a R$ 5,59.

Panos quentes. Mais tarde, Galípolo disse que se expressou mal e foi mal-interpretado. No entanto, reiterou a posição de que não vê a instituição numa posição difícil, como se tivesse que cumprir um compromisso.

A avaliação de que os juros irão subir pelo menos 0,25 ponto percentual na próxima decisão, em setembro, ganhou força entre agentes financeiros.

O mercado financeiro tem analisado de perto declarações de Galípolo e do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, em busca de sinalizações.

↳ Na terça-feira (20), por exemplo, um aparente desencontro entre os dois gerou ruídos e alta no dólar.

↳ O pano de fundo são as projeções de inflação, em alta há semanas, e o dólar valorizado.

O patamar. Levantamento feito nesta semana pela Folha com 24 instituições mostra que 6 esperam uma primeira elevação da Selic em setembro, de 0,25 pontos. Os juros básicos no Brasil estão hoje em 10,50% ao ano.


Mudanças no IR de empresas

O ministro Fernando Haddad entregou ao presidente Lula, nas últimas semanas, uma série de propostas para alterar o Imposto de Renda. Algumas mudanças podem acontecer ainda em 2024.

↳ O objetivo do governo é realizar uma reforma ampla dos tributos no ano que vem, mas uma parte pode ser adiantada para ajudar na elaboração do orçamento do próximo ano.

O que está na mesa: as mudanças mais imediatas focam nas empresas, com a cobrança do IRPJ (Imposto de Renda para Pessoa Jurídica).

O principal objetivo desta segunda reforma tributária não é aumentar a arrecadação, mas tornar a cobrança mais justa no Brasil.

↳ Algumas brechas permitem, por exemplo, que companhias reduzam os impostos pagos em até 50%.

Principais propostas:

  • Fim dos JCPs (Juros sobre Capital Próprio), espécie de dividendo pago aos investidores que permite reduzir impostos sobre o lucro;
  • Mudanças no tributo CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido).

A escolha de quais propostas serão incluídas no Orçamento dependerá da avaliação política do Palácio do Planalto.

Mas… A maioria delas deve ficar para depois das eleições ou para 2025.

Vai ter mudança para pessoas físicas? Provavelmente só em 2025. O objetivo também é deixar o sistema mais igualitário.

Hoje, um brasileiro que ganha R$ 4.000 tem a mesma alíquota de contribuição que alguém com renda de R$ 4 milhões, considerando o percentual após benefícios e isenções.

Principais propostas:

  • Volta da cobrança de imposto sobre dividendos pagos aos investidores, isentos desde os anos 90;
  • Atualização das faixas de cobrança do IR, com foco nas rendas mais altas;

Tira daqui, põe ali. A Associação Nacional dos Auditores da Receita Federal (Unafisco) estima que a tributação de lucros e dividendos a pessoas físicas e jurídicas poderia render R$ 160,1 bilhões em 2025.

A Unafisco sugere que essa receita viabilize, por exemplo, a isenção de impostos para salários de até R$ 5 mil, uma promessa de campanha de Lula em 2022.

Em evento no Paraná, na última semana, o presidente mencionou o desejo de implementar essa taxação.


Para ouvir

  • "Além do algoritmo", episódio 3, 30 min., disponível no site do Jornal da USP, Spotify e Apple Podcasts

A China é considerada a fábrica do mundo e está na cola dos Estados Unidos como segunda maior economia. Mas o país tem dificuldades para alavancar a inteligência artificial.

O terceiro episódio do podcast "Além do Algoritmo", do Jornal da USP (Universidade de São Paulo), discute como o regime político do país trava o avanço da inovação e da IA.

O jornalista Marcello Rollemberg conversa com o sociólogo e pesquisador Glauco Arbix.

Corrida pela IA. As americanas OpenAI e Google saíram na frente e, hoje, são as líderes mundiais no segmento.

Entre as chinesas, ByteDance, Alibaba e Moonshot lutam para criar ferramentas que recebam aval do governo.

↳ O órgão estatal Administração do Ciberespaço da China determina que as tecnologias desenvolvidas "incorporem valores socialistas centrais".

O relatório Global Innovation Index 2023 aponta a Suíça como a líder mundial em inovação, seguida por Suécia e Estados Unidos. A China está na 12ª posição.

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