Descrição de chapéu Governo Milei

Congresso argentino amplia reajuste de aposentadorias, em derrota para Milei

Presidente ultraliberal promete vetar projeto aprovado com ampla maioria pelos senadores

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Buenos Aires

Em uma semana dura para o governo de Javier Milei no Congresso da Argentina, o Senado de maioria opositora aprovou um projeto que amplia a recomposição das aposentadorias e altera a fórmula de cálculo dos benefícios. O presidente promete vetá-lo.

O texto aprovado nesta quinta-feira (22) prevê um reajuste adicional de 8,1% nas aposentadorias, a ser somado com a recomposição de 12% anteriormente anunciada pela Casa Rosada, para equiparar o benefício à inflação de janeiro passado, a mais alta deste ano, de 20,6% mensais.

Aposentados carregam cartaz com frase 'aposentados da geração dos anos 1970' durante protesto contra reformas econômicas nos arredores do Congresso Nacional, em Buenos Aires
Aposentados carregam cartaz com frase 'aposentados da geração dos anos 1970' durante protesto contra reformas econômicas nos arredores do Congresso Nacional, em Buenos Aires - Luis Robayo - 8.mai.24/AFP

O governo já havia alterado a fórmula de aposentadorias para indexá-las à inflação mensal, mas agora os legisladores aprovaram que haja um piso equivalente a pelo menos 1,09 vez o valor da cesta básica, divulgado todos os meses pelo instituto de estatísticas argentino.

Por último, eles também aprovaram que, além de indexada à inflação, as pensões precisam levar em conta salários formais médios da população argentina, de modo que, se a taxa da inflação for inferior a esses valores, os aposentados passem a receber 50% dessa diferença por meio de um reajuste semanal.

O que surpreendeu foi o peso da votação no Senado.

Foram 61 votos a favor, oito contra e uma abstenção. A parcela do rechaço é formada pelos sete senadores governistas, do Liberdade Avança, e uma legisladora do Proposta Republicana, partido do ex-presidente Maurício Macri que, em peso, aprovou o projeto que já havia recebido luz verde da Câmara dos Deputados.

A economia argentina vive um dos maiores ajustes econômicos de sua história. As desacelerações consecutivas na inflação mensal (o índice foi a 4% em julho passado), fruto da redução da emissão de moeda, não se refletem ainda na vida do cidadão, que vê seu poder de compra reduzido e o consumo caindo consecutivamente.

Milei reiteradamente disse que vetaria a medida, afirmando que um plano como esse afetaria o equilíbrio fiscal que tenta estabelecer no país. Mais cedo, seu porta-voz, o também economista Manuel Adorni, disse que "tudo que vá contra o equilíbrio fiscal e das contas públicas, que é a coluna vertebral desse governo, será vetado".

Cálculos feitos pela chamada Oficina de Orçamento do Congresso argentino estimaram que alterações como a aprovada nesta quinta-feira representariam um gasto adicional em aposentadorias ao redor de 0,44% do PIB (Produto Interno Bruto).

A semana tem sido amarga nos debates no Congresso para Milei. Nesta quarta (21) a Câmara invalidou um decreto do governo que incrementava em 100 bilhões de pesos (US$ 105 milhões) a verba da Secretaria de Inteligência do Estado, a Side.

O órgão tem sido visto como central por Milei em seu discurso de combate ao narcotráfico e à violência. O porta-voz Adorni disse que os deputados "votaram na contramão do interesse das vítimas do narcotráfico, do terrorismo e do tráfico de pessoas".

As duas votações também aprofundaram a crise entre o governo Milei e o Proposta Republicana, partido de Macri e principal aliado do nanico Liberdade Avança no Congresso, com quem o governo invariavelmente conta para fazer avançar suas medidas.

O ex-presidente tem manifestado insatisfação com Milei. Patricia Bullrich, ministra da Segurança de Milei que pertence à legenda, criticou seus correligionários por votarem contra os desejos do governo no debate da Side e agora das aposentadorias.

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