Dólar sobe e Bolsa hesita, com foco em sinalizações sobre juros no Brasil e nos EUA

Agentes financeiros aguardam mais informações para balizar expectativas sobre a política monetária do BC e do Fed

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São Paulo

O dólar subia nesta quarta-feira (28), com investidores à espera de mais dados econômicos dos Estados Unidos e do Brasil para balizar expectativas sobre juros.

Na cena doméstica, estão no radar falas de Roberto Campos Neto, presidente do BC (Banco Central), o detalhamento da agenda de revisão de gastos do Ministério do Planejamento e o relatório de emprego Caged de julho.

Às 14h06, a moeda norte-americana avançava 0,75%, a R$ 5,544 na venda, em linha com o avanço no exterior. Já a Bolsa avançava 0,09%, aos 136.909 pontos, oscilando entre os sinais enquanto as ações da Petrobras avançavam e os investidores realizavam lucros.

Notas de dólares enroladas ao lado de gráfico
Na terça-feira, o dólar fechou em alta de 0,24%, aos R$ 5,502, e a Bolsa caiu 0,08%, aos 136.775 pontos, encerrando a sequência de recordes históricos do Ibovespa - Dado Ruvic/Reuters

Os eventos internos do Brasil eram destaque nesta quarta, em meio à agenda esvaziada no exterior.

Em palestra na conferência anual do banco Santander, Roberto Campos Neto disse que os dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) de agosto, divulgados na quarta-feira, vieram melhores do que números anteriores, mas não fornecem "conforto" para o BC na briga contra a alta de preços.

O indicador, considerado uma "prévia" da inflação oficial do país, medida pelo IPCA, desacelerou em agosto para 0,19%, em linha com o esperado por economistas. Em 12 meses, a inflação ficou em 4,35%, um pouco abaixo do teto da meta do BC de 4,5%.

Ao analisar o cenário, Campos Neto afirmou que há uma desancoragem adicional nas expectativas de inflação e reiterou que o BC "vai fazer o que for preciso para atingir a meta" de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

A desaceleração acontece em meio à expectativa crescente sobre os próximos passos da política monetária do BC. Membros da autarquia têm levantado a possibilidade de elevar a taxa Selic na próxima reunião, em setembro, para trazer a inflação de volta ao centro da meta.

Atualmente em 10,50% ao ano, a taxa de juros é o principal instrumento do BC para o controle inflacionário.

Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e favorito à presidência da autarquia ao término do mandato de Campos Neto, reforçou em evento na segunda-feira que o BC está em posição conservadora e "dependente de dados" para futuras decisões sobre juros, com "todas as alternativas na mesa" para a reunião de setembro do Copom (Comitê de Política Monetária).

Nas últimas semanas, o mercado tem analisado de perto declarações de Galípolo e do atual chefe do BC em busca de sinalizações sobre a política de juros. Na terça-feira passada (20), um aparente desencontro entre os dois gerou alta no dólar.

Campos Neto endereçou os ruídos na palestra desta quarta. "Entendemos que não ter guidance [indicação de decisões futuras] às vezes eleva um pouco a volatilidade, mas tem momentos que dar guidance tem valor negativo. Entendemos que existe ansiedade no mercado neste momento e que o mercado tem prêmio de risco em relação à comunicação dada, que foi fruto de convergência da diretoria", disse.

As falas deixaram "o mercado ainda receoso em relação à trajetória dos juros, pensando que a Selic pode demorar um pouco mais a cair", avalia Davi Lelis, especialista e sócio da Valor Investimentos.

Os agentes financeiros têm precificado um aumento na Selic até o final do ano. Com o IPCA-15, o contrato de juros futuros para janeiro de 2025, no curtíssimo prazo, subia para 10,920% —ou seja, a aposta é que haverá aperto monetário nas reuniões deste segundo semestre.

Agora, o foco se volta aos números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que podem trazer pistas sobre a temperatura do mercado de trabalho e serão conhecidos à tarde.

O Ministério do Planejamento e Orçamento ainda detalhou a agenda de revisão de gastos em entrevista coletiva. O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prevê poupar R$ 18 bilhões com o "pente-fino" de benefícios da Previdência e da assistência social em 2025.

As preocupações dos investidores com o compromisso fiscal do governo, apesar de silenciadas nas últimas semanas, têm sido um fator importante no câmbio este ano.

No exterior, os mercados têm adotado cautela antes de mais dados sobre a economia dos Estados Unidos, diante das expectativas em torno das decisões do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).

Em discurso no simpósio de Jackson Hole na sexta-feira, Jerome Powell, presidente da autoridade monetária, afirmou que "chegou a hora" de reduzir os juros, confirmando as apostas de que o ciclo de afrouxamento provavelmente terá início na próxima reunião da autarquia.

Tanto o Fed quanto o Copom se reunirão nos dias 17 e 18 de setembro.

Agora, investidores aguardam a divulgação de uma nova bateria de dados econômicos para calibrar as expectativas em torno do tamanho da redução. Na ferramenta CME FedWatch, 65,5% dos operadores enxergam probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual, enquanto 34,5% apostam no de maior magnitude, de 0,50 ponto.

A principal divulgação da semana acontece na sexta-feira com o relatório do índice PCE de julho, o indicador favorito de inflação do Fed. Na quinta, dados do PIB (Produto Interno Bruto) podem indicar a temperatura da economia americana.

Na agenda desta quarta, a divulgação do balanço da Nvdia era destaque. "Sendo a empresa mais influente no mercado de ações mundial, qualquer desvio em relação às projeções pode causar uma volatilidade substancial, especialmente considerando o peso expressivo da Nvidia nos índices dos Estados Unidos", dizem os economistas da Guide Investimentos em nota a clientes.

"Os investidores se preparam para grandes flutuações no preço das ações da empresa, com indicadores do mercado de opções sugerindo uma possível variação de 10% em qualquer direção após a divulgação dos resultados."

Com Reuters

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